Medicina com foco no desportista

Desporto
Prevenção e bem-estar
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Não são apenas os atletas profissionais que precisam de acompanhamento clínico especializado. Saiba de que modo este apoio promove a prática desportiva segura.

O exercício físico é basilar num estilo de vida saudável, embora nem todos o pratiquem com a mesma intensidade, seja por opção ou por necessidade. Independentemente do nível do atleta, profissional, de alto rendimento ou recreacional, o acompanhamento médico especializado pode fazer toda a diferença na performance, não só garantindo que a sua prática é mais segura, como diminuindo o risco de lesões. João Torres, ortopedista e traumatologista especializado no desportista, e Paulo Beckert, médico especialista em Medicina Desportiva e Medicina Física e Reabilitação, explicam não só o papel fundamental que a atividade física deve ter na nossa vida, como a importância de recorrer a um acompanhamento médico multidisciplinar, que dê resposta às diferentes necessidades do atleta.



Exercício físico, parte fundamental de uma vida saudável

Quando a questão é “como posso ter um estilo de vida saudável?”, há duas medidas que estão à cabeça das recomendações que tanto ouvimos dos profissionais de saúde: seguir uma alimentação equilibrada e variada e praticar exercício físico. Colocando o foco neste último, Paulo Beckert, especialista em Medicina Desportiva, refere que o exercício físico é muito vantajoso para a saúde de um modo geral: “Tem benefícios a vários níveis, desde cardiopulmonares, no metabolismo, no ganho de força muscular, sobre aspetos cognitivos - porque melhora o tipo de relação das pessoas e o bem-estar e motiva-as - e também tem os benefícios no controlo de doenças crónicas”.

João Torres, ortopedista e traumatologista, salienta ainda o papel do exercício físico no aparelho musculoesquelético, constituído pelos ossos, articulações e músculos: “Eu costumo usar uma metáfora e perguntar aos meus doentes o que acontece se eles pegarem no seu carro e o estacionarem durante um ano na garagem. Passado um ano, quando tentam pegar no carro, este vai funcionar? Não vai. Isso é o que acontece com o nosso aparelho musculoesquelético: se não o utilizarmos, nomeadamente com a prática de exercício físico, ele vai atrofiar e vai deixar de funcionar.”

 

Jovens ativos serão idosos mais saudáveis

“A prática do exercício físico é fortemente recomendada em todas as faixas etárias”, afirma Paulo Beckert, referindo que os benefícios são próprios de cada idade, desde a “fase de crescimento, de maturação, de ganhar qualidades físicas, ganhar a capacidade de controlo neuromuscular e até mesmo ajudar a não ser sedentário e a controlar o peso. Em idades avançadas, ganha igualmente importância - se é que não mais importância -, porque vai preservar todas as qualidades que já se adquiriram, vai manter a flexibilidade, a mobilidade, ajudar a capacidade muscular para as atividades da vida diária, para manter o equilíbrio, além de toda a socialização que pode trazer ao praticar exercício físico com outras pessoas. Também tem efeitos sobre o aspeto cognitivo, emocional e o controlo da ansiedade e depressão que muitas vezes se instala nessas idades”.

No que diz respeito ao aparelho musculoesquelético em concreto, João Torres também destaca o papel do exercício físico para um envelhecimento saudável: “A prática de exercício físico contribui para a qualidade de vida, mas, sobretudo, quando somos mais velhos. Nós é que escolhemos a forma como envelhecemos, com mais ou menos qualidade”. Explica ainda que, “se calhar, quando somos mais novos, disfarçamos melhor a falta de exercício físico, mas quando começamos a ficar mais velhos, o nosso corpo necessita de mais”. Com o envelhecimento surge a perda de músculo - um fenómeno denominado sarcopenia -, e, portanto, “se nós praticarmos atividade física regular e regrada, vamos não só contribuir para não perder o músculo, como vamos, por exemplo, no caso da estrutura óssea, combater a perda de massa óssea que também acontece com a idade. Portanto, é óbvio que o exercício físico é ótimo em qualquer idade, mas, sobretudo, numa idade mais avançada”.

