Artroses: que estratégias de tratamento existem?

+65
Doenças crónicas
Dor
5 mins leitura

Embora as artroses não tenham cura, existem diversas estratégias de tratamento que permitem que os doentes tenham boa qualidade de vida.

A artrose (também designada por osteoartrose) é uma das doenças reumáticas mais comuns e também das mais incapacitantes, devido às dores e imobilidade que provoca. Tende a desenvolver-se com a idade e ocorre quando a cartilagem protetora que amortece as extremidades dos ossos se desgasta. Quando esta cartilagem é afetada, observa-se inflamação e lesão progressiva das articulações, causando alterações ósseas, deterioração dos tendões e ligamentos, o que é acompanhado por episódios de dor, inchaço, limitação de movimentos e deformidade articular.

Esta doença crónica afeta milhões de pessoas em todo o mundo, estimando-se que, acima dos 90 anos, cerca de 90% dos indivíduos tenham artrose. De acordo com os resultados do EpiReumaPt, um estudo epidemiológico das doenças reumáticas em Portugal, a artrose do joelho é a terceira patologia reumática mais comum no nosso país (12,4%), sendo também frequentes a artrose da mão (8,7%) e da anca (2,9%). Mesmo sem doença diagnosticada, é normal que, a partir dos 40/50 anos de idade, os indivíduos comecem a sentir dores nas articulações.

 

A artrose tem cura?

Não, a artrose não tem cura. Todavia, quando o doente recebe o diagnóstico não deve desanimar, já que existem diversas formas de a tratar com bons resultados na generalidade dos casos.

Os objetivos do tratamento passam por aliviar as dores e melhorar a mobilidade das articulações atingidas, evitando que os músculos associados fiquem atrofiados. Além disso, há que impedir o agravamento das artroses existentes e, sempre que possível, evitar que o problema se estenda a outras articulações.

 

Que tratamentos existem?

Em regra, os tratamentos da artrose dividem-se em três tipos – farmacológicos, terapias de apoio e comportamentais –, sendo que a combinação de vários tende a garantir melhores resultados. Acima de tudo, a compreensão do doente sobre a sua doença, e especialmente a sua cooperação para melhorar o estado de saúde, são fundamentais.

Importa ainda ter em conta que o tratamento é personalizado, ou seja, o médico irá propor uma estratégia diferente para cada doente, de acordo com os sintomas, tipo de lesão, estilo de vida e história clínica.

 

Medicamentos mais usados

A medicação usada no tratamento da artrose destina-se sobretudo a aliviar os sintomas. Entre os vários fármacos disponíveis, os mais comuns são:

  • Analgésicos, como o paracetamol, para controlar a dor. Se o paracetamol não fizer efeito, o médico poderá decidir associar um opioide fraco, como a codeína.
  • Anti-inflamatórios não esteroides (AINE), para gerir a inflamação e, assim, diminuir a dor. Estes medicamentos devem ser tomados de acordo com as instruções do médico, pois têm algumas contraindicações (por exemplo, não devem ser tomados por quem tem asma, úlcera, angina ou sofreu recentemente um acidente vascular cerebral ou enfarte).
  • Medicamentos de aplicação tópica (isto é, para uso no local).
  • Injeções de ácido hialurónico nas articulações, que podem dar alívio dos sintomas durante alguns meses.
  • Injeções de corticoides nas articulações e nas estruturas que rodeiam as articulações (tendões, ligamentos, bolsas sinoviais) para reduzir a inflamação.
  • Relaxantes musculares.

 

Terapias de apoio

Além da medicação, o médico poderá recomendar algumas intervenções, com vista a controlar a dor e promover melhor qualidade de vida do doente:

  • Fisioterapia, nomeadamente através de neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS, na sigla em inglês), uma técnica que procura aliviar a dor com recurso à corrente elétrica.
  • Aplicação de quente/frio nas articulações para aliviar a dor e os sintomas.
  • Terapia manual levada a cabo por um fisioterapeuta, destinada a mobilizar e massajar as áreas afetadas, para compensar a imobilidade das articulações.
  • Recurso a dispositivos para imobilizar ou estabilizar as articulações afetadas, nomeadamente, colar cervical (para quem tem artroses cervicais), bengala, andarilho, joelheiras, mas também sapatos ortopédicos e roupa adequada, entre outros.
  • A cirurgia ortopédica poderá estar indicada em alguns doentes. Nos casos de artrose avançada, que não respondem satisfatoriamente ao tratamento conservador, a substituição articular através da colocação de uma prótese pode ser decisiva para melhorar a qualidade de vida.

 

Alterações de estilo de vida

Para um tratamento eficaz da artrose é indispensável o envolvimento e empenho do doente, o que passa pela introdução de mudanças no seu estilo de vida:

  • Praticar exercício físico é fundamental, qualquer que seja a idade do doente. É importante que se incluam exercícios destinados a fortalecer os músculos e as articulações, assim como a condição física em geral. A prática de exercício físico ajuda a corrigir a postura corporal, a perder peso e a combater o stress, o que, em conjunto, contribui para aliviar os sintomas da artrose. Estes exercícios devem ser adaptados à pessoa em causa, pelo que é importante o aconselhamento por parte de um especialista.
  • Corrigir a postura corporal, evitando caminhar ou permanecer fletido. Por exemplo, quando houver necessidade de apanhar um objeto ou levantar um peso, evitar fletir a coluna, optando por dobrar os joelhos. Também quando se está sentado, evitar a flexão do pescoço e da coluna, permanecendo o mais direito possível.
  • Dormir em cama dura, de barriga para cima, de preferência sem almofada.
  • Perder peso (nos casos em que tal se aplica), pois o excesso de peso vai sobrecarregar as articulações e agravar os sintomas da artrose.
  • Praticar uma alimentação saudável, rica em nutrientes e que ajude a reduzir a inflamação. Dar preferência a frutas e legumes, peixes gordos (como o salmão e a cavala), frutos secos (amêndoas, avelãs e pistáchios), cebola e alho (ajudam a proteger a cartilagem) e leguminosas. Evitar a carne vermelha, fritos, laticínios e hidratos de carbono simples (pão branco, bolos, refrigerantes).
  • Evitar o tabaco e o álcool, pois ambos contribuem para aumentar a inflamação.

 

Ter artrose e manter uma qualidade de vida semelhante à que se tinha antes do diagnóstico é possível, mas torna-se indispensável cumprir as várias estratégias terapêuticas definidas pelo médico assistente para cada caso específico.

Fontes:

American Family Physician, fevereiro de 2022

Arthritis Foundation, fevereiro de 2022

Cleveland Clinic, fevereiro de 2022

EpiReumaPt - Estudo Epidemiológico das Doenças Reumáticas em Portugal - Reumacensus 2011-2013, fevereiro de 2022

Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas, fevereiro de 2022

Mayo Clinic, fevereiro de 2022

National Health Service, fevereiro de 2022

University of Maryland Medical System, fevereiro de 2022

WebMD, fevereiro de 2022

Publicado a 22/12/2022