Aparelhos de monitorização do sono:

apps como os sleep trackers são úteis?
Prevenção e bem-estar
5 mins leitura

Apps de monitorização do sono podem recolher informação interessante, mas falta-lhes rigor científico. No entanto, há circunstâncias em que podem ser úteis.

Estão disponíveis no mercado equipamentos ou aplicações (apps) para smartphone que monitorizam o sono. A informação recolhida por estes aparelhos pode ser interessante como ponto de partida para compreender a forma como a sua rotina diária influencia o seu descanso, por exemplo, mas os sleep trackers - aplicações, relógios e colchões inteligentes - não recolhem informação com rigor médico e científico e, por isso, é necessário que a informação recolhida seja avaliada por um médico especialista nessa área.

 

Como funcionam os dispositivos de monitorização do sono?

Há três tipos de monitorização do sono, ou seja, três formas distintas dos sleep trackers recolherem informação sobre o sono dos seus utilizadores:

  • Wearables, ou seja, tecnologia que se usa no corpo durante a noite para recolher dados. Podem ser relógios ou anéis que se colocam no pulso ou em um dos dedos durante o sono, sendo possível recolher informação sobre o movimento, os batimentos cardíacos da pessoa, e alguns destes dispositivos também recolhem dados sobre o padrão respiratório.
  • Dispositivos que se colocam à cabeceira da cama. Existem variadas aplicações para smartphone que transformam um telemóvel colocado na mesa de cabeceira num dispositivo para monitorizar o sono. A maioria destas aplicações regista os movimentos do utilizador e a sua respiração, embora alguns sejam capazes também de captar dados do ambiente da divisão, como a humidade, a luz e o ruído.
  • Sensores para a cama. Estes sensores podem colocar-se debaixo dos lençóis, do colchão ou estar mesmo integrados no colchão (estas são as “camas inteligentes”). Estes sensores são capazes de recolher dados sobre o movimento e o batimento cardíaco, além de dados sobre o ambiente do quarto, como a humidade e temperatura.

 

Que informações úteis podem dar os monitorizadores do sono?

Estes aparelhos conseguem dizer quantas horas a pessoa dormiu, quantas vezes acordou, a que horas começou a dormir e acordou e, alguns, fazem um resumo dos ciclos do sono.

Estes dispositivos são bastante úteis como ponto de partida para a consulta com o médico assistente ou médico especialista se as questões ligadas ao sono preocupam a pessoa em causa. Os dados das aplicações ou dos sensores não serão usados para o diagnóstico de alguma perturbação do sono, mas, em conjunto com a avaliação médica, podem ajudar a perceber se existem problemas que necessitam de exames médicos subsequentes.

Estes sleep trackers podem ser, inclusive, úteis no estabelecimento de uma nova rotina de sono ou no melhoramento da rotina existente. Por exemplo, muitas aplicações sugerem tempos máximos de utilização de ecrãs, têm alarmes para as horas ideais para o deitar, sugerem alterações no ambiente do quarto à noite ou no estilo de vida (como a diminuição do consumo de cafeína).

Em resumo, esta tecnologia fornece uma espécie de “diário do sono” sobre o qual o utilizador pode refletir. Por exemplo: nos dias em que o quarto está mais quente sente que o sono não foi reparador? Nos dias em que toma um café à tarde, acorda mais vezes durante a noite? Estes indicadores podem ser úteis para uma pessoa saudável melhorar o seu sono.

Alguns sleep trackers anunciam também serem capazes de identificar as fases do sono - sono superficial / sono profundo -, mas estas informações podem não ser fiéis à realidade. Esta tecnologia usa o movimento para estimar as fases do sono, mas não medem objetivamente as fases e ciclos do sono, são apenas estimativas.

 

Como são os ciclos do sono?

Há cinco fases essenciais no sono, que se repetem ao longo da noite, em ciclos. Cada uma delas representa momentos diferentes para o cérebro e o organismo.

 

Sono não REM

  • Fase 1: esta é a fase mais inicial do sono, dura apenas alguns minutos e é muito fácil acordar nesta fase.
  • Fase 2: esta ainda é uma fase de sono leve, mas as ondas cerebrais começam a desacelerar, para entrar num sono mais profundo.
  • Fase 3 e 4: estas são fases em que o sono fica progressivamente mais profundo. É nestes estágios que o corpo recupera e o sistema imunitário se fortalece. Também é nesta fase que o corpo cresce.

 

Sono REM

Alterna com sono não REM e é a fase em que acontecem os sonhos porque o cérebro fica mais ativo - processa a informação recolhida ao longo do dia e cria memórias de longo prazo. Neste momento, o corpo está extremamente imóvel, mas os olhos movimentam-se rapidamente sob as pálpebras. Quanto maior é o período de sono (ou seja, quanto mais vezes este estado se repete), maior é o período do sono REM.

 

Quais as limitações dos sleep trackers?

Recorde que estes dispositivos têm limitações que devem ser tidas em conta pelos seus utilizadores. Uma delas é a sua incapacidade de informar sobre a qualidade do sono do seu utilizador, o que está intimamente ligado aos ciclos de sono e aos momentos de sono profundo.

Por estarem cada vez mais acessíveis, sobretudo nos telemóveis pessoais, o uso destas tecnologias no domicílio pode inclusivamente tornar-se obsessivo para o seu utilizador, causando ansiedade. Os sleep trackers deixam assim de ser úteis e passam a ser por si próprios prejudiciais.

 

Para saber com rigor o que se passa no cérebro e no organismo em geral durante a noite é necessário um estudo do sono, realizado com tecnologia específica e sofisticada em instituições de saúde - a polissonografia.

Este exame, a polissonografia, usa sensores colocados diretamente na pele do paciente para registar a atividade elétrica do cérebro, movimentos musculares e dos olhos, frequência cardíaca e respiratória. Assim se diagnosticam perturbações do sono como a apneia do sono. Com estes sensores é possível registar rigorosamente os estágios do sono do doente e avaliar e tratar alterações importantes. Recorde que estão disponíveis no mercado equipamentos ou aplicações (apps) para smartphone que monitorizam o sono, mas não recolhem informação com rigor científico.

Fontes:

Cleveland Clinic, fevereiro de 2023

Johns Hopkins, fevereiro de 2023

Mayo Clinic, fevereiro de 2023

Michigan Medicine, University of Michigan, fevereiro de 2023

Publicado a 17/03/2023