Sarcopenia: como atrasar a perda de músculo

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Uma das consequências do envelhecimento é a perda de músculo, que dificulta a vida e aumenta o risco de acidentes e outras doenças. Conheça melhor a sarcopenia.

Envelhecer faz parte do ciclo normal da vida, um processo gradual de alterações biológicas, como o declínio da visão ou as mudanças na pele e no cabelo. Outra das consequências do envelhecimento é a diminuição da massa e da função muscular - sarcopenia. A atrofia muscular associada ao envelhecimento pode começar ainda no auge da vida ativa ou agravar-se mais rapidamente na velhice. Para muitas pessoas, a sarcopenia é inevitável, no entanto, existem formas de atrasar este problema, mantendo os músculos ativos e em boa forma.

 

O que é a sarcopenia?

A sarcopenia é um distúrbio caracterizado pela perda progressiva de massa muscular, associada à diminuição da força e do desempenho físico. A redução muscular pode verificar-se de 3 % a 5 % por década a partir dos 30 anos, acelerando a progressão a partir dos 60 anos, podendo acontecer mesmo em pessoas com bastante atividade física.

Existem várias causas para o aparecimento ou evolução mais rápida da sarcopenia, algumas relacionadas com o estilo de vida sedentário e obesidade, mas também outras doenças ou alterações metabólicas:

  • Redução nos níveis de hormonas como testosterona ou hormona do crescimento;
  • Diminuição na capacidade de converter proteína em energia;
  • Malnutrição;
  • Resistência à insulina;
  • Doenças crónicas como neurológicas, doença pulmonar obstrutiva crónica, insuficiência cardíaca, diabetes, artrite reumatoide, doença nos rins, cancro ou SIDA.

 

Sabia que...

A sarcopenia atinge 5 % a 13 % da população acima de 60 anos, subindo essa percentagem para 11 % a 50 % a partir dos 85 anos. No entanto, tendo em conta a falta de diagnóstico e tratamentos, os números podem ser superiores.

 

Menos força, mais risco de acidentes

A atrofia muscular causada pela sarcopenia tem uma evolução lenta, mas a pouco e pouco começa a verificar-se a redução dos músculos em várias partes do corpo, bem como diminuição de função dos mesmos. Os sintomas também se vão tornando mais frequentes e mais intensos, podendo originar situações graves, e podem incluir:

  • Músculos mais pequenos;
  • Perda de energia e resistência;
  • Caminhar mais devagar;
  • Dificuldade a subir escadas;
  • Perda de equilíbrio;
  • Quedas, por vezes causando fraturas;
  • Dificuldade em fazer tarefas ou atividades do dia a dia.

 

A velocidade de marcha reduzida, e a menor força de preensão (a capacidade de apertar com a mão) são consideradas as características definidoras de sarcopenia.

 

Diagnóstico: questionário SARC-F e exames físicos

Além de análises e exames para avaliar os músculos ou outros testes para medir a gordura corporal em relação à massa muscular, a sarcopenia pode ser diagnosticada através de um inquérito e de exames físicos.

O questionário SARC-F, sigla inglesa, avalia de 0 a 2, a possibilidade de um conjunto de cinco situações que podem ocorrer, sendo 2 o mais provável:

  • Força: qual a dificuldade de levantar e carregar pesos;
  • Apoio à marcha: conseguir atravessar uma sala facilmente;
  • Levantar de uma cadeira: dificuldade em erguer uma cadeira sem apoio;
  • Subir escadas: conseguir subir um lanço de dez degraus;
  • Quedas: quantas quedas ocorreram num ano, entre nenhuma e mais de quatro vezes.

 

Sendo o teste SARC-F meramente um grupo de questões, existem outros testes ou exames físicos que podem ajudar a confirmar a sarcopenia ou a sua gravidade:

  • Força da mão: teste de preensão com um dinamómetro para avaliar a força das mãos, com extrapolação para o resto do corpo;
  • Cadeira: teste da força das pernas, através da contagem do número de vezes que uma pessoa sentada numa cadeira consegue levantar-se e sentar-se em 30 segundos, sem usar as mãos;
  • Marcha: no teste da velocidade de marcha é medido o tempo que a pessoa demora a percorrer quatro metros no passo habitual;
  • Teste TUG: mede o tempo que demora uma pessoa a levantar-se de uma cadeira, andar três metros, voltar atrás e sentar-se novamente;
  • Bateria de testes físicos: são feitos os testes da cadeira e da marcha seguidos, bem como outro teste para avaliar o equilíbrio em pé, durante dez segundos, em três posições diferentes.

 

Qual o tratamento para sarcopenia?

A sarcopenia é tratada essencialmente com atividade física e alimentação. Não existe medicação específica para a sarcopenia, estando alguns fármacos ou substâncias em estudo, mas nunca para substituir o treino e a alimentação.

O exercício físico, voltado para a resistência, além de atrasar ou reverter a perda muscular, pode ter efeito na melhoria do sistema neuromuscular, nos níveis de hormonas ou na conversão de proteínas. O treino deve ser preparado por um terapeuta físico ou treinador especializado, de forma a maximizar os resultados sem aumentar o risco de lesões.

Quanto à alimentação, além do cuidado com alimentos saudáveis e diversificados, é dada especial atenção a produtos ricos em proteína, ou suplementos se necessário, seguindo recomendações médicas ou de nutricionistas.

Existe medicação em estudo que atua no metabolismo e no sistema endócrino, de forma a tratar diferentes parâmetros que podem estar relacionados com a sarcopenia:

  • Urocortina 2, para contrariar a atrofia muscular, uma substância que existe no organismo atuando diretamente sobre a regulação da proteína;
  • Suplementos de testosterona ou de hormona do crescimento;
  • Medicação para tratamento da síndrome metabólica.

 

Sarcopenia e obesidade

A falta de exercício físico é uma das causas da progressão da sarcopenia, podendo esta evolução ser agravada por situações como a obesidade. Existe mesmo uma condição médica chamada obesidade sarcopénica, quando a perda de massa muscular é acompanhada do aumento de gordura.

Esta situação é potencialmente grave nos idosos, aumentando o risco de outras doenças ou lesões, e por vezes não é tida em conta. Por exemplo: um indicador frequente da obesidade é o índice de massa corporal, que compara o peso com a altura da pessoa. No entanto, os músculos pesam mais do que a gordura, pelo que uma pessoa que perdeu músculo e ganhou gordura pode ter um resultado erradamente positivo no índice de massa corporal.

 

Como prevenir a sarcopenia?

Este tipo de atrofia muscular pode não ser evitado, principalmente na velhice, mas existem passos que, tal como ajudam no tratamento, influenciam o aparecimento ou progressão da sarcopenia:

  • Manter uma alimentação saudável, procurando garantir a ingestão diária adequada de proteína: 0,8 g/kg por dia de proteína - ou seja, para um adulto saudável de 70 kg, o consumo ideal será de 56 g de proteína por dia (cerca de 20 g de proteína três vezes por dia);
  • Ter um estilo de vida ativo, com exercício físico diário adaptado à idade, principalmente treino de resistência;
  • Consultar regularmente um médico e fazer exames físicos, relatando e comparando alterações.
Fontes:

BMJ Best Practice

Cleveland Clinic

Johns Hopinks Medicine

PubMed Central

Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

Universidade de Coimbra

WebMD

Publicado a 23/06/2025