O que é a nova síndrome VEXAS?

Doenças crónicas
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A síndrome VEXAS é uma doença rara, descoberta em 2020, autoinflamatória e que pode levar à morte. A sua origem é genética e ainda não tem um tratamento-padrão.

Em 2020, um grupo de investigadores do National Institutes of Health (NIH), anunciou ter descoberto uma nova doença, a síndrome VEXAS. Esta é uma doença rara - afeta uma pessoa em mais de 13 mil - e genética. Não é hereditária: há uma mutação do cromossoma X que acontece ao longo da vida, sem que se conheça ainda a razão.

Esta síndrome produz sintomas como febre recorrente, anemia, erupções cutâneas dolorosas ou falta de ar. Não tendo um tratamento-padrão eficaz, tem uma mortalidade alta, sendo a esperança de vida cinco anos para metade dos diagnosticados.

Está classificada como uma doença autoinflamatória, o que significa que provoca uma ação desregulada da imunidade inata do organismo. Tal como as restantes doenças autoinflamatórias, é rara e resulta da alteração de um único gene.

 

O que quer dizer VEXAS?

A palavra VEXAS é um acrónimo formado a partir de algumas características desta nova síndrome:

  • Vacúolos: formações anormais frequentemente encontradas nas células do sangue dos pacientes com VEXAS.
  • E1, enzima ativadora da ubiquitina, necessária à sobrevivência. É a enzima codificada pelo gene UBA1, que sofre mutações. Esta mutação resulta em níveis anormalmente baixos desta enzima, o que leva a uma disrupção no funcionamento das células, que ativam uma reação inflamatória desregulada.
  • X, de cromossoma X: é neste cromossoma que está presente o gene UBA1.
  • Autoinflamatória, de doença autoinflamatória: ligada a uma reação desregulada do sistema imunitário.
  • Somáticas, de mutações somáticas: ou seja, aquelas que são adquiridas ao longo da vida e não herdadas.

 

Como foi descoberta?

A descoberta anunciada pelo NIH em 2020 foi possível graças à grande evolução da genómica, o ramo da genética que estuda o genoma completo de um organismo - neste caso o humano. Como os sintomas desta doença são comuns a outras doenças autoimunes, a observação das mutações no gene UBA1 é essencial no conhecimento da causa destes sintomas.

A mutação neste gene foi observada em 12 dos participantes num estudo de 160 mil pessoas que concordaram em ter o seu genoma analisado. Este estudo permitiu ainda chegar a algumas características comuns aos doentes com síndrome VEXAS (homens com mais de 50 anos).

Em 2021, através de colaboração internacional, foram identificados casos a nível global, não havendo ainda (na época e até hoje) um tratamento-padrão eficaz a nível internacional. Em 2022, começaram os ensaios clínicos para chegar ao tratamento, sendo tanto o tratamento como o diagnóstico baseados no estudo genético. Alguns dos caminhos terapêuticos a serem estudados neste momento incluem medicação e terapias com células estaminais.

 

Quais os sintomas da síndrome VEXAS?

Os doentes com síndrome VEXAS têm frequentemente febre e fadiga.

Há vários sintomas inflamatórios que podem manifestar-se nos doentes com síndrome VEXAS, afetando a pele, cartilagens, pulmões, articulações e vasos sanguíneos:

  • Erupções cutâneas dolorosas
  • Inflamação e dores nas cartilagens (incluindo nariz e orelhas)
  • Tosse e falta de ar relacionada com inflamação pulmonar
  • Inflamação e dores nas articulações
  • Inflamação dos vasos sanguíneos.

 

Podem verificar-se situações de:

  • Trombose venosa profunda
  • Gânglios linfáticos inchados
  • Derrame pleural
  • Miocardite
  • Alveolite neutrofílica
  • Síndrome mielodisplásica
  • Mieloma múltiplo
  • Vacúolos nas células mieloides e eritroides
  • Hepatoesplenomegalia
  • Orquite e epididimite

 

A evolução da doença pode levar à falência da medula óssea e, consequentemente, a anemia, coágulos no sangue, défice de plaquetas ou leucemia.

 

Qual a população de risco?

A síndrome VEXAS afeta mais frequentemente homens do que mulheres e a razão é genética: os homens têm apenas um cromossoma X e, assim, esta mutação neste cromossoma manifesta-se; no caso das mulheres, com dois cromossomas XX, é preciso que a mutação ocorra nos dois cromossomas para que a doença se manifeste de forma severa. Ao ocorrer apenas em um dos cromossomas X da mulher, a doença não se manifesta ou provoca apenas sintomas leves.

A população mais afetada por esta doença rara é, portanto, masculina, com mais de 50 anos. Em muitos casos, os pacientes diagnosticados com VEXAS têm também diagnósticos de policondrite recidivante, poliarterite nodosa, síndrome de Sweet ou síndrome mielodisplásica.

 

Como é diagnosticada?

O diagnóstico definitivo que confirma a síndrome VEXAS é o teste genético que demonstra a mutação do gene UBA1.

 

Como se trata a síndrome de VEXAS?

Não havendo um tratamento-padrão considerado eficaz e uma vez que esta doença pode afetar vários orgãos, os doentes com vários sintomas inflamatórios simultâneos e aqueles com diagnóstico positivo para VEXAS devem ser acompanhados por uma equipa multidisciplinar que inclua reumatologistas e hematologistas.

Alguns dos doentes são candidatos a transplantes de medula e ao tratamento com glicocorticoides, esteroides e imunossupressores.

Fontes:

MedlinePlus, março de 2023

National Institute of Arthritis and Musculoskeletal and Skin Diseases, março de 2023

National Institutes of Health, março de 2023

Vexas Foundation, março de 2023

WebMD, março de 2023

Publicado a 13/03/2023