O que é?

A Trocanterite é um quadro doloroso localizado na face externa da anca, com irradiação pelo membro inferior, razão pela qual pode uma dor ciática. Este quadro é também conhecido como bursite trocantérica ou síndrome doloroso do grande trocanter.

Este quadro resulta de uma inflamação de uma bursa, que corresponde a uma estrutura gelatinosa em forma de saco que contém um fluido. Existem bursas em diversas articulações sendo as mais importantes as que se localizam no ombro, cotovelo, anca, joelho e calcanhar.

As bursas funcionam como almofadas entre os ossos e os tecidos vizinhos, reduzindo a fricção que ocorre entre os músculos e os ossos quando os músculos se contraem. 

O grande trocanter é uma saliência localizada na porção superior do fémur onde se inserem músculos essenciais para o funcionamento da articulação da anca. Este grande trocanter apresenta uma bursa que pode sofrer inflamação, originado este quadro.

A trocanterite pode resultar de outras causas que não a inflamação da bursa trocantérica. Pode ter origem nos tendões ou músculos vizinhos (médio e pequeno glúteo, entre outros) e pode ter causas muito diversas, sendo a mais frequente a sobrecarga mecânica.

É uma doença que afeta as mulheres cerca de quatro vezes mais do que os homens.

Ocorrem cerca de 1,8 casos/1.000 por ano e é uma condição que afeta entre 17,6% a 35% dos adultos, dependendo da população estudada.

Sintomas

Os sintomas mais comuns da trocanterite são a dor a nível da face externa da anca, descendo ao longo da coxa. Nas fases iniciais, a dor é mais aguda, localizada e intensa e, posteriormente, torna-se mais difusa. A dor da trocanterite acentua-se com o movimento e quando se exerce pressão sobre a anca.

Esta dor tende a piorar durante a noite, quando o paciente se deita sobre a anca afetada, e quando o paciente se tenta levantar de uma cadeira depois de ter estado sentado algum tempo. Pode ainda piorar após caminhadas longas ou após a subida de escadas.

Causas

A trocanterite pode afetar qualquer pessoa, mas é mais comum nas mulheres e nas pessoas de meia-idade ou mais idosas. É menos comum nos jovens e nos homens.

Os fatores de risco mais comuns são as lesões por excesso de uso com movimentos repetitivos, como correr, subir escadas, andar de bicicleta ou estar de pé longos períodos de tempo.

No que se refere a atividades desportivas, a corrida é o que mais associa a este quadro, sobretudo quando se introduzem novos esquemas de exercício.

Uma queda sobre a anca, bater com a anca contra uma superfície saliente ou permanecer deitado muito tempo sobre um dos lados do corpo podem também causar trocanterites.

As lesões da coluna (escoliose, artrite da coluna lombar), uma assimetria no comprimento entre as duas pernas, a artrite reumatóide, a fibromialgia cirurgias anteriores (prótese da anca), esporões ósseos ou depósitos de cálcio que se formam dentro dos tendões que se inserem no grande trocanter são outras possíveis causas de trocanterite.

Diagnóstico

O exame médico permite identificar o local doloroso na região da anca. A dificuldade de dormir sobre o lado afetado é um elemento de diagnóstico importante. 

O estudo radiográfico e a ressonância magnética permitem um diagnóstico mais rigoroso.

Tratamento

O tratamento, de um modo geral, consiste na alteração da actividade física (nos casos em que esta lesão está associada a uma atividade repetitiva e excessiva), no uso de anti-inflamatórios não esteróides, gelo local e exercícios que permitam melhorar a condição dos músculos e tendões. A fisioterapia, com tratamentos locais é muito eficaz embora não exista muita evidência científica sobre a sua utilidade nestes casos.

É realmente importante evitar as atividades que agravam os sintomas. O uso de uma bengala durante uma semana ou mais pode ser muito útil.

Os anti-inflamatórios podem causar diversos efeitos secundários, razão pela qual a sua utilização deve ser realizada após prescrição médica e ser devidamente acompanhada.

Pode ser necessário complementar este tratamento com uma injeção na bursa de anestésico local e de um corticosteróide (infiltração). Se a primeira injeção não resultar, ela pode ser repetida uma ou duas vezes, com intervalo de algumas semanas.

Nos casos que não melhorem com o tratamento conservador, após cerca de 2 a 4 meses, poderá existir indicação para um tratamento cirúrgico. Contudo, é raro recorrer ao tratamento cirúrgico. 

A cirurgia passa pela remoção da bursa. Essa remoção afeta a anca e esta pode funcionar normalmente sem a bursa. Este tipo de cirurgia pode ser realizado mediante uma artroscopia, que consiste na criação de duas pequenas incisões e que é, por isso, menos invasiva, menos dolorosa e permite uma recuperação mais rápida.

Após a cirurgia, é importante um período de reabilitação, de um modo geral curto, mediante o uso de bengala ou de canadianas.

Prevenção

Esta prevenção passa pela identificação dos comportamentos e atividades que aumentam a inflamação, de modo a que possam ser evitados.

É essencial um aquecimento adequado com extensão dos músculos da coxa antes de se iniciar atividade física que incida sobre a anca. 

No caso do ciclismo, é importante não ajustar o assento numa posição muito elevada.

Destacam-se, como já se referiu, os movimentos repetitivos que exercem sobrecarga sobre a anca. Não se deve permanecer sentado durante longos períodos de tempo ou deitar-se sempre sobre o mesmo lado.

Quando é necessário curvar-se, deve-se fletir os joelhos em vez das costas ou da anca.

Perder peso, quando em excesso, é importante. No caso de existirem assimetrias entre as duas pernas, deve-se utilizar calçado apropriado que corrija essa diferença.

É igualmente útil manter a força e a flexibilidade de todos os músculos da região da anca.

Fontes

American Academy of Orthopaedic Surgeons, Agosto 2007

Clinical Key, Elsevier, 2012

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