Exercício físico e gravidez são compatíveis?

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O exercício físico e gravidez podem e devem ocorrer lado a lado. Mas há exceções. Conheça as modalidades mais indicadas e os sinais de que deve parar.

A prática de exercício físico faz atualmente parte do dia-a-dia de muitas mulheres. Mas e durante a gravidez? Essas mulheres devem continuar a frequentar o ginásio, a fazer uma corrida ao final da tarde ou até a dar um passeio de bicicleta? Geralmente, a resposta é sim. Contudo, depende de caso para caso e é influenciada pelo nível de atividade física que a mulher já tinha antes de engravidar. E, obviamente, a sua prática tem de ser adaptada, havendo modalidades e intensidades que são desadequadas a esta fase da vida da mulher.

 

O que diz a ciência sobre exercício físico e gravidez

Nos últimos anos, a investigação nesta área tem demonstrado os benefícios do exercício físico no prognóstico materno e fetal, incluindo fatores psicológicos maternos positivos, risco diminuído de diabetes gestacional, de pré-eclampsia (hipertensão arterial que surge durante a gestação) e de parto distócico (cesariana ou instrumental).

A ideia de que a hipertermia (aumento da temperatura corporal) associada ao exercício físico pudesse ser teratogénica (conduzir a malformações no feto) nunca foi cientificamente comprovada.

 

Desporto, sim, mas com moderação

Na sequência destes estudos, a American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) publicou, em 2002, diretrizes para a prática segura de exercício físico na gravidez, reafirmadas posteriormente em 2009. Estas linhas de orientação recomendam a prática de exercício físico moderado e regular na gravidez, desde que na ausência de contraindicações (ver abaixo).

Em geral, a participação na maioria das modalidades parece ser segura. No entanto, desportos com risco elevado de contacto (basquetebol, futebol, hóquei) ou de queda (ginástica, hipismo, ciclismo, esqui) são desaconselhados na grávida pelo potencial risco de traumatismo abdominal. Atividades como o mergulho também estão contraindicadas na gravidez, pelo risco de doença de descompressão fetal. Em relação aos desportos praticados em altitude, os 1800 metros representam o limite para a grávida.

 

Contraindicações para a prática de exercício físico na gravidez

Absolutas

  • Doença cardíaca com alteração hemodinâmica significativa
  • Doença pulmonar restritiva
  • Gravidez múltipla com risco acrescido de parto pré-termo
  • Insuficiência cervical
  • Hemorragia 2º/ 3º trimestre persistente
  • Ameaça de parto pré-termo/ Rotura prematura pré-termo de membranas na gravidez atual
  • Pré-eclampsia/ Hipertensão arterial gestacional

 

Relativas

  • Anemia grave
  • Arritmia cardíaca materna não avaliada
  • Bronquite crónica
  • Diabetes mellitus 1 mal controlada
  • Obesidade mórbida
  • Índice de massa corporal <12
  • História de estilo de vida com sedentarismo extremo
  • Restrição de crescimento fetal na gravidez atual
  • Hipertensão arterial mal controlada
  • Limitações ortopédicas
  • Hipertiroidismo/Epilepsia mal controlada
  • Grande fumadora

 Fonte: ACOG Comittee Opinion, 267

 

Frequência cardíaca alvo para exercício aeróbico na gravidez

Em 2006, a Royal College of Obstetricians and Gynaecologists publicou também linhas de orientação sobre a prática de exercício na gravidez, incluindo a frequência cardíaca (FC) alvo para o exercício físico aeróbico de acordo com a idade materna:

 

Idade materna (anos)

FC alvo (Batimentos /minuto)

<20

140-155

20-29

135-150

30-39

130-145

>40

125-140

 

 

Já treinava antes de engravidar?

Mais importante do que a FC alvo parece ser a condição física da mulher prévia à gravidez.

