Cancro da mama antes dos 40 e depois dos 70:

Quando o diagnóstico chega fora da idade de rastreio
Cancro
Saúde da mulher
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Embora o rastreio do cancro da mama se preconize dos 50 aos 69 anos, há casos diagnosticados fora destas idades.

O rastreio para o cancro da mama inicia-se aos 50 anos e prolonga-se até aos 69 anos e prevê a realização de uma mamografia a cada dois anos. Isto não significa que engloba todas as mulheres que possam vir a desenvolver esta doença oncológica, que pode surgir antes ou depois daquele que foi definido como "público-alvo" do rastreio e os números comprovam-no. Segundo dados de 2018 do Registo Oncológico Nacional, em Portugal, por ano há quase 500 novos casos de cancro da mama abaixo dos 40 anos e 1870 novos casos abaixo dos 50 anos. Isto significa que, tendo por base os dados do registo oncológico, abaixo dos 50 anos temos cerca de 1800 mulheres que não seriam identificadas por rastreio. As mulheres acima dos 70 anos também não estão englobadas na idade para rastreio, mas são registados 2163 novos casos por ano. Estes dados são motivo de reflexão. Se olhássemos para a aplicação do rastreio estritamente na indicação que está, que é entre os 50 e os 69 anos, provavelmente cerca de 3900 mulheres que são novos casos de cancro da mama não estão identificadas para cancro da mama rastreável, o que é metade dos casos que estão no Registo Oncológico Nacional. Considerando os dados, poderíamos repensar a idade convencionada para rastreio do cancro da mama, recuando cinco anos, isto é, iniciar o rastreio aos 45 anos.

Acima dos 70 anos, embora preocupante, esta questão não é tão grave como para as mulheres mais jovens. Isto porque as mulheres que começaram a fazer rastreio aos 50 anos, provavelmente continuam a fazê-lo aos 70 anos, pois os seus médicos assistentes continuam a pedir exames de vigilância.

 

O diagnóstico do cancro da mama antes dos 40

Se o rastreio do cancro da mama não está previsto antes dos 40 anos - salvo algumas exceções, como quando uma mulher com idade inferior a 40 anos tem uma mutação genética identificada -, então, como é que as mulheres deste grupo detetam a doença? Às vezes, autodetetam, o que não é bom porque pode significar ter já um volume considerável de tumor, outras vezes, infelizmente o cancro manifesta-se já como uma doença de estádio avançado, portanto, são manifestações de cancro metastizado que levam à descoberta de um cancro. É uma situação de pior prognóstico. Isto significa que todas as pessoas devem fazer rastreio a partir dos 35 anos? Não, mas seria importante investigar de que forma podemos encontrar métodos eficazes de fazer rastreio nesta idade e que seja custo-efetivo, isto é, que consiga detetar lesões sem provocar alarme e orientar para que possam ser tratadas a tempo e horas do seu cancro da mama.

Existe ainda outro cenário em que o cancro da mama antes dos 40 anos é por vezes diagnosticado. Há algumas mulheres com história familiar de cancro da mama que, mesmo que não saibam que têm alguma mutação genética, através de seguimento com o seu ginecologista ou médico assistente fazem alguns exames regulares antes dos 50 anos de idade e podem encontrar o seu cancro da mama.

 

Sabia que...

Uma vez que a maior parte dos cancros da mama abaixo dos 40 anos são autodetetados - por exemplo, quando a mulher está a tomar duche e faz uma palpação -, o primeiro sinal de alarme é muitas vezes a presença de um nódulo.

 

O impacto do cancro da mama na vida da mulher

 

Antes dos 40 anos

Na mulher jovem, além de ter um impacto muito grande na sua saúde, o diagnóstico de cancro da mama também pode abalar outras vertentes da sua vida, como, por exemplo:

  • Familiar e de assistência familiar: são muitas vezes mulheres com crianças pequenas que sofrem as consequências da mãe estar doente. Mesmo que se cure, é sempre um período de tratamento prolongado, o que significa até uma perturbação familiar.
  • Conjugal.
  • Reprodutivo: embora existam técnicas de assistência reprodutiva, que podem ajudar a preservar a fertilidade, ter um cancro da mama aos 33/35 anos pode significar ter uma limitação séria na sua expectativa de vida reprodutiva. Muitas vezes, os cancros precisam de tratamento hormonal durante pelo menos cinco anos, período durante o qual a mulher não pode engravidar. Isto significa que passa para um escalão etário que, embora ainda jovem, já é de maior risco no que diz respeito à gravidez.
  • Social.
  • Profissional: são habitualmente mulheres com emprego ativo e que contribuem para a economia familiar.

