Síndrome de Guillain-Barré

O que é?

A síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune rara que pode levar à danificação da mielina, camada isolante dos nervos (desmielinização), ou, nos nervos periféricos, à degeneração dos axónios - a parte do nervo responsável pela condução dos impulsos nervosos. Sendo uma doença autoimune, não se conhece totalmente a razão da sua ocorrência.

Os principais sintomas são o formigueiro e a falta de força nas mãos, pés e pernas e, se houver uma evolução deste quadro, pode chegar-se mesmo à paralisia dos músculos de todo o corpo e à incapacidade de respirar.

Isto significa que a síndrome de Guillain-Barré é, no seu estado mais severo, uma emergência hospitalar e requer internamento na unidade de cuidados intensivos para tratamento.

A Síndrome Guillain-Barré pode afetar qualquer pessoa, de qualquer idade ou sexo, embora seja mais frequente em adultos e idosos do que em crianças. Estima-se que afete uma em cada 100 mil pessoas, por ano, e, embora não exista uma cura, o tratamento desta síndrome oferece uma recuperação total à maioria dos doentes.

 

Sintomas da síndrome de Guillain-Barré

Os sintomas da síndrome de Guillain-Barré iniciam-se habitualmente como ligeiros, pela sensação de formigueiro nos membros - mais habitualmente nas pernas. A evolução dos sintomas pode levar horas, dias ou semanas e nos casos mais graves causar paralisia total dos músculos.

Entre os sintomas incluem-se:

  • Formigueiro nas mãos, pés, dedos, tornozelos e pulsos.
  • Paralisia flácida, ou seja, paralisia ou fraqueza muscular e perda do tónus muscular sem razão aparente.
  • Arreflexia, isto é, ausência de reflexos.
  • Dificuldade em andar e subir escadas ou instabilidade na forma de andar.
  • Dificuldade em realizar movimentos faciais, como mastigar e engolir ou falar.
  • Incapacidade de mexer os olhos ou visão dupla.
  • Incontinência ou problemas em controlar a bexiga e o sistema intestinal.
  • Dificuldade em respirar.

 

A morte de uma pequena percentagem de doentes numa fase inicial da doença deve-se a falência dos órgãos ou a disautonomia, situação em que há um descontrolo das funções dos órgãos vitais (por exemplo, os batimentos cardíacos, controlo de temperatura, etc). As causas de morte em estádios tardios do desenvolvimento da doença surgem habitualmente na sequência de complicações relacionadas com a imobilização prolongada e infeções bacterianas.

 

Causas

A causa não é completamente conhecida e descreve-se como autoimune. No entanto, dois terços dos pacientes com esta síndrome tiveram, nas seis semanas anteriores, uma infeção (por exemplo, respiratória, gastrointestinal, pelo vírus Zika ou pelo vírus da COVID-19).

Em casos raros há uma relação entre o aparecimento da doença e a toma de uma vacina. Nestes casos, os sintomas aparecem algumas semanas depois da vacinação, no entanto, as evidências mostram que é mais provável (dentro da prevalência rara desta síndrome) desenvolver esta síndrome a partir de uma gripe do que a partir da vacinação contra a gripe.

 

Diagnóstico

O diagnóstico depende sobretudo da avaliação clínica. Sendo os sintomas semelhantes aos de outras doenças (como botulismo, poliomielite, neuropatias metabólicas, entre outras), podem ser realizados exames para excluir doenças infecciosas e disfunção imunitária (exames para hepatites, HIV).

A análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) também é importante, uma vez que os doentes com síndrome de Guillain-Barré apresentam maiores índices de proteína e menos glóbulos brancos neste líquido do que o normal — este dado pode só tornar-se relevante nos dez dias seguintes ao início dos sintomas.

A eletromiografia também é um exame fundamental no diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré, mas pode apresentar resultados normais numa fase inicial. Com a evolução do quadro clínico, a eletromiografia deve apresentar uma lentificação da condução nervosa e um aumento da latência ou mesmo ausência de respostas.

A suspeita diagnóstica de síndrome de Guillain-Barré implica o internamento do paciente e a realização de exames de condução nervosa e eletromiografia (eletrodiagnósticos). Neste exame constata-se que os reflexos dos joelhos e, por vezes, dos braços deixam de existir porque os sinais nervosos que percorrem os nervos estão lentos.

 

Tratamento da síndrome de Guillain-Barré

Há tratamentos eficazes para a síndrome de Guillain-Barré, embora uma recuperação total possa ser prolongada. No entanto, 80 a 85% dos pacientes consegue recuperar totalmente.

A monitorização constante do doente e o suporte das funções vitais são importantes e, sendo assim, o acompanhamento do doente é feito, regra geral, nos cuidados intensivos. Podem ser utilizados no tratamento:

  • Imunomodulação, ou seja, administração de imunoglobulina endovenosa. Se feita precocemente produz um efeito benéfico até um mês após o início da doença. A presença de mais imunoglobulina no sangue leva a uma diminuição da agressão do sistema imunitário ao sistema nervoso. A vantagem da imunomodulação, em relação à plasmaferese, está na maior facilidade de aplicação, sendo um procedimento menos invasivo.
  • Plasmaferese, ou seja, a separação da componente líquida e sólida do sangue para substituição da componente líquida do sangue. A opção por este tratamento é normalmente feita quando a administração de imunoglobulina não foi eficaz. A remoção e substituição do plasma desacelera a evolução da doença, reduz o tempo de internamento, a taxa de mortalidade e a possibilidade de paralisia permanente.

 

Com a estabilização do doente, a fisioterapia desempenha um papel importante para um refortalecimento dos músculos, evitando ou minimizando as sequelas. Mesmo durante o internamento, inicia-se um trabalho de terapia física desenvolvido pelos médicos e equipa de fisioterapia que envolve, por exemplo, mudar a postura e posição dos membros e mover as articulações manualmente, para evitar sequelas maiores. Na recuperação após o internamento permite recuperar qualidade de vida após a doença.

 

Prevenção

Não se conhecendo completamente a causa da síndrome de Guillain-Barré, não há uma prevenção, mas é importante frisar que, com os primeiros sintomas, é fulcral consultar um médico, para que a doença não evolua para um estado grave.

Fontes:

Centers for Disease Control and Prevention, novembro de 2022

Mayo Clinic, novembro de 2022

Manual MSD, novembro de 2022

National Institute of Neurological Disorders and Stroke, novembro de 2022

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