- Se a resposta é “sim”: Embora não esteja estabelecido um limite superior de intensidade, as praticantes regulares de exercício físico poderão adotar programas de alta intensidade como a corrida e a ginástica aeróbica, sem efeitos adversos maternos e/ou fetais. Mas, atenção: é importante não esquecer que a gravidez não é altura para desafios; as grávidas não deverão aumentar a intensidade do exercício físico e, inclusivamente, devem esperar uma diminuição da intensidade e atividade física à medida que a gravidez progride.

 

- Se a resposta é “não”: No caso da mulher previamente sedentária, esta deverá iniciar um plano de exercício aeróbico de 15 minutos contínuos três vezes por semana, aumentando gradualmente para 30 minutos quatro vezes por semana ou até diários.

 

Prática de musculação: cuidados a ter

A prática de musculação também deve ter em conta alguns cuidados adicionais. Isto porque as alterações fisiológicas da gravidez tornam as articulações mais laxas, pela ação hormonal da relaxina, havendo maior risco de lesão muscular/articular.

Para as mulheres que já praticavam musculação antes de engravidar, a intensidade dos exercícios deve manter-se ou até diminuir. Já para as sedentárias, a prática de musculação deve iniciar-se com cargas baixas e com um programa de manutenção individualizado à sua condição física. Poderá ser necessário o aconselhamento com um profissional experiente nesta área.

 

E correr, é permitido?

Embora a corrida não esteja contraindicada na gravidez, poderá ter a médio-longo prazo algumas consequências, não para a gravidez, mas para a mulher.

Pelas alterações fisiológicas que comporta, a gravidez provoca um enfraquecimento do pavimento pélvico o que pode no futuro aumentar o risco de disfunção desta zona, como o prolapso dos órgãos pélvicos e a incontinência urinária. Por outro lado, o parto vaginal e, sobretudo, o instrumental, representa outro fator de risco.

Tendo em conta estas alterações, a corrida, tal como outros desportos de impacto, pode aumentar ainda mais o relaxamento e enfraquecimento do pavimento pélvico, essencialmente a partir da segunda metade da gravidez, altura em que se verifica o maior ganho ponderal (isto é, de peso) quer materno quer fetal.

É, contudo, importante referir que este efeito de enfraquecimento dos músculos e articulações do pavimento pélvico pela corrida ocorre mesmo na mulher não grávida, estando demonstrado que a prevalência de incontinência urinária chega a atingir mais de 40 por cento das corredoras de alta competição em idades muito jovens.

 

Adapte o seu plano de treino à gravidez

Considerando a existência de muitos outros desportos saudáveis e com níveis de intensidade física semelhantes, parece sensato substituir um plano de treino que inclua a corrida por um que inclua bicicleta estacionária, elíptica ou até a natação, pois evitam o impacto.

No caso das grávidas que pretendem manter a corrida, tão frequente nos dias de hoje, poderão optar por alternar entre esta modalidade (uma a duas vezes por semana) e a bicicleta estacionária, por exemplo.

 

Interrompa o treino se sentir:

Existem alguns sinais de alarme que significam que a grávida deve cessar a prática de exercício físico, informação esta que lhe deve ser transmitida pelos profissionais de saúde. Entre eles estão:

  • Sensação de falta de ar
  • Dor torácica ou palpitações
  • Pré-síncope ou tonturas
  • Contrações uterinas dolorosas ou ameaça de parto pré-termo
  • Perda de líquido amniótico
  • Hemorragia vaginal
  • Fadiga extrema
  • Dor abdominal ou pélvica
  • Diminuição dos movimentos fetais
  • Cefaleias
  • Fraqueza muscular
  • Dor ou edema dos membros inferiores

 Fonte: ACOG Comittee Opinion, 267

 

O desporto no pós-parto

Após o nascimento do bebé, é essencial que a mulher faça um plano de fortalecimento do pavimento pélvico para recuperar a forma física e evitar sequelas futuras.

No caso do parto por cesariana, a fisioterapia está desaconselhada antes das oito semanas, de forma a permitir a correta cicatrização dos tecidos

Publicado a 21/11/2014