O bebé e os afetos

Bebés e crianças
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O vínculo emocional com o bebé começa durante a gestação, pois a saúde do feto é influenciada pelo organismo materno, assim como pelas suas reações emocionais

Desta forma, se a mãe experiencia nesta fase mais sintomas de ansiedade, o bebé poderá receber mensagens relacionadas - ainda em ambiente intrauterino, através das hormonas maternas que regulam o stress - e o ambiente que o rodeia pode ser sentido como menos seguro, o que terá um impacto importante a ser considerado, após o seu nascimento. Por outro lado, uma gravidez vivida com sentimentos de bem-estar, com uma maior alegria e serenidade, permitirá ao bebé desenvolver-se em concordância. Ou seja, o cérebro do feto parece desenvolver-se de acordo com a ligação que a mãe estabelece com o exterior, com o mundo!

 

Mais do que isso, é um crescimento e um desenvolvimento recíproco! Pois é também durante a gestação que os  pais estimulam o bebé através da voz (das diferentes entoações de diálogo, da música) e do toque (na barriga… a espera pelo “pontapé” ou pela mudança da posição do feto), reconhecendo aquele “ser em formação” como uma vida e como um novo elemento nas suas vidas, na sua família. O bebé imaginado, o bebé desejado!

 

Com o nascimento e o confronto com o bebé real, é quando os laços emocionais mais se fortalecem, sendo para tal fundamental a disponibilidade das figuras parentais para uma ligação concreta com o bebé. Os estímulos sensoriais que nos chegam através do contacto físico, “pele a pele”, do cheiro do bebé, do choro (e da distinção entre os vários tipos), e dos momentos de amamentação e/ou de aleitamento são canais privilegiados de comunicação para a construção de uma relação única e especial!

 

Já pensou que o bebé humano é um dos mais dependentes comparativamente a todos os outros que se encontram na natureza? Demora cerca de um ano a dar os primeiros passos, para além de ser totalmente dependente no que toca à alimentação, à proteção, à higiene e ao conforto, ao longo dos seus primeiros tempos. É muito dependente nas suas rotinas diárias básicas, onde o afeto deverá ter lugar e ocupar um espaço central! Uma vez que, a par de outras variáveis biológicas, ambientais e sociais, o afeto é essencial na construção do vínculo emocional mãe-bebé, pai-bebé.

 

O recém-nascido revela desde os primeiros segundos de vida, diferentes formas de comunicar com o exterior, de despertar o interesse, a curiosidade e a atenção do outro, seja através do choro, do sorriso ou do contacto visual. Como é o caso da importante capacidade do bebé em seguir objetos e as pessoas com o olhar, que surge a partir dos quatro meses de idade.

 

Sabia que, em média, até aos 6 meses de idade o bebé considera que ele e a mãe são um ser único, e que apenas numa fase posterior interioriza a individualidade de ambos?

 

E este é apenas mais um dos motivos pelo qual as relações primárias são tão importantes! São inúmeras as investigação nacionais e internacionais que correlacionam a ausência de vínculo entre os bebés e as suas figuras de referência/cuidadores primários, com uma menor ativação das conexões cerebrais relacionadas com a cognição e com as emoções. Esta menor ativação poderá levar a uma consequente falta de perceção de segurança, que se poderá relacionar, numa fase posterior (adolescência ou adultez), com fragilidades ao nível do comportamento, da socialização e da comunicação, e até a um aumento dos níveis de ansiedade e de estados depressivos. Ou seja, é no contexto relacional providenciado na primeira infância que se criam as bases essenciais para o desenvolvimento cognitivo, o julgamento moral, a capacidade de autoconhecimento, assim como para o desenvolvimento das competências pessoais e socioemocionais.

 

As dificuldades major nesta relação primária, traduz-se, nos dias de hoje, no seguimento de cada vez mais crianças em consulta de especialidade, como são o caso das consultas de Psicologia Infantil e de Pediatria do Desenvolvimento - até porque os problemas relacionados com as alterações do comportamento são atualmente, uma das causas mais comuns nestas consultas.

 

Cabe-nos também a nós, enquanto profissionais de saúde, sensibilizar e reforçar continuamente a importância desta relação para o bom desenvolvimento da criança junto dos seus adultos de referência, principalmente nas consultas de rotina.

Publicado a 12/03/2016