Saúde auditiva

A vigilância é fundamental

Outra especialidade que não pode ser relegada para segundo plano durante a pandemia é a Otorrinolaringologia, até pela sua amplitude, ao englobar três sistemas distintos com grande relevância para a saúde geral: ouvidos, nariz e garganta.

“Em idade pediátrica, a queixa mais frequente no mundo inteiro é a dor de ouvidos”, explica João Pedro Leandro, Coordenador de Otorrinolaringologia no Hospital CUF Cascais. Existem também as perdas auditivas, que embora possam ocorrer nos adultos, são mais relevantes nas crianças, uma vez que podem condicionar a aquisição da linguagem, a escrita e até o próprio desenvolvimento sociocultural. “Toda a nossa sociedade está estruturada tendo por base uma comunicação áudio-verbal, pelo que, quando essa comunicação está prejudicada, todas as outras áreas se ressentem.” Isto não significa que, na idade adulta, e nomeadamente em faixas mais avançadas, a perda auditiva não tenha consequências nefastas, podendo até levar ao isolamento social ou à depressão. “Nesta fase da vida, as pessoas têm a sensação que ouvem e, por isso, levam muito tempo até perceberem que alguma coisa não está bem.”

Em ambos os casos, é importante permanecer atento aos sinais de alerta – que podem incluir dores de ouvidos, perda de audição, obstrução nasal, perda de olfato ou paladar, dificuldade em engolir, rouquidão ou falta de ar – para que o acompanhamento médico aconteça o mais cedo possível. “Existem testes auditivos que realizamos à nascença e nos podem alertar para a existência de um problema auditivo”, refere o médico.

No entanto, à medida que o tempo passa, os pais devem vigiar situações como a incapacidade de dizer as palavras expectáveis ou a falta de reação a música ou vozes. Nas crianças mais velhas, outros sinais de alerta poderão ser os maus resultados escolares ou a má articulação das palavras. Por sua vez, nos idosos, é necessário perceber se começam, por exemplo, a ter a televisão com o som demasiado alto, a não ouvir a campainha da porta ou a perceber mal uma chamada telefónica. “Os problemas auditivos começam com situações simples, como trocar palavras, e evoluem até situações graves, como não ouvir um carro a aproximar-se e correr o risco de ser atropelado”, avisa o médico.


A Consulta de Otorrinolaringologia assume até, por vezes, um caráter complementar à Imunoalergologia. “Existem, por exemplo, manifestações ao nível da pele, o eczema, a chamada asma da pele, que por vezes se estendem ao canal auditivo externo em doentes cujo motivo de consulta é terem uma comichão muito intensa. Por outro lado, ao nível nasal, temos todo o grupo das rinites alérgicas, muitas vezes associadas a sinusites, pólipos nasais ou sintomas oculares”, explica João Pedro Leandro, que acrescenta: “Qualquer situação infeciosa não tratada resultará sempre num tratamento mais difícil e a possibilidade de o concretizar com êxito também diminui.”

A sinusite, por exemplo, tem uma maior probabilidade de se tornar crónica se não for bem tratada. E até na patologia tumoral, quer seja benigna ou maligna, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais conservador tenderá a ser o tratamento.

Por isso, não se esqueça: mantenha os cuidados com a COVID-19, mas não deixe que esta adie a sua saúde.

João Leandro

Fotografia © Miguel Madeira 4SEE

Publicado a 16/06/2021