Amenorreia: porque não aparece a menstruação?

Saúde da mulher
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Há que perceber os motivos que levam à ausência da menstruação numa mulher em idade fértil, pois a amenorreia pode ser sintoma de um problema de saúde.

A menstruação faz parte do ciclo reprodutivo da mulher, considerando-se que o intervalo médio entre períodos é normalmente de 28 dias, podendo oscilar entre 21 e 35 dias. 

Considera-se que estamos perante um caso de amenorreia quando há ausência total da menstruação numa mulher em idade fértil, nomeadamente, quando a menstruação falta durante três ciclos consecutivos. Mesmo que tal não indique obrigatoriamente a existência de doença, é importante procurar aconselhamento médico para perceber a causa.

 

Tipos de amenorreia

Existem dois tipos de amenorreia: amenorreia primária e amenorreia secundária.

 

Amenorreia primária

Verifica-se quando até aos 15 anos uma rapariga ainda não teve a sua primeira menstruação (também designada menarca), mas apresenta crescimento e características sexuais secundárias definidas, compatíveis com a idade.

Pode também considerar-se amenorreia primária quando, aos 13 anos, a rapariga ainda não é menstruada nem apresenta outros sinais de puberdade, nomeadamente, o desenvolvimento das glândulas mamárias e a presença de pilosidade na zona púbica e axilar, entre outros.

 

Causas de amenorreia primária

A principal causa da amenorreia primária é o atraso do início da puberdade, o qual pode acontecer devido a várias situações:

  • Desequilíbrio hormonal
  • Distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia
  • Magreza, com peso inferior ao considerado normal para a idade e estatura
  • Treino físico intenso antes da puberdade
  • Obesidade
  • Doenças crónicas
  • Alguns medicamentos, como é o caso de certos antidepressivos

 

Outros distúrbios que causam amenorreia primária são relativamente raros, como é o caso de:

  • Doenças genéticas, como a síndrome de Turner (ausência total ou parcial de um dos dois cromossomas X)
  • Defeitos anatómicos que bloqueiam o fluxo de sangue menstrual

 

Amenorreia secundária

Fala-se de amenorreia secundária quando há ausência de menstruação durante três meses ou mais, mas tendo havido ciclos regulares prévios. 

 

Causas de amenorreia secundária

São várias as causas que podem estar na origem da amenorreia secundária, sendo que a mais comum é a gravidez. Com efeito, todas as mulheres com vida sexual ativa que deixam de menstruar devem realizar um teste de gravidez para despistarem essa possibilidade. A amenorreia também se verifica durante os períodos de amamentação e na menopausa (quando a mulher deixa de estar em idade fértil e a menstruação deixa de ocorrer naturalmente).

 

Outras causas de amenorreia são:

  • Síndrome do ovário poliquístico. Trata-se de uma desordem endócrina relativamente comum, estimando-se que afete entre sete a 10 % das mulheres em idade fértil. Caracteriza-se por um desequilíbrio hormonal que interfere nos processos reprodutivos normais.
  • Stress físico ou emocional. Em momentos de grande ansiedade e/ou tristeza, o ciclo menstrual pode sofrer alterações, nomeadamente, ficar mais curto, longo, parar por completo ou ser acompanhado por dores.
  • Prática de exercício físico intenso. Sabe-se que as atletas de alta competição estão por vezes longos períodos sem menstruar devido à exigência física extrema da sua atividade, que acaba por interferir na ovulação.
  • Perda de peso rápida ou excessiva. A restrição exagerada da quantidade de calorias ingeridas pode perturbar a produção das hormonas necessárias para que a ovulação aconteça, levando à interrupção da menstruação.
  • Distúrbios alimentares, como a anorexia e bulimia.
  • Obesidade. Quando há excesso de peso, o corpo pode produzir uma quantidade excessiva de estrogénio, que é uma das hormonas implicadas na regulação do sistema reprodutivo feminino e que pode afetar a frequência das menstruações.
  • Contraceção hormonal. A toma de alguns contracetivos hormonais pode levar à supressão continuada da hemorragia de privação mensal. Por outro lado, mesmo aquando da interrupção da toma destes contracetivos, é possível que a menstruação demore algum tempo a regularizar.
  • Alguns medicamentos, como certos antidepressivos e antipsicóticos podem elevar a prolactina, uma hormona produzida pela hipófise, a qual estimula as glândulas mamárias, levando-as a produzirem leite e podendo causar amenorreia. Outros medicamentos, como os para baixar a tensão arterial, tratar e prevenir alergias e a quimioterapia também podem interferir na menstruação.
  • Produção anormal de algumas hormonas, como a testosterona, as hormonas da tiroide e a cortisona.
  • Menopausa precoce, ou seja, quando se verifica o que se designa por falência ovárica (perda da capacidade reprodutiva) da mulher com menos de 40 anos.
  • Alguns problemas estruturais dos órgãos reprodutores podem também justificar a amenorreia, como a síndrome de Asherman, que pode acontecer quando se formam aderências intrauterinas, na sequência de processos inflamatórios ou cirurgias.
  • As cirurgias para remover o útero e/ou os ovários também levam a que a mulher deixe de menstruar e, no caso da cirurgia para remover os ovários, entre na menopausa.