 

A importância do acompanhamento médico focado no desportista

O primeiro passo para garantir uma prática desportiva saudável passa por consultar um especialista. O ortopedista João Torres refere que “devemos fazer uma avaliação global do nosso estado físico, que deve ser feita por profissionais que a saibam realizar”. Paulo Beckert concorda, acrescentando que devemos realizar “um exame periódico de saúde para perceber em que estado estamos, para poder submeter o nosso corpo a cargas de treino ou de exercício e perceber se há algumas limitações ou contraindicações”. 

Nesse sentido, existem especialidades médicas focadas no atleta, não só de alta competição, mas em todos aqueles que praticam desporto, independentemente da idade ou nível: a Medicina Desportiva e a Medicina Física e Reabilitação. No entanto, estas não são as únicas que prestam cuidados aos praticantes de exercício físico, que beneficiam de um acompanhamento multidisciplinar, idealmente com várias especialidades presentes num mesmo local. Segundo Paulo Beckert, “há muitas vantagens: há um acesso a um diagnóstico mais rápido, uma avaliação integrada, uma comunicação eficiente entre as equipas, um ganho de tempo para o doente”. João Torres completa, referindo que “uma unidade multidisciplinar faz todo o sentido para acompanhar atletas profissionais, que precisam de ter tudo no mesmo local para poderem ser tratados, mas faz também todo o sentido para todos aqueles que não são atletas profissionais, mas que muitas vezes praticam desporto todos os dias da semana e vão precisar exatamente dos mesmos cuidados, ou mais, porque além disso, ainda tem a sua profissão. E, portanto, a vantagem de ter uma unidade multidisciplinar é que vão encontrar tudo o que necessitam para poderem ter melhor rendimento e menos lesões”.

 

Especialidades que pensam no atleta

Além da Medicina Desportiva e Medicina Física e Reabilitação, existem outras especialidades médicas e não médicas que podem dar apoio ao atleta, quer de recriação quer de alto rendimento. Segundo João Torres e Paulo Beckert, algumas delas incluem:

  • Cardiologia, para avaliar a sua resistência cardíaca para a prática de exercício físico;
  • Pneumologia, para avaliar os pulmões;
  • Ortopedia, existindo ortopedistas especializados na patologia do desportista;
  • Medicina Física e Reabilitação, existindo fisiatras especialistas em desporto e patologias musculoesqueléticas (microtraumatologia) e em estreita colaboração com fisioterapeutas;
  • Imagiologia na avaliação dos exames de imagem;
  • Imunoalergologia, por exemplo, no caso dos atletas com asma;
  • Medicina Dentária;
  • Podologia;
  • Nutrição, para delinear um plano alimentar adequado ao esforço que vai praticar;
  • Psicologia, para ajudar a quebrar algumas barreiras e ter maior performance.

 

Cuidados a ter com o treino e equipamento

A par de um acompanhamento médico focado no desportista, é também fundamental saber escolher o melhor tipo de material e equipamento técnico necessário à modalidade que pretendemos praticar. “Se se estiver a treinar para corrida, as sapatilhas fazem imensa diferença de acordo com o tipo de passada do corredor. Se se estiver a jogar ténis ou padel, escolher uma raquete errada pode favorecer o aparecimento de lesões”, exemplifica o ortopedista.

Por último, também devemos ter em consideração que “qualquer desporto que pratiquemos tem uma técnica específica, que deve ser seguida, isto é, devem-nos ser ensinados pelo menos os princípios básicos, porque assim não vamos cometer erros que vão levar a lesões”, aconselha João Torres.

Homem desportista agarra o joelho, com dor.

O papel da recuperação pós-esforço e a importância de ouvir o corpo

Depois de um esforço, há que deixar o corpo descansar. Segundo Paulo Beckert, “os processos de recuperação pós-esforço são essenciais”, com uma “progressão das cargas - o gradualismo -, dar intervalos para recuperação e poder garantir que há uma adaptação fisiológica”. Finalmente, devemos prestar atenção ao que o nosso corpo nos diz e perante sinais de que a atividade não está a ser tolerada, como uma dor ou um desconforto, devemos parar ou alterar o tipo de atividades ou cargas e procurar uma avaliação ou recuperar do esforço, recomenda o médico especialista em Medicina Desportiva, Paulo Beckert.

Publicado a 15/01/2025