Como explicar às crianças o que vêem na TV

Bebés e crianças
Cérebro e saúde mental
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A exposição a certas notícias na televisão pode causar medo e confusão nalgumas crianças. Saiba como conversar com o seu filho e tranquilizá-lo.

Aquilo a que as crianças são expostas - incluindo através da televisão e outros meios de comunicação, como a internet, vídeos ou jogos - pode influenciá-las e, por vezes, até assustá-las ou deixá-las preocupadas. Até certo ponto, os pais e cuidadores podem controlar aquilo a que elas assistem, mas, ainda assim, estas podem acabar por ser expostas a cenários, por exemplo, de violência, sexuais, de hábitos poucos saudáveis (como tabagismo e uso de drogas). Como tal, é importante que esteja preparado para falar com o seu filho sobre estes assuntos, ajudando-o a compreendê-los da melhor forma possível e a tranquilizá-lo.

 

A violência na televisão

A exposição a imagens de violência pode ter um impacto negativo nas crianças que a elas assistem. Para os mais novos, pode ser difícil distinguir o que é real, do que não é, e as mesmas imagens podem corresponder a um modelo que podem tender a imitar. Esta exposição pode, ainda, especialmente em crianças mais velhas, provocar sensações de medo ou angústia, que se podem repercutir noutros domínios do dia a dia das crianças, como, por exemplo, na qualidade do seu sono.

É importante que os pais possam filtrar os conteúdos das imagens a que os seus filhos são sujeitos, mas ao mesmo tempo que possam ajudar a criança a entender alguma exposição mais inquietante que possa ter observado, enquadrando-a num contexto e explicando-a, por forma a tentar tranquilizar a criança.

 

Outras imagens que podem ser assustadoras

As crianças em idade pré-escolar podem também ficar assustadas perante imagens a que são expostas através das notícias, por exemplo, de guerra, sofrimento, violência, acidentes ou fogo.

Crianças mais velhas, já em idade escolar, também podem ficar perturbadas com este tipo de acontecimentos, não apenas pelas imagens em si, mas porque sabem que esses eventos são reais. Notícias sobre crimes podem ser especialmente perturbadoras e as crianças desta idade podem preocupar-se com a morte.

 

A ter em consideração ao falar com o seu filho sobre o que vê nos meios de comunicação social

Ao falar com o seu filho, idealmente, deve partilhar informação mais básica, evitando detalhes muito pormenorizados ou desnecessários. Além disso, deve evitar que a criança seja exposta de forma repetida a imagens ou sons muito gráficos, venham eles da televisão, do computador, da rádio, entre outros.

Atualmente, os adolescentes e muitas crianças mais velhas têm acesso às notícias através do telemóvel, por exemplo, pelas redes sociais. Por isso, os pais devem estar atentos e estar preparados para falar com a criança sobre aquilo que pode ver ou ouvir.

 

Não se esqueça:

Os pais não precisam de ter resposta para todas as questões colocadas. O importante é que escutem a criança acerca do que pensa e sente e que possivelmente tentem encontrar uma resposta em conjunto.

 

Conversar com as crianças sobre a guerra

Atualmente, as notícias sobre guerra estão muito presentes nos meios de comunicação social. As crianças podem sentir-se assustadas e confusas com a situação, ainda que esteja a acontecer a milhares de quilómetros. É natural que os pais ou outros cuidadores da criança não saibam exatamente como falar com ela sobre a guerra quando são questionados.

