O que é?

A Dermatite atópica é uma doença inflamatória crónica da pele, com início habitual durante a infância.

A sua incidência tem vindo a aumentar ao longo dos últimos 40 anos, e atualmente estima-se que afete entre 10% e 20% da população pediátrica. Trata-se de uma doença muito comum, mais frequente em áreas urbanas.

Tem início precoce, aparecendo geralmente no primeiro ano de vida. O prognóstico é favorável na maioria das situações, sendo que aproximadamente 60% das crianças apresentam diminuição ou desaparecimento completo das lesões antes da puberdade.

Em 90% dos casos surge antes dos cinco anos de idade, com 60% das ocorrências no primeiro ano de vida. A dermatite atópica tem uma distribuição universal e ambos os géneros são igualmente atingidos.

Em Portugal, estima-se que cerca de 10% das crianças são afetadas pela doença. Na maior parte das situações a patologia tende a melhorar muito e até a desaparecer com a idade, embora possa permanecer por toda a vida. A persistência é mais observada nos casos onde o aparecimento é tardio.

De um modo geral, a dermatite atópica atinge pessoas com história pessoal ou familiar de asma, rinite alérgica ou dermatite atópica.

Sintomas

Caracteriza-se por prurido cutâneo, que tende a ser recorrente, sendo que a distribuição das lesões varia com a idade. As típicas de fase aguda consistem em erupções avermelhadas, formando pápulas ou vesículas, com exsudação e formação de crosta que evoluem, na fase crónica, para lesões descamativas.

Esta dermatite pode, na primeira infância, atingir toda a superfície corporal, mas poupa em geral a região das fraldas; durante a segunda infância ocorre preferencialmente nos membros, com particular destaque nas superfícies flexoras. Na idade adulta as lesões localizam-se nas mãos e pés, nas zonas flexíveis dos membros e na região cervical. A pele nestas zonas torna-se mais grossa, áspera e escurecida. Embora se tenda a localizar nestas regiões, a dermatite atópica pode generalizar-se, atingindo grandes áreas corporais. O ato de coçar pode causar escoriações na pele e infeção secundária.

Passada a infância, pode ocorrer a eliminação total das lesões mas, geralmente, a doença tem curso crónico, com períodos de melhoria e de agravamento. É comum, após o desaparecimento da dermatite atópica, ocorrer a substituição desta por uma das outras formas de apresentação da atopia (asma ou rinite). Outra característica da pele nestes casos é a sua maior tendência para secar, o que pode também dar origem à sensação de prurido e à descamação. O stress emocional pode desencadear períodos de exacerbação.

Causas

A causa exata é desconhecida. Na sua origem parecem estar mecanismos imunológicos de hipersensibilidade imediata, comuns a outras doenças como a asma brônquica e a rinite, e de hipersensibilidade retardada.

A componente hereditária é importante. Numa criança em que um dos pais apresente uma condição atópica (asma, rinite alérgica ou dermatite atópica) tem aproximadamente 25% de probabilidades de mostrar também alguma forma de doença atópica. Essa percentagem passa para 50% se ambos os pais apresentarem esta patologia.

Diagnóstico

Podem ser necessárias várias visitas até que o médico consiga fazer o diagnóstico. Não existe nenhuma análise específica para dermatite atópica. A análise é feita em função das características próprias das lesões e toma em consideração a existência de possíveis alergias noutros membros da família.

Apesar de poder parecer-se muito com a dermatite seborreica das crianças, é importante a sua distinção porque as complicações e o tratamento são diferentes.

Tratamento

Não existe cura para a dermatite atópica mas certas medidas podem ser benéficas:

  • É importante evitar o contacto com substâncias que irritem a cútis;
  • Para evitar a pele seca, o banho deve ser rápido e com água morna. Convém evitar o uso excessivo de sabonetes e deve-se aplicar um hidratante neutro logo a seguir, antes que a água que está na pele se evapore;
  • Os cremes com corticosteroides podem suavizar as lesões e controlar o prurido. A sua utilização deve ser sempre feita de acordo com as instruções do médico;
  • É útil aplicar vaselina ou óleo vegetal nas áreas afetadas para ajudar a manterem-se macias e lubrificadas;
  • Os anti-histamínicos podem, por vezes, controlar o prurido, em parte porque atuam como sedativo. Como estes fármacos podem causar sonolência, é melhor aplicá-los à noite;
  • Manter as unhas curtas pode ajudar a reduzir o dano causado pela comichão e diminuir as probabilidades de infeção;
  • Em caso de inflamação cutânea pode ser necessário o recurso a antibióticos orais;
  • O tratamento com luz ultravioleta associado a doses orais de psoralene, um fármaco que intensifica os efeitos da luz ultravioleta sobre a pele, pode ajudar os adultos. Este tratamento raramente é prescrito às crianças.

Prevenção

Não existindo uma causa conhecida, não se pode prevenir a dermatite atópica. O que é importante é adotar medidas que protejam a pele, que reduzam a secura e que a mantenham mais saudável:

  • O banho deve ser diário, rápido e com água morna. A secagem deve ser feita sem esfregar a cútis e deve ser imediatamente aplicado um creme para favorecer a hidratação e manter a sua função de barreira;
  • Convém reforçar que uma pele seca causa mais prurido, agravando o ciclo da dermatite atópica;
  • As unhas devem estar sempre bem cortadas e limpas para evitar as infeções microbianas secundárias ao ato de coçar;
  • O suor tende a agravar a dermatite atópica e, por esse motivo, é recomendável tomar banho após a prática de desporto;
  • As roupas que contactam diretamente com a pele, incluindo os lençóis, devem ser de fibras naturais, como o algodão. É recomendável que sejam bem enxaguadas de modo a remover restos de detergente, que frequentemente agravam a doença;
  • O calçado deve ser de couro e as meias de algodão, de modo a permitir um bom arejamento;
  • O excesso de calor e as mudanças bruscas de temperatura podem ser fatores de agravamento. Assim, os quartos devem ser bem arejados e os aquecedores evitados. Deve-se limitar o uso excessivo de cobertores na cama para evitar a transpiração.
  • Os ácaros e o pó também intervém na dermatite atópica, pelo que se deve remover tapetes, alcatifas, cortinas, peluches e tudo aquilo que pode levar à retenção desta subespécie de aracnídeos nos quartos.
Fontes

Manual Merck online

Susana Oliveira e col., Síndrome de Eczema/Dermatite Atópica em Portugal - Perfil de Sensibilização, Ver. Port. Imunoalergol., 2005 ; 13 (1) : 81 - 88

American Academy of Dermatology, 2013

National Institute of Arthritis and Musculoskeletal and Skin Diseases, National Institutes of Health, Set. 2009

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