 

Pode ser indício de doença?

Tendo em conta algumas das possíveis causas de amenorreia referidas antes, esta pode ser, de facto, o sintoma de uma doença. É o caso da síndrome do ovário poliquístico e de alguns distúrbios hormonais, como alterações do funcionamento da tiroide ou da hipófise (neste caso, por exemplo, manifestando-se através de hiperprolactinemia, que é uma anomalia causada pela produção elevada de prolactina), entre outras possíveis patologias.

Como tal, é imprescindível consultar um médico se a menstruação estiver três meses sem aparecer, ou se, aos 15 anos ou mais, uma rapariga ainda não for menstruada.

 

A que outros sintomas se deve prestar atenção?

É importante prestar atenção a outros sinais ou sintomas a acompanhar a ausência de menstruação, pois tal contexto dá indicações sobre o que poderá estar a causar a amenorreia. Sintomas tais como:

  • Mamas com secreção leitosa
  • Dor de cabeça
  • Alterações visuais
  • Fadiga
  • Dor pélvica
  • Acne
  • Voz grave
  • Alteração da libido
  • Queda de cabelo
  • Aumento de peso
  • Pilosidade facial e corporal excessiva
  • Afrontamentos
  • Suores noturnos
  • Secura vaginal

 

Quem está em maior risco?

Alguns fatores contribuem para aumentar o risco de amenorreia:

  • História familiar – Quando outras mulheres da família têm ou tiveram amenorreia há maior probabilidade de alguém ter também.
  • Distúrbios alimentares – Os distúrbios alimentares, como a anorexia ou a bulimia, fazem aumentar o risco de amenorreia.
  • Obesidade ou magreza – O excesso de peso ou a magreza excessiva podem interferir na ovulação, contribuindo para uma eventual amenorreia.
  • Exercício físico intenso – O treino muito exigente, ao nível da alta competição, contribui para aumentar o risco de amenorreia.
  • História de procedimentos ginecológicos – As mulheres submetidas a curetagem (vulgarmente conhecida como raspagem), sobretudo se esta foi realizada na sequência de uma gravidez, ou as que realizaram uma cirurgia LEEP (um tipo de cirurgia para remoção de lesões ginecológicas) têm maior risco de sofrer de amenorreia.

 

A amenorreia tem tratamento?

O tratamento da amenorreia depende da sua origem. Assim, dependendo da causa diagnosticada, e excluída a hipótese de gravidez, o tratamento médico poderá incluir:

  • Seguir uma dieta alimentar adequada às necessidades nutricionais
  • Diminuir a intensidade do exercício físico
  • Pôr em prática técnicas de relaxamento e gestão de stress
  • Terapia hormonal
  • Cirurgia (em casos raros)
Fontes:

BMJ Best Practice, julho de 2023

Cleveland Clinic, julho de 2023

Mayo Clinic, julho de 2023

National Health Service, julho de 2023

Programa Harvard Medical School Portugal, julho de 2023

Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, julho de 2023

St. George’s Healthcare – NHS Trust, julho de 2023

Publicado a 26/02/2024