A Ordem dos Psicólogos deixa algumas sugestões que podem facilitar esta conversa de forma apropriada à idade da criança, contribuindo para que se sinta mais segura e protegida. Conheça algumas delas de forma resumida:

  1. Deixe que a criança expresse o que pensa e sente, demonstrando-se disponível para escutá-la. Pergunte-lhe se se sente assustada / preocupada com a guerra. Mesmo que a resposta seja “não”, a criança percebe que há abertura para falar sobre o assunto.
  2. Fale com a criança e perceba aquilo que ela já sabe sobre o tema. Deixe que sejam as suas preocupações a guiar a conversa. Esteja também atento às expressões faciais, gestos e tom de voz, uma vez que podem revelar as emoções que a criança está a sentir.
  3. Valide o que o seu filho sente, dizendo-lhe que compreende que a guerra é confusa e complicada. Evite frases como “Não te preocupes” e não julgue a criança com base naquilo que ela está a pensar. Se não compreender aquilo que ela está a sentir, peça-lhe que explique. Pode dizer algo como “Pareces triste quando falamos sobre isto. Eu também estou triste”.
  4. Recorra a linguagem e informação adequada à idade da criança, sendo sempre honesto e sem minimizar a gravidade da situação. Ainda assim, é também importante ter em consideração que não devemos sobrecarregar a criança com informação desnecessária ou que esta possa não conseguir processar.
  5. Assegure-lhe que está segura. As crianças mais pequenas podem pensar que aquilo que vêem na televisão - neste caso, a guerra - pode também acontecer perto delas, por exemplo, em casa ou na escola. Reforce o contacto físico, com beijos e abraços, por exemplo, e mantenha as rotinas habituais.
  6. Diga-lhe que há esperança e que há muitas pessoas a tentar ajudar quem precisa. Assim, a criança percebe que, apesar destas situações mais adversas, existem também atos de amor e de humanidade. E atenção: é também importante transmitir à criança que as guerras têm um fim e que a paz também pode ser alcançada através de soluções que não envolvem violência.
  7. Crianças mais velhas e pais / cuidadores podem ver as notícias em conjunto - mas não mais do que 1-2 vezes por dia -, encorajando-as a fazer questões e a comentar o que estão a ver. Já no caso das crianças mais novas é recomendável limitar a exposição à informação, sobretudo do tipo que as possa perturbar.
  8. Evite fazer estereótipos sobre a cultura, nacionalidade ou religião das pessoas e utilizar termos polarizantes, como “bons” versus “maus”, “lado certo” versus “inimigos”, “países bons” versus “países maus”. Faça desta uma oportunidade de promoção do respeito, tolerância e compaixão, mas também para falar sobre preconceito e estereótipos, contribuindo para uma maior empatia e sensibilidade perante diferentes pontos de vista.
  9. Faça desta conversa um incentivo para abordar outros temas - como resolver conflitos, bullying, ajudar outras pessoas -, estimulando o desenvolvimento das crianças e jovens noutras áreas da sua vida.
  10. Encoraje-a a ajudar o próximo e a fazer a diferença, pois estes gestos podem dar-lhe segurança e confiança. Podem ser, por exemplo, doações de bens ou formar um grupo de discussão com colegas ou pessoas da comunidade.
  11. Esteja atento ao nível de stress e saúde psicológica da criança. Nem todos vivenciamos os acontecimentos da mesma forma e algumas crianças ou jovens podem ser mais afetados pela guerra do que outros. Os pais devem estar atentos a sinais como alterações de comportamento e do sono, preocupação constante com o assunto e medo da morte. Nestes casos, consulte um psicólogo ou um pedopsiquiatra.
  12. Cuide da sua saúde mental. Os adultos servem de exemplo para os mais novos e a forma como respondemos ao stress e comunicamos não é exceção. É natural que a guerra cause ansiedade em adultos, que podem dizer à criança que também sentem medo. Tenha o cuidado de não sobrecarregar a criança com esses sentimentos, focando-se antes na forma como lida com eles. Transmita a ideia de que existem coisas difíceis / assustadoras, mas que podem ser ultrapassadas.

 

Atenção!

Falar sobre violência, conflitos e guerra pode causar medo, mas é mais assustador a criança pensar que não pode partilhar esses sentimentos com alguém.

Fontes:

healthychildren.org - American Academy of Pediatrics, março de 2022

KidsHealth, março de 2022

Ordem dos Psicólogos, março de 2022

raisingchildren.net.au, março de 2022

Stanford Children's Hospital, março de 2022

Publicado a 07/03/2022
Doenças