António Chinita

O tratamento que lhe poupou a voz

António Chinita, 75 anos, natural de Elvas

No final de 2018, António foi diagnosticado com um cancro na laringe. Este é um caso de sucesso que representa o compromisso entre a eficácia dos tratamentos e a garantia da qualidade de vida para um futuro a médio e longo-prazo.

 
 

Foi mecânico de aviação durante 44 anos e esteve em muitas frentes de batalha. A sua vida tem sido marcada por grandes desafios e momentos de grande tristeza, que o poderiam ter tornado alguém desligado da vida, mas António é daquelas pessoas que abraça o mundo, que nos abraça a todos.

Faz voluntariado na paróquia de Alverca, onde reside, e é conhecido como o "112" em Arruda dos Vinhos, onde também participa em várias ações de voluntariado. Visita lares, e é também voluntário em vários hospitais, como o de Vila Franca de Xira, e, desde há 19 anos, na CUF. Só nunca pensou que aqui seria tratado a um cancro na laringe.

 

"Achamos sempre que só acontece aos outros e eu já tinha visto de perto a acontecer com dois grandes amigos. Calhou-me a mim também."

O sinal de alarme

No final de 2018 recorre a uma consulta de Otorrinolaringologia com a sua médica das Forças Armadas. Apresentava uma rouquidão fora do normal. António fumou durante muitos anos e tinha deixado há pouco tempo, mas, agora, esta rouquidão era um incómodo que teimava em não desaparecer.

A médica suspeitou de algo mais grave e, após os exames necessários, nomeadamente a biópsia de uma lesão suspeita, acabou por confirmar, na consulta seguinte, que se tratava de um cancro na laringe, um carcinoma pavimento-celular bem diferenciado, queratinizante, HPV positivo. Este último facto é pouco comum nesta localização anatómica.

Mais um duro embate num homem que decidiu dedicar a vida aos outros, praticar o bem e agradecer o que tem. Mas foi no peso da vida e em tudo o que viveu que encontrou força para enfrentar esta notícia. E ao seu lado tinha o seu maior apoio.

 
 

“Tenho uma sorte imensa em ter a minha esposa ao meu lado sempre. Não é por ser minha esposa, mas é uma heroína, por tudo o que já passamos. E como eu no voluntariado, e por ter estado na guerra, acompanho muita coisa dura, de certa forma, isso ajudou-me a não me ir abaixo."

homem meia idade a andar em corredor hospital

O tratamento que lhe poupou a voz

No seguimento deste diagnóstico, António foi referenciado ao hospital da sua área de residência, e de lá aconselharam-o a consultar Diogo Alpuim Costa, Oncologista no Hospital CUF Descobertas, que tem como uma das suas principais áreas de especialização os cancros da Cabeça e Pescoço.

 

Na altura decorria um ensaio clínico para o qual António parecia apresentar todos os critérios para integrar. O ensaio clínico pressupunha a realização de cirurgia com remoção da laringe e isso faria com que António perdesse a voz.

 

"Psicologicamente era o que mais me afetava porque tive dois grandes amigos que já cá não estão e que passaram por isto. Perder a voz, era mesmo o que mais me afetava."

 

Porém, ao repetir os exames complementares de diagnóstico no contexto do ensaio e após uma revisão cuidadosa dos mesmos, foi possível realizar um tratamento convencional, já da prática clínica, que pudesse tentar evitar a cirurgia.

Assim, em reunião multidisciplinar, Diogo Alpuim Costa e a restante equipa da Unidade de Cancro de Cabeça e Pescoço, concordaram que António iria beneficiar mais se iniciasse um protocolo específico de quimio-radioterapia. O ex-combatente foi então retirado do ensaio clínico e iniciou de imediato o seu novo plano terapêutico, que integrava quimioterapia (cisplatina) e radioterapia, tendo sido realizado entre fevereiro e março de 2019.

Diogo Alpuim Costa, médico Oncologista na CUF

Foram 33 sessões de radioterapia sobre a região cervical bilateral e sobre a laringe. Ao mesmo tempo, realizou realizou dois ciclos de quimioterapia em vez dos três previstos inicialmente.

 

Os tratamentos correram bem, sendo que a perda de peso foi talvez o efeito que António mais salienta. As toxicidades leves do tratamento de radioterapia fizeram-se sentir ao nível das mucosas, o que condiciona a normal deglutição e, por isso, existem alterações alimentares que é necessário introduzir. Teve apoio nutricional durante os seus tratamentos, que ajudou a minimizar e a controlar os efeitos dos mesmos.

 

Ao seu lado esteve sempre a esposa Graciette, a cuidar nos momentos mais frágeis, mesmo quando ela própria teve os seus problemas de saúde. Os dois, unidos em mais uma batalha, conseguiram chegar ao fim e hoje António encontra-se recuperado do seu estado geral e nutricional.

As pessoas é que fazem a diferença

"No Hospital de Dia, sinto que tenho uma família. Na radioterapia são todos meus amigos e vou sempre visitá-los. Sempre que lá vou tento ajudar mais alguém a não ter receio de fazer o tratamento. Havia uma senhora que quase se recusava a fazer o tratamento se eu não estivesse lá... tento tornar o ar menos pesado."

 

A comunicação médico-doente foi fundamental para António, que refere tê-lo ajudado a superar este momento da sua vida, e a Diogo Alpuim Costa agradece isso também, a forma como sempre o recebeu, como lhe explicou cada passo e o entendimento que tiveram desde o primeiro momento.

 

Para além de Diogo Alpuim Costa, António sabe o nome de todos os colaboradores e profissionais com quem contactou durante os seus tratamentos e refere-se à equipa de forma carinhosa. Salienta que "as pessoas que nos acompanham fazem toda a diferença. Consegui ultrapassar isto porque tive uma equipa excelente ao meu lado, desde os administrativos, aos enfermeiros, médicos, todos sem exceção, e isso ajuda. Nunca entrei para a mesa da radioterapia cabisbaixo ou com medo, tentava distrair-me e pensar sempre positivo."

Diogo Alpuim Costa refere ainda que:

Trata-se agora de um sobrevivente de cancro, feliz, com ótima qualidade de vida e que consegue falar sem qualquer limitação. Este fator é muito relevante para qualquer pessoa, ainda para mais num comunicador nato e que é voluntário, ajudando outras pessoas que estarão a passar também por uma fase menos boa. É por isso um caso de sucesso que conseguiu conciliar a eficácia dos tratamentos contra o cancro com a garantia da qualidade de vida.

"Não desistam, não pensem em momento algum em desistir, que era aquilo que eu pensava e que me dava força. Nunca desistir, enquanto tivermos forças, temos de avançar. Senão o próprio bicharoco ainda ganha mais força! O importante é não desistir, ter fé, acreditar até ao fim."

Cancro da Laringe

O que precisa saber sobre um dos cancros de Cabeça e Pescoço mais frequentes.

homem a fazer ressonancia magnética diagnóstico oncologia