Ocitocina: muito mais que a hormona do amor

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Chamam-lhe “a hormona do amor”, mas os efeitos da ocitocina vão muito além do bem-estar que promove. Conheça os seus benefícios e em que situações é libertada.

Uma das razões por que abraçar alguém desencadeia uma sensação de bem-estar é hormonal e deve-se à ocitocina (ou oxitocina, como também pode ser designada). Produzida no hipotálamo e segregada pela glândula pituitária - uma estrutura do tamanho de uma ervilha localizada na base do cérebro -, esta hormona é libertada no sangue, no cérebro e na medula espinal, ligando-se aos recetores de ocitocina e acabando por influenciar o comportamento e a fisiologia.

A sua segregação ocorre em contextos em que há afeto envolvido, por exemplo, quando duas pessoas se abraçam, beijam ou têm relações sexuais e é precisamente por este motivo que é vulgarmente conhecida como “a hormona do amor”. Mas a importância desta hormona está longe de se resumir a esta dimensão.

Foi ao observar que havia uma forte relação entre esta substância e a contração do útero de gatas grávidas que, em 1909, Henry Dale, farmacologista inglês e vencedor do Prémio Nobel da Medicina em 1936, percebeu o que estava em causa e batizou a hormona descoberta como ocitocina, do grego oxys, que significa veloz, e tokós, que significa parto. Dois anos depois, já a ocitocina era (e continua a ser) usada para induzir o parto. Desde então, e até aos dias de hoje, as descobertas sobre os efeitos desta hormona têm-se sucedido, sendo possível sistematizá-los, ainda que de forma incompleta, pois inúmeras investigações continuam a decorrer. Apresentamos alguns dos efeitos já estudados da ocitocina.

 

Fundamental no momento do parto

A ocitocina desempenha um papel fundamental no momento do parto, provocando as contrações ritmadas que levam à dilatação do colo do útero e permitem a expulsão do bebé através do canal vaginal. Os níveis de ocitocina no organismo da mãe aumentam consideravelmente nesta altura, mas mesmo quando a hormona não é libertada em quantidade suficiente é possível recorrer à sua fórmula sintética para induzir o parto. Isto porque, no momento do nascimento, a quantidade de recetores de ocitocina presentes no útero da mulher aumenta cerca de 300 vezes. Depois do parto, a ocitocina continua a ser importante para ajudar a controlar a hemorragia.

 

Estimula a amamentação e o vínculo mãe-bebé

A influência da ocitocina na maternidade é ainda mais abrangente, estimulando também a amamentação, uma vez que a sucção por parte do bebé estimula as terminações nervosas do mamilo, que levam ao cérebro a mensagem de que é necessário produzir ocitocina. A hormona é então libertada através da corrente sanguínea e chega às glândulas mamárias, onde estimula a produção de leite. Ao mesmo tempo, e também por ação da ocitocina, o vínculo entre mãe e bebé sai reforçado.

 

Ajuda a estabelecer laços e relações de confiança

Várias investigações têm vindo a demonstrar a relação entre a libertação de ocitocina e a ligação afetiva que se estabelece com o outro, o vínculo e a confiança. Tendo em conta que esta hormona é segregada no decurso de manifestações de carinho e proximidade física, facilmente se percebe que constitua um elemento crucial para que o cérebro assimile como desejáveis as sensações que dali resultam - felicidade, amor, tranquilidade e bem-estar -, promovendo a sua contínua procura, de onde resultam laços e relações de confiança cada vez mais fortes.

 

Maior empatia e colaboração

A capacidade de alguém se colocar no lugar do outro e a vontade de colaborar, praticar o bem e cuidar são também dimensões associadas, em diversas pesquisas, à presença da ocitocina. Quanto maior for a quantidade presente desta hormona na corrente sanguínea, tanto maior será a probabilidade de esta ser uma pessoa empática, generosa, cuidadora e empenhada no bem-estar de quem lhe é próximo e com quem estabeleceu laços.

 

Favorece a socialização

Ao contribuir para a diminuição da aversão a pessoas estranhas e para o estabelecimento de laços e relações de confiança, a ocitocina desempenha um papel importante na socialização, favorecendo-a.

 

Reduz o stress e a ansiedade

Várias investigações apontam os efeitos benéficos da ocitocina no relaxamento, diminuição do stress e ansiedade. Por exemplo, está demonstrado que a ocitocina torna a amígdala (uma área do cérebro crucial para o processamento emocional) menos reativa quando a pessoa é exposta a fotografias de rostos ameaçadores ou com medo. Sabe-se também que a ocitocina pode levar à diminuição dos níveis de cortisol, conhecida como hormona do stress, e ainda contribui para reduzir a tensão arterial, o que também ajuda ao relaxamento.

 

Efeito analgésico

Ao atuar como uma espécie de calmante e modulando processos neuronais, a ocitocina tem igualmente um efeito analgésico, reduzindo a sensibilidade à dor e aumentando o limiar a partir do qual esta é percecionada.

 

Influencia o desejo sexual

Há libertação de grandes quantidades de ocitocina durante a fase inicial do processo de excitação sexual, o que favorece o envolvimento da mulher e a ereção masculina. Durante a relação, os níveis desta hormona também aumentam, promovendo a ligação entre os parceiros e contribuindo para as contrações uterinas que a mulher sente durante o orgasmo e a resposta ejaculatória do homem.

 

O outro lado da ocitocina

São muitos os efeitos positivos da ocitocina, mas o seu contrário também tem vindo a ser observado por muitos investigadores, que têm concluído pela relação entre a ocitocina e o estímulo da competição.

 

Níveis de ocitocina muito elevados ou muito baixos

Ainda não se sabe ao certo as implicações de níveis muito elevados ou muito reduzidos de ocitocina. Ainda assim, tem vindo a ser estabelecida uma relação entre homens com valores elevados e o desenvolvimento de hiperplasia benigna da próstata. Da mesma maneira, valores reduzidos têm vindo a ser relacionados com o autismo e a depressão. Mas são ainda necessários mais estudos para perceber de que forma é que a administração de ocitocina poderá, ou não, contribuir para o tratamento destas doenças.

 

Tratamento com ocitocina

O tratamento com ocitocina é utilizado, por via intramuscular ou endovenosa, para a indução do trabalho de parto no final do tempo de gravidez; estimulação das contrações uterinas e controlo da hemorragia pós-parto. A sua administração por via nasal pode também ser utilizada após o parto quando há necessidade de estimulação da expulsão do leite facilitando a amamentação ou a recolha de leite, e ainda na prevenção e tratamento da ingurgitação dos seios nos primeiros dias pós-parto.

Fontes:

American Psychological Association, janeiro de 2022

Brain & Behavior Research Foundation, janeiro de 2022

Chemical & Engineering News, janeiro de 2022

Endocrine Society, janeiro de 2022

You and Your Hormones, Society for Endocrinology, janeiro de 2022

National Library of Medicine, National Center for Biotechnology Information, janeiro de 2022

Publicado a 03/01/2023