Longevidade: o desafio de viver mais e melhor
Quais são os maiores obstáculos a uma vida longa e saudável? No ano em que celebra 8 décadas, a CUF procurou responder a esta questão na conferência “Longevidade e Envelhecimento”, realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O debate marcou também o arranque da exposição itinerante “80 anos, a Vitalidade de Sempre”, que recorda marcos históricos da CUF e evidencia os desafios que a saúde enfrenta hoje e no futuro.
Vivemos cada vez mais tempo. Em Portugal, um dos países mais envelhecidos da Europa, a esperança média de vida é de 81,49 anos, segundo dados do triénio 2022-2024 do Instituto Nacional de Estatística, e cerca de um quarto da população tem 65 ou mais anos. Embora resultante do avanço dos cuidados de saúde e da melhoria das condições de vida, esta evolução também traz desafios. Agora que conseguimos vidas mais longas, como podemos viver melhor, com qualidade, autonomia, equilíbrio físico, mental e emocional?
Sofia Baptista, Coordenadora de Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Porto, uma das palestrantes na conferência, lembra que o envelhecimento da população traz consigo um aumento significativo do número de doentes que acumulam duas ou mais doenças crónicas. “Em Portugal, estima-se que estes doentes com multimorbilidade representem mais de um terço da população, com maior incidência entre idosos, mulheres e pessoas com menor escolaridade”, sublinha.
Perante esta realidade, é crucial um acompanhamento cada vez mais próximo, personalizado e integrado, particularmente no contexto das doenças cardiovasculares, oncológicas e neurológicas, cujo impacto vai muito além do facto de continuarem a ser as principais causas de morte a nível mundial. Estas doenças representam hoje um dos maiores desafios à longevidade também pela morbilidade que lhes está associada: comprometem a autonomia, a mobilidade e a saúde mental, especialmente nas idades mais avançadas.
Prevenir antes de tratar
A prevenção é o verdadeiro ponto de partida da longevidade. Promover a saúde antes de surgirem sinais de doença é o que defende Sofia Baptista, que lembra o papel central da Medicina Geral e Familiar na promoção da saúde ao longo da vida. “Ser médico de família não é sobre acompanhar episódios de doença, mas sim histórias de vida”, afirma. Por isso, “a vigilância médica não se deve focar em episódios isolados de doença, mas sim na continuidade da história de cada pessoa, com especial atenção na prevenção e na redução da mortalidade”, acrescenta.
Na área da Cardiologia, por exemplo, esse acompanhamento pode ser decisivo, sublinha Filipe Macedo, Diretor Clínico e Coordenador de Cardiologia no Instituto CUF Porto. Para o especialista, que abordou a problemática das doenças cardiovasculares na conferência, “melhorar a literacia em saúde é uma das maiores armas de prevenção que temos”. Doenças como a hipertensão, a fibrilhação auricular ou a insuficiência cardíaca — que se têm tornado cada vez mais comuns, à medida que a população envelhece — podem passar despercebidas durante anos, até surgirem complicações graves.
Reconhecer os fatores de risco e agir sobre eles precocemente é essencial para evitar a progressão da doença e preservar a qualidade de vida.
Na Oncologia, também é claro o impacto direto da vigilância nas taxas de sobrevivência. Como sublinha Ricardo Leão, Diretor Clínico e Coordenador de Urologia no Hospital CUF Coimbra que também participou na conferência, “quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior a probabilidade de cura e menor o impacto das terapêuticas no envelhecimento dos doentes”. Em muitos casos, diz o especialista, “um exame médico atempado é a diferença entre uma doença curável, com tratamento relativamente simples, e uma doença avançada, com possibilidade de mais efeitos colaterais a longo prazo”.
Apesar de essenciais no tratamento do cancro, terapêuticas como quimioterapia, radioterapia ou cirurgias podem afetar a qualidade de vida. “Temos cada vez mais sobreviventes de cancro e isso é uma vitória. Mas também nos coloca novos desafios”, diz Ricardo Leão. Para lhes dar resposta, foi criada de forma pioneira em Portugal, a Unidade do Sobrevivente de Cancro da CUF.
Estilo de vida saudável é essencial
Se a prevenção é a base da longevidade, os estilos de vida são os seus alicerces. Os especialistas convergem na importância de vários fatores, entre os quais ter bons hábitos de sono. “Durante o sono, o cérebro limpa toxinas e consolida memórias. Dormir mal acelera o declínio cognitivo, desregula o apetite, reduz a imunidade e aumenta o risco de quedas”, alerta Isabel Luzeiro, Coordenadora de Neurologia no Hospital CUF Coimbra, que falou sobre o tema na conferência “Longevidade e Envelhecimento”. Promover uma boa higiene do sono é uma das formas mais simples e eficazes de preservar a função cerebral com o avançar da idade, garante.
Outros fatores importantes são a correta gestão do stress e o cultivo de relações interpessoais. “O stress crónico, a solidão e a falta de conexão social têm impacto direto na saúde cardiovascular, neurológica e mental”, assinala Filipe Macedo. Além da intervenção clínica, Isabel Luzeiro sublinha a importância de combater a invisibilidade social dos mais velhos: o estigma da incapacidade, o isolamento, a falta de reconhecimento do seu valor. “Tudo isto afeta a sua saúde mental e cognitiva”, afirma.
"A longevidade existe, mas nem sempre é sinónimo de uma vida plena. O maior desafio é garantir qualidade nos anos que ganhámos", afirma Isabel Luzeiro.
No campo da medicina, os avanços têm sido notáveis, mas não dispensam um modelo de cuidados centrado no doente, com equipas articuladas, foco na prevenção e na educação em saúde. É essa a abordagem que a CUF tem vindo a reforçar nos seus 80 anos de história — e que continuará a aprofundar no futuro. Mais do que acrescentar anos à vida, o que se pretende é acrescentar vida aos anos, através da promoção de hábitos saudáveis. Porque, como conclui Sofia Baptista, o nosso estilo de vida também nos pode proteger. “Estar integrado, ativo e acompanhado faz parte da nossa saúde. E, no fundo, é isso que define uma boa longevidade.”
Uma das maiores ameaças à saúde pública no século XXI
A Organização Mundial da Saúde estima que as alterações climáticas provoquem 250 mil mortes por ano entre 2030 e 2050. Em Portugal, em particular, prevê-se um aumento da frequência e da intensidade de ondas de calor, que já causaram cerca de 2 mil mortes em 2022. Algumas medidas a adotar para mitigar os efeitos das alterações climáticas na saúde passam por evitar a exposição solar excessiva e ao calor, beber muita água e aumentar a proteção contra mosquitos transmissores de doenças.
A exposição itinerante “80 anos, a Vitalidade de Sempre”, num formato interativo e pedagógico, percorreu entre junho e novembro várias cidades - Coimbra, Torres Vedras, Porto, Viseu, Leiria, Santarém, Barreiro e Lisboa,
Página dedicada aos 80 anos da CUF.
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