Gravidez e calor: saiba quais os cuidados a ter

Gravidez
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Há cuidados que ajudam a melhor suportar o calor e a evitar complicações no verão durante a gravidez.

Temperaturas elevadas no verão podem ter implicações no bem-estar da mulher grávida. Além disso, o facto de, nesta altura do ano, haver maior probabilidade de alterar rotinas, viajar e experimentar comidas diferentes, pode também implicar uma maior atenção por parte das grávidas, de modo a que a gestação decorra sem problemas. Fique a conhecer alguns dos cuidados a ter em conta.

 

Calor excessivo

O aumento da temperatura pode contribuir para que as mulheres grávidas se sintam desconfortáveis, estando mais sujeitas a sofrer de desidratação, fadiga, esgotamento pelo calor, desmaios ou até insolação.

Por esse motivo, a Direção-Geral da Saúde inclui as grávidas nos grupos de risco a que é necessário prestar especial atenção durante as chamadas “ondas de calor”.

Embora a interferência do calor se sinta mais à medida que a gravidez se aproxima do final, sabe-se que quando a elevada temperatura corporal (hipertermia) ocorre durante o primeiro trimestre de gravidez pode ter consequências graves - há evidência de que uma temperatura corporal acima de 39,2 °C, nas primeiras seis a oito semanas de gestação, aumenta ligeiramente a probabilidade de o bebé desenvolver algum tipo de malformação. Como tal, importa prestar atenção à subida da temperatura ambiente ao longo de toda a gestação.

 

O que fazer?

  • Evitar a exposição solar direta, em especial entre as 11 e as 17 horas.
  • Manter a habitação o mais fresca possível, fechando portas, janelas e estores durante as horas de maior exposição solar e arejando durante o período noturno.
  • Quando as temperaturas se mantêm muito elevadas durante vários dias, é importante permanecer em ambientes frescos e arejados.
  • Se a temperatura corporal começar a subir é necessário baixá-la, nomeadamente, através de um duche de água tépida ou fria (mas evitando mudanças bruscas de temperatura), ou refrescando o corpo com água fria.
  • Recorrer a água em spray para refrescar a face e o corpo mais rapidamente.
  • Optar por roupas largas e de cor clara, de preferência de fibras naturais, como o linho ou o algodão.
  • Ao ar livre, usar sempre chapéu de abas largas.
  • Escolher as horas de menor calor para viajar de carro.
  • Não permanecer dentro de viaturas estacionadas ao sol.

 

Desidratação

O metabolismo altera-se durante a gravidez, verificando-se mudanças na forma como os fluidos são geridos pelo organismo e como a temperatura é regulada. Além disso, a maior parte dos órgãos tem de consumir mais energia, tendo em conta o esforço extra que lhes é solicitado. Como tal, a probabilidade de desidratação é maior durante a gravidez. No verão, esta situação pode ocorrer com maior frequência, devido às temperaturas elevadas e ao aumento de transpiração.

A desidratação da grávida pode levar a complicações graves, como defeitos do tubo neural, nível reduzido de líquido amniótico, produção inadequada de leite materno, problemas no desenvolvimento do feto e início prematuro do trabalho de parto.

 

O que fazer?

  • Beber, pelo menos, oito a 12 copos de água por dia.
  • Diminuir ou suprimir por completo a cafeína, devido ao seu efeito diurético (estimula a produção de urina).
  • Beber sumos de fruta natural sem adição de açúcar.
  • Moderar o exercício físico.
  • Preferir locais frescos e arejados.

 

Efeitos do sol na pele

A exposição solar pode agravar o cloasma (hiperpigmentação da pele do rosto) devido às alterações hormonais características da gravidez. Habitualmente também designado por “pano”, caracteriza-se pela presença de manchas acastanhadas sobretudo na testa, por cima do lábio superior, nas bochechas e no queixo. Estima-se que até 90 % das mulheres poderão apresentar cloasma durante a gravidez.

Uma vez que a exposição solar contribui para piorar esta condição, recomenda-se especial atenção na proteção da pele das grávidas no período de verão.

 

O que fazer?

