Cancro da mama: sinais podem chegar de outras doenças

A história de Eunice Lacerda

Após recuperar de um AVC, Eunice continuava a sentir-se cansada. Uma bateria de exames e uma biópsia confirmaram um cancro da mama de grau II.

 

Eunice Lacerda teve um diagnóstico de cancro da mama em 2019, aos 49 anos. Sentia que tinha uma vida pela frente e não deixou que a doença influenciasse isso. “Sempre fui muito positiva e, portanto, encarei esta situação como algo que eu iria com certeza ultrapassar”, lembra. Foi por isso mesmo que escolheu o dia do aniversário para iniciar os tratamentos.

A identificação do tumor de grau II surgiu após a recuperação de um acidente vascular cerebral (AVC), e “os médicos apontam para que as células neoplásicas possam ter estado na origem do AVC”. Um caso que demonstra a importância de fazer os exames recomendados e de estar atento aos diferentes sinais. Conheça esta história de superação.



Como é que foi feito o diagnóstico?

“O meu diagnóstico foi um pouco tardio”, conta Eunice Lacerda: “Eu tive um AVC em 2018 e a partir desse momento, apesar da recuperação ter sido relativamente rápida, senti-me sempre um pouco cansada. O meu médico internista recomendou uma bateria de exames, onde estavam incluídas a mamografia e a eco mamária”. Ao saber, depois, da indicação para fazer uma biópsia, Eunice percebeu que “havia alguma coisa que não estava bem”. E foi quando o médico sugeriu que levasse a um oncologista “os exames que tinha feito nesse momento e os exames anteriores” que reparou que “já não fazia as eco mamárias e as mamografias há cerca de quatro anos. A vida, de facto, tem um ritmo muito acelerado e esses exames tinham ficado para trás”.

Estava então diagnosticado o cancro da mama: “O tumor não era muito grave, grau II, mas já tinha uma dimensão muito razoável, perto de 5 cm. Já sobre o AVC, a que Eunice atribuía inicialmente o cansaço que motivou a consulta, “os médicos apontam para que as células neoplásicas possam ter estado na [sua] origem”.

 

O impacto do diagnóstico e a importância de manter o positivismo

“Sempre fui muito positiva e, portanto, encarei esta situação como algo que eu iria com certeza ultrapassar”, recorda Eunice. Apesar de o primeiro impacto ter sido “muito desafiante, porque tinha 49 anos e uma vida inteira pela frente”, decidiu rapidamente focar-se na recuperação. “A minha prioridade passaria a ser os tratamentos. Aliás, eu escolhi a data de 19 de setembro de 2019 para fazer o primeiro tratamento de quimioterapia, que era a data do meu aniversário. Não só para continuar a festejar nesta data os meus aniversários, mas também para me recordar sempre do marco a partir do qual eu comecei a tratar de mim para a segunda fase da minha vida.”

“Aprendi a relativizar, porque quando a saúde passa a ser a nossa prioridade, tudo o resto deixa de ter a mesma importância que tinha antes”

Da família à equipa clínica: a importância do apoio

Além do espírito combativo e da dedicação aos tratamentos, seguindo as recomendações clínicas, é importante ter uma base de apoio, em primeiro lugar da família, mas também dos médicos e restante equipa. Eunice Lacerda está grata por ter contado com tudo isso. “Desde o primeiro momento tive o apoio da minha família, fui muito mimada”, lembra, “o meu marido e a minha irmã foram pilares muito importantes que me acompanharam durante todo este processo”. Algo que sentiu também no meio hospitalar: “Quando tive de escolher um oncologista, escolhi a Dra. Noémia Afonso, do Hospital CUF Porto, uma médica e uma amiga de quem tenho uma enorme saudade, que me deu sempre muita tranquilidade e muita confiança para poder seguir todas as fases do tratamento.”

 

O decorrer dos tratamentos do cancro da mama

Eunice começou por fazer quimioterapia para tentar reduzir o tumor antes da cirurgia. “Fiz quatro sessões quinzenais, a que se seguiram 12 sessões semanais.” Sendo um tratamento prolongado, é importante que as sessões não sejam vistas como uma dificuldade, pelo que ajudou muito que as instalações sejam “confortáveis, com privacidade”, e que as equipas médicas, de enfermagem e auxiliares estejam “sempre muito disponíveis e muito atenciosos”.

Terminada a quimioterapia, seguiu-se a hormonoterapia antes da intervenção cirúrgica: “Fiz uma cirurgia conservadora, com esvaziamento axilar do lado esquerdo. E depois radioterapia no Instituto CUF Porto. No final, fiz ainda quimioterapia oral durante cerca de seis meses”.

“Sempre fui muito positiva e, portanto, encarei esta situação como algo que eu iria com certeza ultrapassar”
fotografia de Eunice Lacerda no exterior - oncologia

A atividade física e a importância de estar preparado

Durante os tratamentos, Eunice Lacerda procurou “fazer algum exercício físico, para manter a atividade e também para tentar controlar o peso”. Treinou com um PT no ginásio e não parou durante a pandemia, passando os exercícios com PT para o Parque da Cidade. Outro aliado foi o seu cão: “Aproveitei este período para fazer longas caminhadas, com o meu cão, que foi um verdadeiro companheiro de luta, durante este período”.

“De uma forma geral, passei relativamente bem, sem enjoos, apenas com algum cansaço e com as dores articulares habituais. Pelo caminho, claro que perdi o cabelo, as sobrancelhas, as pestanas, mas já me tinha preparado para esta fase”, explica. É essencial saber quais os possíveis efeitos dos tratamentos no curto prazo, pelo que Eunice antecipou-os: “Antes de começar os tratamentos tatuei as sobrancelhas, tratei da peruca e depois aos poucos tudo voltou ao normal.”

 

O acompanhamento atual

“Hoje continuo a ser acompanhada no hospital da CUF, no Porto”, refere, “a Dra. Susana Sousa é muito atenciosa, é tranquila e trata este tema com alguma leveza, o que é muito importante, porque tenho que encarar este acompanhamento e este cuidado que tenho que ter como um aliado, para que não tenha mais surpresas no futuro”.

Eunice é também acompanhada por uma ginecologista. Este acompanhamento está muito relacionado “com o espessamento do endométrio, que tem a ver com o efeito secundário da terapia hormonal que faço e que vou ter que fazer durante dez anos”. O braço esquerdo, por outro lado, requer alguma “fisioterapia, compressoterapia” e também a utilização de “uma manga elástica”, explica.

 

A vida depois do cancro

No geral, hoje em dia tenta manter acima de tudo uma vida saudável: “Continuo a fazer exercício físico, tenho mais cuidado com aquilo que é a alimentação e tento também ter uma vida menos stressante. E aprendi a relativizar, porque quando a saúde passa a ser a nossa prioridade, tudo o resto deixa de ter a mesma importância que tinha antes”.

 

3 mensagens a reter

Eunice termina a sua história com três mensagens que deixa para todas as mulheres: “A primeira mensagem, o cuidado com os exames de diagnóstico, um ano pode fazer a diferença, quer seja no tratamento, quer seja nas complicações, quer seja nos efeitos secundários. A segunda mensagem está relacionada com a equipa médica, em quem devemos confiar, a quem nos devemos entregar e devemos, de facto, dar prioridade a todo o tratamento que nos é aconselhado. E, em terceiro lugar, manter uma atitude positiva, durante o diagnóstico, no tratamento e no acompanhamento. É possível ultrapassar. E se voltar a acontecer, será possível ultrapassar as vezes que sejam necessárias.”

Mulher com cancro da mama em consulta faz perguntas ao médico