 

Depois dos 70 anos

Nas mulheres com mais de 70 anos, receber um diagnóstico de cancro da mama também pode ter um grande impacto na sua vida. Hoje em dia, mulheres com 70/75 anos têm muita qualidade de vida e são perfeitamente ativas. Provavelmente, não têm a mesma atividade profissional que tinham anteriormente, mas são pessoas com grande contributo familiar, muitas vezes, como avós ou até com o papel de orientar o cônjuge que tem uma situação física mais debilitada.

Além disso, pessoas com mais de 70 anos habitualmente têm outras patologias concomitantes, o que coloca algum desafio no que diz respeito à necessidade de fazer os tratamentos adequados. Por exemplo, se uma doente tiver um pacemaker, este dispositivo dificulta a realização de uma ressonância magnética. E se forem pessoas que já tomam medicação para outras doenças, há sempre maior risco de interação com os medicamentos a prescrever para tratar o cancro da mama.

 

Quando fazer estudo genético

Existem alguns fatores de risco que constituem indicação para que se faça um estudo genético. São eles, por exemplo, ter história familiar em 1.º grau (como a mãe) de cancro da mama durante a pré-menopausa. Quando há presença da mutação - em 5-10% dos casos -, o risco para cancro da mama é elevado, acima dos 50%. Essas pessoas têm indicação para uma orientação específica que pode ser cirurgia profilática, vigilância ou até mesmo quimioprevenção. A vigilância imagiológica (em alternativa à cirurgia profilática) pode permitir detetar lesões antes de estas serem clinicamente relevantes.

Além disso, quase todas as mulheres jovens com cancro da mama têm indicação para serem muito bem avaliadas, possivelmente em consulta de genética, para saber se não têm alguma alteração genética que pudesse configurar um caso de cancro hereditário. Isto é importante para elas e para familiares.

 

O prognóstico é influenciado pela idade

O cancro da mama em mulher jovem tem um pior prognóstico porque muitas vezes é tratado já numa fase com maior volume de tumor e tem pior prognóstico pela própria idade. A idade em si é um fator de risco para que este cancro da mama possa ter uma recaída posteriormente. Embora os cancros da mama de subtipos mais agressivos sejam mais frequentes em mulheres mais jovens, também há cancros acima dos 70 anos que chegam ao diagnóstico com agressividade.

 

Sabia que...

Mulheres jovens têm mais frequentemente mamas mais densas - que aparecem mais opacas na mamografia -, o que requer especial atenção em termos de vigilância e sabemos que é um fator de risco para cancro da mama, aumenta-o quatro vezes.

 

Tratamento do cancro da mama antes dos 40 e depois dos 70

No cancro da mama cada caso é único. Contudo, há algumas características oncológicas que são mais comuns em mulheres antes dos 40 anos ou depois dos 70 anos e que podem influenciar o tipo de tratamento que é feito.

Nas mulheres que têm cancro da mama antes dos 40 anos e numa fase em que é operável, é frequente ser necessário quimioterapia como tratamento adjuvante para promover a oportunidade de cura. Pelo contrário, a quimioterapia não é tão comum em casos após os 70 anos, embora possa ser feita. Há mulheres acima dos 70 anos, sobretudo com cancro da mama de subtipo agressivo, que terão de fazer quimioterapia, a não ser que seja impeditivo por outras patologias. Contudo, a maioria dos casos de cancro da mama acima dos 70 anos são hormonodependentes, o que significa que o tratamento principal após a cirurgia é a hormonoterapia, que tem menos toxicidade que a quimioterapia. Embora o cancro da mama na mulher mais jovem seja muitas vezes hormonodependente, há benefício em fazer quimioterapia antes de fazer esses tais cinco anos (pelo menos) de hormonoterapia.

 

Estratégias de prevenção

Quando se trata de prevenção do cancro da mama, o conhecimento da história familiar é muito importante porque pode indicar a necessidade de uma orientação mais precoce em termos de vigilância.

Além disso, a adoção de hábitos de vida saudáveis é fundamental. São alguns exemplos:

  • Ter um índice de massa corporal (IMC) adequado: mulheres com um IMC elevado, com obesidade, têm um ambiente metabólico que favorece o desenvolvimento de cancro da mama.
  • Fazer exercício físico, que por si só é protetor para a incidência de cancro da mama.
  • Não exagerar no consumo de álcool.
  • Não fumar: o tabaco é um fator de risco moderado, sendo mais relevante para o cancro do pulmão.

 

Além disso, a utilização de hormonas exógenas pode aumentar o risco para cancro da mama. É o caso dos contracetivos orais, que aumentam ligeiramente este risco, assim como a terapêutica hormonal de substituição pós-menopausa, sobretudo se for muito prolongada. Quanto às estimulações hormonais utilizadas em contexto de tratamento reprodutivo em mulheres com problemas de infertilidade, ainda não há dados que permitam perceber se constitui fator de risco.

Fontes:

SNS24, outubro de 2022

Publicado a 20/10/2022
Doenças