O que é o "4º trimestre da gravidez"?

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Após o nascimento começa um novo período de alterações físicas e emocionais. Este momento transitório é fundamental na adaptação à nova vida da família.

A ideia de que, após o nascimento do bebé, a vida volta ao normal cria pressão sobre os pais. O regresso à normalidade pode não ser tão rápido quanto esperam, sobretudo para a mãe, que experiencia no seu corpo alterações físicas e emocionais.

O conceito de "4º trimestre de gravidez" ajuda a encarar o período entre o parto e as 12 semanas de vida do bebé como mais um trimestre de crescimento do recém-nascido. Durante este tempo, a saúde do bebé e a saúde da mãe continuam a merecer especial atenção. Há muitas mudanças a acontecer - tanto para o bebé, como para a família - e por isso, o 4º trimestre de gravidez não deve ser focado em forçar uma certa normalidade e acelerar o futuro; é, isso sim, um trimestre para garantir a boa evolução do recém-nascido e a saúde da mãe - física e mental.

 

As mudanças em casa

A ideia do 4º trimestre de gravidez é recente e ajuda a entender as 12 semanas que se seguem ao nascimento do bebé. É um tempo de adaptação a um novo elemento em casa para todos - por exemplo, para os pais ou para os irmãos do bebé.

Ter um recém-nascido em casa pode ser cansativo, envolve muito esforço físico e muita atenção. A isto soma-se a privação de sono que, além do cansaço, pode traduzir-se em irritabilidade e flutuações emocionais.

 

Cuidados a ter:

  • Dormir sempre que possível

É importante garantir que os cuidadores do bebé estão igualmente envolvidos nesta fase do seu crescimento e também que descansam - ainda que seja preciso revezarem-se para conseguirem dormir.

A ideia de dormir quando o bebé dorme pode funcionar para alguns pais e, neste momento de adaptação, o descanso deve ser uma prioridade.

 

  • Pedir ajuda

Com o descanso como prioridade, algumas tarefas de casa vão ficar adiadas e acumuladas. Não é uma fragilidade pedir ajuda. Se existir uma rede de familiares e amigos próximos, os pais ou cuidadores da criança podem pedir-lhes ajuda para as tarefas do dia a dia ou para cuidar do bebé enquanto descansam.

Preparar esta rede de auxílio antes do parto pode, inclusive, ser um motivo de confiança para a entrada neste 4º trimestre.

 

O corpo e as emoções da mulher no 4º trimestre da gravidez

Um dos benefícios ao encarar o 4º trimestre como sequência natural após a gravidez está, também, na atenção dada à saúde da mulher. O corpo da mulher estará neste período a recuperar do grande esforço dos nove meses anteriores e, no caso das mulheres que amamentam, a preparar-se para a nova etapa da amamentação.

 

  • Alterações das emoções

A mulher está a recuperar fisicamente de um parto ou de uma cesariana, assim como de oscilações hormonais naturais desta fase. Após o nascimento, independentemente do tipo de parto, é natural a mulher ter momentos de cansaço, desânimo e até de tristeza, que são transitórios e expectáveis para um organismo que continua a sofrer adaptações e que tem que fazer face a novas exigências com o cuidado ao recém-nascido. Estes sentimentos, também designados de disforia pós-parto (ou baby blues) podem incluir choro fácil, irritabilidade e impaciência para com os outros. Não devem ser imediatamente tomados como sinónimos de depressão pós-parto ou outras condições, como ansiedade pós-parto ou psicose pós-parto, pois são compreensíveis e limitados no tempo.

 

  • Dificuldades na amamentação

A amamentação envolve um progressivo conhecimento entre o bebé e a mãe. Até o hábito da amamentação estar instalado, ocorrem por vezes problemas e incómodos que têm tratamento, como mamilos gretados, ingurgitamento mamário ou mastites. No caso da ocorrência destas situações, existem técnicas e tratamentos que podem ajudar a ultrapassar as dificuldades dos primeiros tempos.

 

Sabia que...

Pode pedir ajuda e conselhos sobre a amamentação na maternidade ou junto dos profissionais de saúde que fazem o acompanhamento pós-parto.

 

  • Sangramento vaginal

Pode acontecer durante cerca de um mês a seis semanas depois do parto. Estas perdas são chamadas lóquios, começam por ter o aspeto de sangue vermelho vivo e vão evoluindo para perdas amareladas e em menor quantidade. Não é aconselhado o uso de tampões higiénicos durante este período pelo risco de infeções. Caso as perdas de sangue apresentem mau cheiro, aspeto infetado, diferente do habitual ou sejam persistentes, consulte o seu médico assistente.

