Tudo o que tem de saber sobre a doença celíaca

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Bebés e crianças
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Consiste na sensibilidade ao glúten e pode provocar vários sintomas, especialmente gastrointestinais. Saiba o que poderá estar na sua origem e como tratar.

A doença celíaca é uma doença autoimune do intestino, causada por uma sensibilidade permanente ao glúten em indivíduos geneticamente suscetíveis. O glúten diz respeito a um conjunto de proteínas vegetais que conferem capacidade de absorção de água, viscosidade e elasticidade às farinhas que as contêm. As proteínas do glúten são ricas em prolinas e glutaminas, as quais são deficientemente digeridas a nível do trato gastrointestinal, sendo a gliadina a principal componente tóxica para indivíduos suscetíveis. O glúten existe no trigo, centeio, cevada e aveia.

 

Qual é a sua prevalência?

O desenvolvimento da doença depende de uma interação de fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Na Europa, a sua prevalência varia entre 0,2 a 1,2% e, em Portugal, a prevalência da doença celíaca é desconhecida, existe apenas um estudo efetuado numa população de adolescentes de Braga no qual a prevalência foi de um caso num universo de 134.  

 

Reação ao glúten

 A ingestão de glúten em indivíduos geneticamente predispostos à doença desencadeia uma reação imune que vai causar uma inflamação crónica na mucosa e submucosa do intestino delgado, com consequente atrofia das vilosidades intestinais e repercussões na absorção dos vários nutrientes, como: 

  • Ferro
  • Ácido fólico
  • Cálcio
  • Vitaminas lipossolúveis

 

Várias formas de doença celíaca

Consoante a presença de sintomas, anticorpos específicos, estudo genético e as características das biópsias, a doença celíaca classifica-se em forma: 

  • Clássica
  • Atípica
  • Silenciosa
  • Latente
  • Potencial

 

Como é que se manifesta?

As manifestações clínicas variam consideravelmente de acordo com a idade e a quantidade de glúten ingerido na dieta. Assim, nas crianças, a forma clássica da doença celíaca apresenta-se com sintomas gastrointestinais que têm início entre os seis meses e os dois anos após a introdução do glúten na alimentação. 

Os sintomas mais frequentes são: 

  • Diarreia prolongada (mais de três semanas)
  • Desconforto abdominal
  • Náuseas e vómitos
  • Irritabilidade
  • Falta de apetite
  • Má progressão de peso
  • Atraso de crescimento
  • Obstipação

O abdómen proeminente e as nádegas aplanadas completam o aspeto característico destes doentes. Quando o diagnóstico não é efetuado atempadamente podem verificar-se situações de malnutrição.

 

Crianças em idade escolar

No caso das crianças em idade escolar e adolescentes são frequentes as formas clínicas; as manifestações digestivas podem estar ausentes ou ocupar um segundo plano.

Por vezes, a primeira manifestação da doença surge sob a forma de obstipação difícil de responder ao tratamento habitual, associada ou não a dor abdominal tipo cólica. Outras formas de apresentação são:

  • Baixa estatura inexplicada
  • Atraso pubertário
  • Anemia por falta de ferro e, sobretudo, resistente à terapêutica com ferro
  • Alterações do esmalte da dentição secundária

 

Patologias associadas à doença celíaca

Existem também uma série de doenças que estão associadas à doença celíaca. Podem surgir antes do diagnóstico da doença celíaca, manifestar-se em simultâneo ou depois do diagnóstico. Os doentes que as manifestam são considerados grupos de risco, uma vez que a sua associação à doença celíaca é muito maior do que a esperada. São os casos de doentes com:

  • Dermatite herpetiforme
  • Síndrome de Down
  • Síndrome de Turner
  • Síndrome de Williams
  • Diabetes tipo I
  • Défice de IgA
  • Tiroidite autoimune e outras doenças autoimunes

Também as pessoas que tenham familiares de 1º grau de parentesco com doença celíaca devem ser considerados de risco, pelo que devem ser rastreados para eventual diagnóstico de doença celíaca.

 

Avaliação diagnóstica

Nas crianças e adolescentes com sinais e sintomas sugestivos de doença celíaca, a avaliação diagnóstica deve incluir a realização de exames laboratoriais (análises de sangue) e, consoante os resultados, a realização de biópsia intestinal. As análises de sangue devem incluir a determinação do anticorpo antitransglutaminase (Ac AT) e a imunoglobulina IgA. Se o Ac AT for positivo, o doente deve ser referenciado à consulta de gastrenterologia, para complementação diagnóstica. No caso de crianças assintomáticas, mas pertencentes a grupos de risco para doença celíaca, devem inicialmente também efetuar a determinação de HLA Dq2 e Dq8 (marcadores genéticos específicos).

 

Outros exames de diagnóstico 

 O Anticorpo anti-endomísio (Ac AE) também pode ser utilizado para orientar o diagnóstico, mas deve ser efetuado em laboratórios com muita experiência, uma vez que a técnica de leitura depende do observador. A biópsia intestinal é efetuada através de endoscopia digestiva alta. Nesse exame, que é habitualmente feito sob sedação, são colhidos vários fragmentos do intestino delgado, que depois são orientados para o anatomopatologista, que observa ao microscópio e caracteriza a atrofia vilositária. É fundamental não retirar o glúten da alimentação antes do diagnóstico definitivo da doença celíaca. 

 

Tratamento da doença celíaca

O único tratamento cientificamente provado para a doença celíaca consiste em efetuar uma dieta isenta de glúten para toda a vida. Isto é, não poder ingerir os alimentos que contenham farinha de cevada, centeio, aveia e trigo. Este tratamento só deve ser iniciado após a confirmação do diagnóstico e que, na maioria dos casos, exige a realização da biópsia intestinal.

Há evidência de que pequenas quantidades de glúten na dieta não causam quaisquer sintomas imediatos no doente, mas lesam a mucosa intestinal, aumentando o risco de desenvolver cancro no tubo digestivo (carcinomas faríngeos, esofágicos, adenocarcinoma do intestino delgado e Linfomas de Hodgkin), outras doenças autoimunes, alterações do metabolismo ósseo, problemas relacionados com a fertilidade, alterações neurológicas e psiquiátricas. Razões mais do que suficientes para que a dieta seja cumprida de forma muito rigorosa.

 

A importância de cumprir a dieta

Felizmente, o intestino tem uma grande capacidade de regeneração pelo que, se a dieta for cumprida, vai permitir o desaparecimento das manifestações clínicas assim como a normalização da mucosa intestinal. A dieta sem glúten é a única forma de assegurar o desenvolvimento e crescimento adequado da criança e adolescente e a única forma de os proteger das complicações da doença celíaca na idade adulta.

 

Sabia que…

A doença celíaca é mais frequente no sexo feminino, com uma relação de três para um.

Publicado a 30/06/2014
Doenças