Sabia que o calor afeta a saúde do seu coração?
São várias as implicações que o aumento da temperatura pode ter na saúde cardiovascular. Saiba quem está em maior risco e a que sintomas deve estar atento.
À medida que a temperatura ambiente sobe, aumentam também as preocupações com a saúde da população, razão por que são muitas as chamadas de atenção para a questão do aquecimento global. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas causem um acréscimo de 250 mil mortes por ano, o que inclui os óbitos relacionados com o stress térmico, ou seja, quando o corpo não consegue adaptar-se ao excesso de calor do meio envolvente.
Em concreto, o aumento da temperatura destaca-se como um importante fator de risco cardiovascular, nomeadamente, enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Um estudo levado a cabo por Bunker et al., em 2016, mostrou que a subida de apenas 1 °C contribuiu para um aumento de 4,15 % da mortalidade cardiovascular, e de 2,59 % da mortalidade cerebrovascular na população com mais de 65 anos. Outra investigação, conduzida por Sun et al., em 2018, permitiu observar um aumento de 1,6 % das hospitalizações devido a enfarte do miocárdio também na sequência da subida de 1 °C.
Qual a influência do calor nos problemas cardíacos?
O corpo humano possui um centro de regulação da temperatura, recorrendo a diversos mecanismos para conseguir manter um equilíbrio e estando o coração envolvido em todos esses processos.
Como resposta ao aumento da temperatura, os vasos sanguíneos dilatam-se e a tensão arterial baixa, o que leva a que o coração necessite de trabalhar mais para conseguir bombear o sangue. Isto pode aumentar o risco de eventos cardiovasculares, como enfarte do miocárdio, AVC, arritmia cardíaca (batimento cardíaco irregular) e insuficiência cardíaca, sobretudo em pessoas com problemas cardiovasculares previamente diagnosticados.
Por outro lado, a transpiração contribui igualmente para baixar a temperatura corporal, mas também este processo implica uma sobrecarga do sistema cardiovascular. Além disso, com o suor há perda de água, sódio, potássio e outros sais minerais necessários ao funcionamento saudável do organismo.
É durante as chamadas “ondas de calor“ que estes efeitos tendem a manifestar-se de forma mais expressiva, já que as elevadas temperaturas se mantêm durante vários dias consecutivos, impedindo o funcionamento normal do organismo e exigindo um esforço extra e continuado do coração.
Quem está em maior risco?
O calor excessivo pode ter impacto na qualidade de vida da maior parte das pessoas, mas há grupos especialmente mais suscetíveis de sofrer complicações cardíacas como resultado da subida da temperatura:
- As crianças e os idosos, pois têm maior dificuldade em regular a sua temperatura corporal.
- Os muito idosos (mais de 75 anos), em especial os que vivem sozinhos ou muito isolados.
- As pessoas com problemas cardiovasculares prévios, como doença coronária, hipertensão, arritmias ou insuficiência cardíaca.
- As pessoas com outras doenças crónicas, nomeadamente, diabetes, insuficiência renal, patologia respiratória, doenças de Alzheimer ou de Parkinson, as que apresentam um sistema imunológico comprometido, e as que tomam medicamentos que interferem com a capacidade de regulação da temperatura corporal.
- As grávidas, as pessoas dependentes ou com mobilidade reduzida, os trabalhadores com atividade no exterior e todos os que, por razões socioeconómicas ou outras, não têm forma de se proteger do calor excessivo.
Como proteger-se (e ao seu coração) nos dias quentes
Há vários comportamentos fáceis de colocar em prática nos dias de maior calor para reduzir o impacto das temperaturas elevadas na saúde:
- Permanecer em ambientes frescos e, se possível, climatizados.
- Beber água ou sumos naturais com regularidade (mesmo sem sentir sede), evitando o consumo de bebidas quentes, alcoólicas, gaseificadas, com cafeína e ricas em açúcar.
- Apostar em refeições mais frequentes e leves, como saladas, as quais implicam menor dispêndio de energia corporal no processo de digestão, além de que são refrescantes e incluem alimentos com maior teor de água, vitaminas e sais minerais.
- Evitar a exposição direta ao sol nas horas de maior calor, nomeadamente entre as 11 e as 17 horas.
- Usar roupas leves, soltas e de cor clara, preferencialmente de fibras naturais, como o algodão, e utilizar chapéu e óculos de sol.
- Evitar atividades (profissionais e de lazer) que exijam esforço físico no exterior.
- Fechar portas, janelas e estores nas horas de maior exposição solar, para manter a habitação o mais fresca possível.
- Permanecer na divisão da casa mais fresca, especialmente para dormir.
- Arejar a casa nas horas de menor exposição solar e quando estiver mais fresco no exterior.
- Desligar luzes e equipamentos elétricos desnecessários, e evitar o uso do forno para cozinhar.
- Se estiver mais fresco na rua e a melhor opção for sair de casa, procurar sombras, usar protetor solar e levar uma garrafa de água para manter a hidratação.
- Evitar a prática de exercício físico extenuante; se não for possível evitar, optar por praticá-lo nas primeiras horas da manhã.
- Optar por banhos ou duches frescos ou usar compressas, toalhas ou esponjas molhadas em água fria para baixar a temperatura corporal, sobretudo de crianças e idosos.
Atenção a estes sintomas
É importante ter atenção aos seguintes sinais e sintomas durante uma onda de calor:
- Dores de cabeça
- Tonturas
- Fraqueza
- Náuseas, vómitos ou ambos
- Desmaio
- Ansiedade
- Sede intensa
- Suor abundante
- Pele fria e húmida
- Cãibras musculares
- Pulso fraco e rápido
- Respiração rápida e superficial
O que fazer?
Perante estes sintomas, a pessoa deve deslocar-se imediatamente para um local fresco, beber muita água, deitar-se e levantar ligeiramente os pés, e ainda refrescar a pele (por exemplo, recorrendo a compressas frias ou a cubos de gelo), devendo ser averiguada a necessidade de procurar ajuda médica.
Outros sintomas podem ser indicativos de uma situação mais grave, conhecida como golpe de calor ou insolação, e constituem uma emergência médica:
- Pele muito quente e seca
- Ausência de transpiração
- Pulso forte e rápido
- Confusão mental e/ou inconsciência
- Febre alta
- Dor de cabeça latejante
- Náuseas, vómitos ou ambos
- Fraqueza e/ou fadiga
- Estado mental ou comportamento alterado
O que fazer?
Perante os sintomas de golpe de calor, deve recorrer imediatamente a um serviço de Atendimento Permanente. Entretanto, há necessidade de manter a pessoa num local fresco e à sombra, arrefecê-la e hidratá-la.
American Heart Association, maio de 2023
British Heart Foundation, maio de 2023
Bunker, A. et al. (2016), “Effects of Air Temperature on Climate-Sensitive Mortality and Morbidity Outcomes in the Elderly; a Systematic Review and Meta-analysis of Epidemiological Evidence”, EBioMedicine, 6:258-68., maio de 2023
Centers for Disease Control and Prevention, maio de 2023
Direção-Geral da Saúde, maio de 2023
European Society of Cardiology, maio de 2023
Fundação Portuguesa de Cardiologia, maio de 2023
Harvard Medical School, maio de 2023
Organização Mundial da Saúde, maio de 2023
Sun, Z. et al. (2018), “Effects of ambient temperature on myocardial infarction: A systematic review and meta-analysis”, Environ Pollut., 241:1106-14., maio de 2023