 

  • Dor abdominal

A pouco e pouco, o útero materno vai diminuir de tamanho e voltará à forma anterior à gravidez - processo de involução uterina. Este processo pode durar algumas semanas, tempo durante o qual a mulher se apercebe dessa alteração porque a barriga volta ao tamanho normal. Podem surgir algumas dores associadas à involução uterina, particularmente em períodos de amamentação, pois a amamentação estimula o útero a voltar ao tamanho normal.

 

  • Outras causas de desconforto

A recuperação de suturas como a da cesariana ou a episiorrafia pode envolver algumas dores e devem ser seguidos os cuidados recomendados pelo médico assistente para favorecer as cicatrizações. Também podem surgir hemorróidas externas ou internas que podem causar desconforto e dor, sobretudo ao evacuar.

 

O que fazer?

  • Procurar fontes de informação fiáveis: aconselhe-se junto do seu médico assistente e enfermeiros da maternidade e nas consultas de seguimento pós-parto. É importante esclarecer e tratar situações que são expectáveis, evitando que a mãe ou os cuidadores do bebé se sintam culpados ou incapazes de enfrentar os desafios da parentalidade.
  • Manter como rede de apoio pessoas que não colocam pressão na recuperação, mas que apoiam incondicionalmente este período transitório.
  • Manter o autocuidado é importante para recuperar o corpo do parto e da gestação, manter a autoestima e ultrapassar as variações emocionais próprias do 4º trimestre.
  • Manter o apoio mútuo dentro da família, a confiança e abertura para partilhar como cada um se sente sobre tudo aquilo por que está a passar.
  • Dar prioridade ao descanso e, se necessário, pedir ajuda para tratar do bebé.
  • Manter-se bem alimentada e hidratada. Os benefícios de uma alimentação equilibrada refletem-se no bem-estar físico e psicológico - este não é o melhor momento para uma alimentação restritiva ou dietas.
  • Antecipar dificuldades: se a adaptação ao bebé tornou difícil fazer compras e a preparação de refeições, pode pedir-se ajuda a familiares ou amigos. As compras online e os serviços de entrega ao domicílio podem ser aliados e, se houver oportunidade, preparar esta fase antes do parto pode também ser útil - por exemplo, cozinhando algumas refeições e congelando-as já a pensar no 4º trimestre.
  • Estabelecer limites: este período exigente é também aquele em que os que são próximos da mãe e do bebé querem participar. Pode ser importante impor limites a chamadas telefónicas e visitas para evitar cansaço e ansiedade.
  • Promover o exercício físico: faz parte do autocuidado e ajuda a equilibrar as emoções e a recuperar fisicamente. É importante falar com o seu médico assistente sobre que exercícios se podem ir introduzindo da rotina diária e em que momento do 4º trimestre são apropriados.
  • Preparar o 4º trimestre junto do médico assistente é essencial para minimizar ansiedades. Para isso é útil falar sinceramente com o médico e fazer perguntas: que condições médicas e emocionais se espera que mudem? Há medicação a ser ajustada? Que sinais de alarme devem deixar a mulher e a família atentos? Quando é o melhor momento para o primeiro check-up da mulher? Será necessário mais do que um?

 

O que está a acontecer com o bebé?

Para o bebé, este é um período de transformações drásticas. Saiu do útero materno onde a realidade é extremamente confortável: líquido amniótico protege-o das oscilações de temperatura, os sons são suaves, alimenta-se e dorme sempre que quer. Depois do parto mantém-se em crescimento e em adaptação à nova realidade, cheia de estímulos e sentidos novos.

Está a conhecer e a aperceber-se de quem são aqueles em quem pode confiar para suprir as suas necessidades. É natural, portanto, que durante os primeiros meses o bebé chore mais e esteja mais calmo quando está ao colo. O bebé depende completamente dos pais e cuidadores para estar seguro e para se sentir seguro.

 

O que fazer?

  • Manter o bebé por perto permite, não só vigiá-lo, mas também responder às suas necessidades sempre que ele precisar.
  • Estar disponível: a ideia de que um recém-nascido se "estraga com mimos" ou "se habitua mal" se for alimentado ou embalado sempre que pede é ultrapassada. Pelo contrário, os bebés constroem autoestima e confiança naqueles que cuidam de si se foram alimentados ou acarinhados quando precisam. Estar ao colo é-lhes confortável e cria movimentos semelhantes àqueles que experimentava no útero e o contacto pele com pele transmite confiança e conforto para o bebé.
Fontes:

Allegheny Health Network, setembro de 2021

Harvard Health Publishing - Harvard Medical School, setembro de 2021

Just One Norfolk - Children & Young People's Health Services, setembro de 2021

Mayo Clinic, setembro de 2021

National Childbirth Trust, setembro de 2021

Publicado a 27/10/2021
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