  • Usar sempre um protetor solar específico para o rosto e adequado ao tipo de pele, com fator de proteção elevada (FP50+), renovando a aplicação com frequência e sempre que transpirar ou molhar a face.
  • Usar chapéu de abas largas sempre que passar tempo ao ar livre.
  • Proteger a pele de todo o corpo da ação dos raios solares com um fator de proteção elevado (igual ou superior a FP30+). A sua aplicação deve ser renovada a cada duas horas (quando há exposição solar) e depois de ter ido à água ou de transpirar muito.
  • Usar peças de roupa com mangas e pernas, de cores claras e de algodão ou linho, para proteger a pele do sol.

 

Pés e tornozelos inchados

O inchaço (ou edema) dos pés e tornozelos é uma situação muito frequente durante a gravidez, que tende a piorar com o calor. Pode verificar-se desde o início da gestação, mas o mais comum é acentuar-se no terceiro trimestre.

Tal acontece sobretudo porque o corpo retém mais água durante a gestação e, ao longo do dia, a água tende a acumular-se nos membros inferiores, particularmente se a mulher passar muitas horas em pé ou sentada ou ainda se as temperaturas estiverem elevadas. Também o gradual aumento do peso do útero vai sobrecarregar a pressão exercida sobre a pélvis e as pernas, contribuindo para o inchaço dos pés e tornozelos.

 

O que fazer?

  • Reduzir os períodos de tempo em que permanece de pé ou sentada.
  • Caminhar diariamente.
  • Aumentar a quantidade diária de água ingerida.
  • Recorrer a almofadas para elevar as pernas ao fim do dia ou durante a noite.
  • Seguir uma alimentação saudável, sem excesso de sal nem açúcar e evitando bebidas com gás.
  • Preferir sapatos confortáveis.
  • Evitar meias ou calças muito apertadas na zona dos tornozelos.
  • Esticar e girar os pés várias vezes para reduzir o inchaço na zona dos tornozelos.

 

Obstipação e hemorroidas

As duas situações são frequentes na gravidez, podem surgir em simultâneo (ainda que nem sempre) e tendem a piorar no verão. As alterações hormonais ocorridas durante a gravidez, a ingestão de ferro, bem como o peso do bebé em desenvolvimento no útero, são as principais causas da obstipação, que tende a afetar 16 a 39 % das grávidas, especialmente no terceiro trimestre.

A obstipação é um dos fatores que poderá levar ao surgimento de hemorroidas durante a gravidez, a que se juntam outros fatores como a pressão do feto exercida sobre as veias hemorroidárias e o aumento de peso.

 

O que fazer?

  • Beber muita água.
  • Praticar uma dieta rica em fibra.
  • Evitar comida picante.
  • Praticar atividade física adequada à gravidez.
  • Fortalecer a musculatura do pavimento pélvico.
  • Evitar permanecer muito tempo de pé ou sentada.

 

Doenças gastrointestinais

As gastroenterites tendem a ser mais frequentes no tempo quente, devido à deterioração de alimentos, provocada por vírus, bactérias ou parasitas. Além disso, nas férias, podem ser mais comuns as viagens para locais onde os cuidados de higiene alimentar nem sempre são eficazes, ou onde a água da torneira não é segura, o que faz aumentar os casos de doenças gastrointestinais, nomeadamente entre as grávidas.

 

O que fazer?

  • Optar por comida cozinhada, bem passada.
  • Evitar saladas e vegetais crus.
  • Evitar marisco e moluscos crus.
  • Nos países onde a água canalizada poderá não ser segura, optar por água engarrafada e recusar os cubos de gelo nas bebidas e evitar sumos naturais.
Fontes:

American College of Obstetricians and Gynecologists, julho de 2023

American Pregnancy Association, julho de 2023

Centro Hospitalar de Leiria, julho de 2023

Cleveland Clinic, julho de 2023

INEM, julho de 2023

Mayo Clinic, julho de 2023

National Childbirth Trust, julho de 2023

National Health Service, julho de 2023

Tyler, Kelly H (2015), “Physiological skin changes during pregnancy”, Clin Obstet Gynecol, 58(1):119-24., julho de 2023

Publicado a 28/07/2023