Saiba o que é e como evitar a febre da carraça

Prevenção e bem-estar
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A primavera, o verão e o início do outono são os momentos do ano em que as carraças ficam mais ativas e podem transmitir doenças. Veja como se proteger melhor.

Com o bom tempo aumenta a vontade de sair à rua, de passear no campo e de ter mais contacto com a natureza. A subida da temperatura é benéfica a vários níveis, melhora o humor, a imunidade e até a concentração, mas também traz alguns riscos, requer cuidados com o terreno, as plantas ou os animais.

As carraças são um desses animais que, apesar de na maioria das vezes serem inofensivos, devemos ter em atenção quando estamos ao ar livre, em locais com vegetação. As carraças fixam-se à pele para “sugar” o sangue, escolhendo frequentemente zonas do corpo quentes e húmidas, por vezes menos visíveis, como as axilas. A primavera, o verão e o início do outono são os momentos do ano em que esse cuidado mais se justifica, não apenas por estarmos mais tempo na rua, mas também porque as carraças ficam mais ativas com a subida da temperatura. Ainda assim, esta preocupação deve estar presente durante todo o ano.

 

O que é a febre da carraça?

A febre escaro-nodular ou botonosa, mais conhecida como febre da carraça, é uma doença provocada pela picada de carraças, que podem ficar várias horas ou dias a alimentar-se do sangue sem serem detetadas. Os sintomas também demoram algum tempo a surgir - incubação da doença de uma a três semanas - e assemelham-se aos da gripe, como febre, cansaço e dor de cabeça. Sinal importante para o diagnóstico é encontrar a zona da picada: nota-se uma pequena lesão que cresce alguns centímetros, além de erupção cutânea ou vermelhidão numa zona mais alargada, que pode estender-se a outras zonas do corpo.

 

Sabia que...

Existem várias doenças provocadas pelo contacto com carraças e até vários tipos de febre da carraça. Em Portugal, as doenças mais frequentes são a febre da carraça e a borreliose de Lyme.

 

O perigo está nas carraças?

Apesar de a febre da carraça surgir devido à picada do inseto, este é apenas um vetor dos agentes infecciosos que causam a doença, tratando-se de uma transmissão indireta. A febre da carraça é causada pela bactéria Rickettsia conorii, que pode estar presente nas mandíbulas e glândulas salivares das carraças. Portanto, nem todos os insetos estão infetados e mesmo aqueles que estão podem não transmitir a doença. Normalmente são necessárias várias horas - entre seis a 20 - para que a parasitação, a transferência de sangue para a carraça, permita a passagem da bactéria para o corpo do hospedeiro.

 

Onde existem carraças?

Ao contrário das pulgas, que podem saltar facilmente para o hospedeiro, as carraças deslocam-se mais lentamente. Ainda assim, conseguem detetar a presença de pessoas ou animais através de vibrações na vegetação, e tentam aproximar-se do local onde estes estão ou cruzar-se com os mesmos durante a sua passagem. As carraças sobem facilmente pela roupa ou diretamente pela pele, podendo encontrar logo um local para a picada ou fazê-lo mais tarde. Florestas, charnecas, zonas húmidas, prados ou jardins - incluindo os jardins das casas particulares - são os locais onde é mais fácil ter contacto com carraças.

 

O que fazer quando se encontra uma carraça?

As carraças podem ser acastanhadas, avermelhadas ou pretas, e - na fase em que são mais visíveis a olho nu - ter entre poucos milímetros ou mais de um centímetro. Normalmente desprendem-se do hospedeiro após vários dias a alimentarem-se e, como podem demorar apenas algumas horas a transmitir os agentes patogénicos para a corrente sanguínea, devem ser removidas da pele o mais rapidamente possível.

É importante que o inseto seja totalmente retirado, com o especial cuidado de a cabeça e mandíbulas se desprenderem com o resto do corpo. Para tal, é recomendado que se use uma pinça ou o polegar e indicador - neste caso com papel ou algodão para não haver contacto direto com o inseto, de forma a evitar a possível contaminação. Segurar o mais perto possível da pele e rodar o corpo da carraça ajuda igualmente a que a cabeça saia por inteiro.

Como nem todas as carraças estão infetadas e por vezes o inseto é detetado rapidamente - no próprio dia em que houve contacto com a natureza, por exemplo -, o mais importante após retirar a carraça e desinfetar a zona da picada, é estar atento a sintomas e ir monitorizando diariamente o local, para detetar alterações na pele.

 

Sabia que...

As carraças podem ser particularmente perigosas nas crianças e em adultos ou idosos com o sistema imunitário debilitado. Caso haja suspeita de contacto após um passeio no campo, ou apenas como prevenção, podem ser procuradas no couro cabeludo, principalmente atrás das orelhas ou na linha do cabelo.

 

Qual o tratamento para a febre da carraça?

Caso os sintomas de febre da carraça comecem a surgir, convém consultar o médico rapidamente, não esquecendo de referir que se esteve na natureza e se sofreu uma picada. Após o diagnóstico da doença, o tratamento é feito com antibióticos e, quanto mais rapidamente for iniciado, melhores são os resultados.

Além do tratamento, é feita a confirmação científica da febre da carraça, através de um teste, que não atrasa a medicação. Após receber os resultados, o médico deve notificar as autoridades de saúde locais sobre a doença e o agente infeccioso em causa.

 

Como evitar as carraças e prevenir a doença?

Existem várias medidas para prevenir a picada de carraças. Ainda assim, o mais seguro é ter especial atenção à roupa e ao corpo após passar algum tempo em zonas verdes, principalmente se houve contacto com ervas altas ou outro tipo de vegetação rasteira.

Essas estratégias incluem:

  • Usar roupa clara, que permita ver carraças mais facilmente, antes de haver contacto com a pele.
  • Preferir mangas compridas e calças, que podem ser enfiadas nas meias.
  • Escolher caminhos bem definidos para roçar menos em plantas.
  • Ter o jardim bem cuidado, com relva aparada.
  • Usar repelente de insetos nas zonas de pele mais expostas.
  • Verificar bem o corpo após caminhadas (cabelo, pregas, umbigo, atrás dos joelhos, orelhas e axilas) e tomar banho imediatamente.
  • Procurar carraças na roupa, sapatos ou outro equipamento e lavar tudo.
  • Inspecionar o pelo de animais de estimação que tenham estado em zonas verdes.

 

Quando procurar ajuda médica?

Além de nem todas as carraças estarem infetadas, a prevenção reduz ainda mais as possibilidades de sofrer um infeção relacionada com estes insetos. No entanto, além da febre da carraça e das suas diferentes estirpes, existem várias doenças das quais estes pequenos ácaros podem ser vetores, como a febre hemorrágica, a doença de Lyme ou a encefalite, entre outras. Assim, é aconselhável contactar o médico assistente se, após ser picado por uma carraça:

  • A picada foi numa criança ou idoso.
  • Acha que o inseto esteve várias horas ou até um dia inteiro agarrado à pele.
  • Começou a notar uma erupção cutânea no local de uma picada.
  • Foi picado e está a desenvolver sintomas semelhantes aos de gripe.
  • Sente febre, dor ou aparecimento de bolhas na zona da picada.
Fontes:

Centers for Disease Control and Prevention, maio de 2023

Cleveland Clinic, maio de 2023

Direção-Geral da Saúde, maio de 2023

Metis, maio de 2023

National Health Service, maio de 2023

Publicado a 27/06/2023