Trombofilia na gravidez: como reduzir o risco

Gravidez
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A ocorrência de trombose é uma condição cujo risco aumenta na gravidez, podendo ter consequências na saúde da mãe e do bebé. Saiba como prevenir esta situação.

Tanto a trombose (formação de coágulos no sangue e consequente bloqueio da circulação) como a embolia (libertação de coágulo que interrompe a circulação noutra zona do corpo, como os pulmões) são problemas que podem ter consequências graves, incluindo a morte. A trombofilia é uma predisposição genética para trombose e embolia. A idade, determinadas doenças, hábitos de vida, condição física, a gravidez e o período periparto são fatores que aumentam o risco de estados pró-trombóticos, sobretudo em grávidas com trombofilia.

Em concreto, as mulheres grávidas são seis vezes mais suscetíveis de sofrer um tromboembolismo venoso do que as mulheres não grávidas.

A trombofilia na gravidez - principalmente os casos de trombose venosa profunda e a embolia pulmonar - é a principal causa de mortalidade materna e causa de complicações na gravidez, que frequentemente resultam na perda do bebé, sobretudo quando o problema não é identificado antecipadamente.

Por outro lado, os episódios associados à trombofilia são muito comuns no parto ou nas semanas após o nascimento, em consequência de alterações vasculares ocorridas nessa altura. De realçar que o parto por cesariana também traz riscos acrescidos.

 

Sabia que...

A trombofilia é causada por deficiências genéticas hereditárias ou adquiridas. Há maior prevalência da trombofilia adquirida, relacionada com doenças, medicação ou hábitos de vida.

 

O que causa a trombofilia na gravidez?

A trombofilia hereditária está relacionada com a deficiência, mutação ou resistência a determinados fatores relacionados com a coagulação do sangue, nomeadamente as proteínas C e S e a antitrombina ou protrombina. Estas enzimas são responsáveis por gerir o nível de coagulação, que é essencial para a recuperação de lesões, como estancar o sangue numa ferida, estando a trombofilia associada tanto à presença de fatores coagulantes como à ausência de substâncias anticoagulantes. Quando esta predisposição já existe, os riscos durante a gravidez são muito maiores.

Por outro lado, a trombofilia adquirida poderá ser motivada por consequências de saúde, estilo de vida sedentário, obesidade ou uso de medicamentos anticoncecionais -, podendo não estar ainda diagnosticada quando a mulher engravida.

Além disso, a própria gravidez pode provocar essa situação. A gestação provoca alterações na hemostase, a coagulação do sangue, relacionadas com a circulação na placenta e depois com o parto, em que a coagulação é necessária para evitar uma hemorragia profunda durante a expulsão do bebé e da placenta. Também as alterações corporais, nomeadamente o aumento do volume da barriga, causando maior pressão sobre a circulação nas pernas, podem resultar em episódios de tromboembolismo.

 

Sintomas de trombofilia na gravidez

Os episódios de tromboembolismo podem ser assintomáticos ou manifestar-se de uma forma severa como dor ou inchaço na zona afetada pelo coágulo, quer seja o local onde se formou ou a zona onde se alojou e onde causa obstrução. Os sintomas podem incluir:

  • Falta de ar;
  • Aumento da frequência cardíaca;
  • Edema dos membros inferiores (unilateral);
  • Sensibilidade na pele;
  • Dor forte súbita e muito localizada:
  • Pele avermelhada, quente.

Alguns dos sintomas, principalmente quando se manifestam de forma ligeira ou moderada, como o inchaço e o desconforto das pernas, são relativamente comuns durante uma gravidez normal, o que torna mais difícil o reconhecimento de que se trata de uma situação clínica mais grave.

 

Quais as consequências da trombofilia na gravidez?

A trombofilia aumenta exponencialmente o risco de trombose para a mãe, principalmente o tromboembolismo venoso nos membros inferiores, mas também no cérebro e noutras partes do sistema circulatório. Além do risco de morte, as consequências dependem essencialmente da severidade do episódio agudo e da rapidez do tratamento, mas podem ser graves, incluindo sequelas crónicas debilitantes, como a síndrome pós-trombótica (insuficiência venosa) ou a hipertensão pulmonar tromboembólica.

No caso do feto, torna-se mais difícil levar a gravidez a termo quando a trombofilia não está diagnosticada. A trombofilia pode ser causa de situações repetidas de aborto espontâneo, sobretudo no início da gravidez. Diferentes tipos de deficiências na coagulação associadas à trombofilia podem ser responsáveis pela perda do bebé em várias fases da gravidez, incluindo nos últimos meses, e também a outros problemas como descolamento da placenta, pré-eclampsia, insuficiência vascular da placenta, crescimento lento do feto. E todas essas complicações estão igualmente associadas a risco para a mãe.

 

Quem está em risco?

O historial familiar é um indicador importante da necessidade de exames para despistar este distúrbio, mas não só:

  • Casos de trombose anteriores na grávida ou na família próxima;
  • Mais de 35 anos;
  • Vários abortos espontâneos;
  • Obesidade;
  • Infeções ou ferimentos graves recentes;
  • Gravidez de gémeos;
  • Tratamentos de fertilidade.

As situações de trombose venosa são identificadas através de um exame Doppler vascular ou uma tomografia computorizada, ou ainda uma angiografia pulmonar no caso de resultado incerto de embolia. Já a trombofilia, nomeadamente as situações de deficiência hereditárias, pode ser diagnosticada através de análise ao sangue.

 

Como se trata a trombofilia na gravidez

Nem todas as pessoas com diagnóstico de trombofilia terão forçosamente de fazer tratamento, o qual pode ficar reservado para situações de risco como cirurgias, imobilização prolongada e viagens longas. No caso das grávidas, o tratamento vai depender dos antecedentes ou fatores de risco (como já ter tido um tromboembolismo venoso ou alguém na família), podendo começar ainda no primeiro trimestre ou ser reservado para o parto e pós-parto.

O tratamento para a trombofilia inclui medicamentos anticoagulantes, como diferentes tipos de heparina e também o ácido acetilsalicílico (conhecido por Aspirina®). Também são usados fármacos trombolíticos, que ajudam a desfazer os coágulos já existentes, principalmente em contexto hospitalar.

 

Como prevenir a trombofilia na gravidez?

Quando a trombofilia é hereditária ou já está adquirida, a diminuição do risco passa pela medicação específica, nomeadamente nas situações que podem originar um tromboembolismo, a restrição prévia de contracetivos específicos e o uso de meias de compressão.

Quando os distúrbios na coagulação não estão presentes, a prevenção inclui ações que reduzam o risco de trombofilia adquirida, como:

  • Evitar fumar;
  • Manter um peso saudável;
  • Fazer exercício físico;
  • Fazer caminhadas;
  • Fazer viagens curtas ou que permitam pausas para movimentar os membros inferiores;
  • Evitar medicamentos com estrogénio;
  • Cumprir com rigor a medicação com anticoagulantes.

 

A trombofilia é um distúrbio complexo, com potenciais efeitos graves, mas além de a prevalência não ser muito elevada, pode ser diagnosticada, sendo avaliadas e prevenidas as situações de maior risco. Se tiver dúvidas, quer esteja grávida ou a tentar engravidar, fale com o seu obstetra ou médico assistente, principalmente se conhecer situações de trombose ou tromboembolismo.

Fontes:

BMC

Cleveland Clinic

Ministério da Saúde, CHLC

MSD Manuals

National Center for Biotechnology Information

NHS

Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal

Publicado a 02/07/2025