Uma criança com dor abdominal é sempre motivo de preocupação para os pais, o que leva frequentemente a recorrer ao médico. A dor abdominal pode ser aguda ou crónica. 

A dor abdominal aguda é um sintoma comum em várias patologias: gastroenterite; apendicite; infeção urinária; invaginação; adenite mesentérica; obstipação; úlcera péptica; pancreatite; patologia do ovário; litíase renal ou biliar; pneumonia. Deve ser efetuada uma história detalhada para facilitar a orientação diagnóstica. A idade é um fator importante, assim como o tipo de dor, a sua localização, a duração e hora do dia, e a presença de outros sintomas tais como febre, náuseas, vómitos, sintomas urinários, ou alterações do trânsito intestinal.

 

Na maioria das situações benignas a dor localiza-se no umbigo ou em volta deste. As crianças com dor abdominal vomitam frequentemente, mas a maioria das vezes os vómitos resolvem rapidamente. Alguns sinais de alarme que devem motivar observação médica são: dor localizada em outras áreas, nomeadamente no quadrante inferior direito do abdómen (hipótese de apendicite), duração  > 24h, sensação de doença, febre alta, palidez, suar em demasia, prostração, recusa em brincar, recusa em beber ou comer, vómitos persistentes (já amarelados/verdes ou com sangue), laivos de sangue na diarreia ou alterações na pele.

 

A dor abdominal crónica é um motivo muito frequente de consulta, sobretudo no sexo feminino. Os doentes geralmente têm uma sintomatologia pouco específica e na investigação dessas situações apenas em 10% se encontra uma causa orgânica. Essas causas podem ser: doença de refluxo gastro-esofágico, úlceras gástricas; gastrite; alergia alimentar; intolerância à lactose, doença inflamatória do intestino; doença celíaca; litíase biliar; pancreatite; parasitose.

 

Os sinais de alarme são dor que acorda a criança a meio da noite; dor bem localizada e longe do umbigo; vómitos persistentes (sobretudo biliosos); diarreia crónica grave; febre; perda de peso; atraso de crescimento, exantema cutâneo, dor articular; sangue nas fezes; fístula/fissura anal; história familiar de doença péptica e /ou doença inflamatória do intestino; idade <4 anos.

 

Muitas vezes a etiologia da dor é funcional, isto é, a causa não é identificada com testes laboratoriais. Múltiplos fatores têm sido implicados nestas queixas abdominais: stress psicológico, hipersensibilidade visceral; distúrbios da motilidade gastrointestinal.

Crianças com sintomas funcionais são geralmente tímidas, ansiosas, perfecionistas e interiorizam muito os seus problemas. Têm episódios curtos de dor abdominal periumbilical que não se relaciona temporalmente com a ingestão de alimentos, defecação ou exercício. Por vezes têm alguns sintomas associados como cefaleias, fadiga e dores no corpo. Mantêm o apetite e um bom desenvolvimento de peso e estatura. O seu exame físico e os exames complementares não revelam alterações. Muitas vezes há história familiar de enxaqueca ou de dor abdominal recorrente. A aceitação por parte dos pais e pela criança da possibilidade de existir uma causa biopsicológica para a doença é um fator importante para a resolução dos sintomas.