Saúde mental das crianças e adolescentes

O papel da pedopsiquiatria
Bebés e crianças
Cérebro e saúde mental
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Cuidar da saúde mental de bebés, crianças e adolescentes é fundamental para os ajudar a crescer em equilíbrio e a tornarem-se adultos mais saudáveis.

A Psiquiatria da Infância e Adolescência, também conhecida por Pedopsiquiatria - que, por corresponder a uma forma abreviada de a ela nos referirmos, acaba por ser a nomenclatura mais comum -, é uma especialidade médica, que existe formalmente em Portugal desde 1983. É uma especialidade autónoma, não faz parte da Psiquiatria de adultos nem da Pediatria, apesar de se dirigir a crianças e adolescentes em idade pediátrica, ou seja, cuida de todas as faixas etárias até aos 18 anos de idade, bebés incluídos.

 

Sabia que...

Há países na Europa onde ainda não existe a especialidade de Pedopsiquiatria.

 

Como pode a Pedopsiquiatria ajudar?

A Pedopsiquiatria tem como objetivo avaliar, diagnosticar e tratar crianças cujo crescimento normal tenha sido impactado, de forma temporária ou permanente, por fatores que condicionam as suas emoções, os seus comportamentos, a sua capacidade de socializar.

À partida, uma criança ou um adolescente cresce num sistema familiar, pelo que há uma parte importante do trabalho destes especialistas que passa pelo envolvimento dos pais ou responsáveis legais.

A ida a uma consulta de Pedopsiquiatria não significa que uma doença esteja instalada, ou até mesmo que haja sintomas muito significativos. Ir a uma consulta da especialidade de Pedopsiquiatria pode servir apenas para fazer um check-up da saúde mental da criança ou do adolescente no momento atual ou até para tirar dúvidas.

 

A que sinais devem os pais estar atentos para recorrer a uma consulta de Pedopsiquiatria?

Existir uma preocupação, qualquer que ela seja, em relação ao comportamento de um filho ou à sua “disposição” é, por si só, motivo para se poder recorrer a uma consulta de Pedopsiquiatria. No entanto, o sinal mais generalista, mas também mais abrangente, é uma alteração no funcionamento habitual da criança ou do adolescente: uma criança que brincava diariamente e que deixou de brincar, um jovem que adorava ir à aula de música e que passou a recusar fazê-lo.

É preciso tempo em Pedopsiquiatria. Mas é preciso, igualmente, não perder tempo. Quanto mais instalados forem os quadros clínicos, mais difíceis são de reverter. Intervenções mais precoces estão, naturalmente, associadas a melhores prognósticos.

Ao apostar na saúde mental das crianças e adolescentes, para além de lhes propiciar um crescimento mais estabilizado numa fase muito importante da vida, estamos a ajudar as famílias e também a contribuir para a prevenção de patologia mental na idade adulta.

 

Quais são as condições mais comuns?

A prevalência varia ligeiramente de acordo com a faixa etária, mas são muito frequentes situações de:

  • Ansiedade
  • Depressão
  • Alterações do comportamento (por exemplo, irrequietude, impulsividade e agressividade)

 

Como é feito o diagnóstico em Pedopsiquiatria?

A Pedopsiquiatria é uma especialidade particular: não se auxilia de exames complementares de diagnóstico como outras especialidades. Não são feitas análises ao sangue ou ecografias ou TACs que ajudem a diagnosticar. Apesar disso, não é por ser mais “invisível” no que se consegue objetivar e ao que se está habituado em Medicina, que é menos científica. Não o é. Na Pedopsiquiatria faz-se uso da palavra-instrumento, dos sentidos-diagnóstico, da relação-terapia. O pedopsiquiatra assimila o que lhe contam, mistura com o que vê, e conta com o tempo. Cria relações terapêuticas e é nesse contexto que o processo de intervenção se desenrola. Percebe-se que as relações requerem tempo, assim como as mudanças consistentes na vida de cada um não se efetivam num abrir e fechar de olhos.

 

O envolvimento de todos é fundamental

A intervenção em Pedopsiquiatria é feita em equipa e, sempre que necessário, em articulação com outras especialidades das áreas da saúde ou da educação. Os pedopsiquiatras trabalham conjuntamente com professores, psicólogos (mesmo que não façam parte da rede hospitalar) ou outros técnicos cuja presença é relevante na vida de quem procurou este apoio, e que possa também ter um papel importante na melhoria do paciente.

O acompanhamento especializado pode ser realizado através de consultas terapêuticas com intervenção familiar, consultas psicoterapêuticas e, em situações específicas, também consultas ao domicílio. Existe também a possibilidade de serem realizadas intervenções em grupo, com pacientes específicos cujas características podem beneficiar de uma intervenção num contexto de pares, agrupados de acordo com sintomatologia e faixa etária.

 

O pedopsiquiatra receita sempre comprimidos?

Pode ser necessário medicar, mas ir a uma consulta de Pedopsiquiatria não é sinónimo de se sair do gabinete com um medicamento prescrito - a intervenção psicofarmacológica é apenas uma via de intervenção das tantas que existem à disponibilidade do pedopsiquiatra.

Publicado a 24/05/2023