Varíola dos macacos:

o que deve saber sobre esta infeção viral
Pele, unhas e cabelo
Prevenção e bem-estar
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A varíola dos macacos é uma doença zoonótica transmitida de animais para humanos e em que a transmissão entre humanos pode ocorrer. Saiba mais.

Estão reportados casos de varíola dos macacos (ou monkeypox) em Portugal, tal como em outros países europeus. Esta não é uma doença nova e não é a primeira vez que surge na Europa - já em 2018, 2019 e 2021, foram confirmados no total sete casos no Reino Unido, associados a viagens a países onde esta doença é endémica. O mesmo não se verifica nos casos recentemente reportados na Europa, sendo a primeira vez que são identificadas redes de transmissão sem que sejam conhecidas ligações epidemiológicas a países da África Central ou Ocidental.

 

Quando surgiu a varíola dos macacos?

Foi identificada pela primeira vez em 1958 quando ocorreram dois surtos em colónias de macacos, justificando a designação de “varíola dos macacos”. Mais tarde, em 1970, foi identificado o primeiro caso no ser humano, na República Democrática do Congo. Desde então, têm sido reportados vários casos em países da África Central e Ocidental - como Libéria, Nigéria e Serra Leoa e atualmente também em vários países da Europa e América.

 

Que doença é esta e quais os sintomas?

A varíola dos macacos é uma doença zoonótica (significa que é transmitida de animais para humanos), provocada pelo vírus Ortopoxvírus da família Poxviridae. Esta infeção viral é rara e com sintomas semelhantes aos da varíola comum, mas mais ligeiros.

O período de incubação (intervalo de tempo que decorre desde a infeção ao surgimento dos sintomas) é, habitualmente, de 7-14 dias, mas pode ocorrer num intervalo de entre 5-21 dias.

A varíola dos macacos começa por se manifestar através de:

  • Febre
  • Arrepios
  • Dor de cabeça
  • Dores musculares
  • Dor de costas
  • Exaustão
  • Inchaço dos nódulos linfáticos (linfadenopatia) - um sintoma que ocorre na varíola dos macacos, mas não na varíola comum

 

Cerca de 1-3 dias - por vezes, mais - após o surgimento da febre, podem aparecer erupções cutâneas, habitualmente, primeiro no rosto, espalhando-se depois para outras zonas do corpo, incluindo órgãos genitais.

Estas erupções evoluem passando pelas seguintes fases antes de desaparecerem:

  1. Máculas
  2. Pápulas
  3. Vesículas
  4. Pústulas
  5. Cicatrizes/crostas

 

Quando as crostas caem, a pessoa já não é infecciosa/contagiosa.

 

Atenção!

A probabilidade de ter varíola dos macacos é muito baixa se não apresentar qualquer sintoma e não viajou recentemente para um país da África Central ou Ocidental e/ou se não teve contacto íntimo com alguém infetado.

Se regressou de viagem de zonas endémicas e manifesta sintomas suspeitos, abstenha-se de contactos físicos diretos e procure aconselhamento médico.

 

Como se transmite a varíola dos macacos?

A transmissão da varíola dos macacos pode ocorrer de várias formas e com diferentes graus de probabilidade de contágio:

 

  • Contacto de pessoa para pessoa

O contágio por via sexual ocorre sobretudo entre homens que fazem sexo com outros homens, pelo contacto direto com fluidos corporais, sangue e sémen, ou material das lesões. Pode também ocorrer contágio por gotículas respiratórias de maiores dimensões (de espirros ou tosse, por exemplo), que não alcançam grandes distâncias. Por isso, para ocorrer contágio é necessário um contacto cara a cara e prolongado. Igualmente por contacto indireto, por exemplo, através da roupa da cama ou toalhas de banho utilizadas por uma pessoa infetada pode ser transmitida a infeção.

 

  • Contacto de animais para pessoas

É a forma de contágio mais comum e pode dar-se pelo contacto com animais infetados, como roedores (por exemplo, ratos e esquilos) e macacos, através de:

  • Mordidas
  • Arranhões
  • Contacto direto com fluidos corporais (por exemplo, sangue)
  • Contacto indireto com material da lesão (por exemplo, através da roupa da cama)
  • Preparação de carne de animais selvagens
  • Ingestão de carne que não esteja completamente bem passada de um animal infetado
  • Contacto, por exemplo, com a pele ou pelo de um animal infetado

 

Este vírus pode entrar no nosso corpo através de:

  • Fissuras na pele, mesmo que estas não sejam visíveis aos nossos olhos
  • Trato respiratório
  • Membranas mucosas (olhos, nariz e boca)

 

Tratamento da varíola dos macacos

Os casos suspeitos desta doença devem ser isolados e testados, de modo a prevenir a infeção de outras pessoas.

Habitualmente, a varíola dos macacos é autolimitada em semanas - a maioria dos doentes recupera em 2-4 semanas - e o seu tratamento é sintomático (isto é, tem como objetivo o alívio dos sintomas).

Atualmente, não existe um tratamento específico para a varíola dos macacos. Nos casos severos, pode ser considerado um medicamento antiviral específico, sobretudo em casos de internamento hospitalar.

Nalgumas situações, pode ser administrada a vacina da varíola a contactos de elevado risco, depois de avaliada a relação risco-benefício.

Em África, a varíola dos macacos é causa de morte em uma em cada dez pessoas que contraem a doença.

 

Estratégias de prevenção

Existem várias medidas que podem ser adotadas para prevenir a infeção com varíola dos macacos, sobretudo quando viajar para países da África Central ou Ocidental, tais como:

  • Praticar uma boa e frequente higiene das mãos, sobretudo, após o contacto com animais ou pessoas infetados, lavando as mãos com água e sabão ou usando álcool-gel.
  • Não se aproximar de animais selvagens, incluindo animais mortos, e sobretudo se aparentarem estar doentes, em zonas em que existem casos de varíola dos macacos.
  • Evitar contacto com materiais, como roupa de cama ou toalhas, que possam ter estado em contacto com pessoas infetadas.
  • Não ter contacto próximo com pessoas que não se sintam bem e que possam ter varíola dos macacos.
  • Não ingerir ou tocar em carne de animais selvagens.

 

Além da vacinação após a exposição a pessoas infetadas por vírus Monkeypox, a Direção-Geral da Saúde vai iniciar a vacinação preventiva de alguns grupos que apresentam maior risco de infeção humana por este vírus:

  • Pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, sem sintomas, que apresentam maior risco de infeção humana por vírus Monkeypox e que nunca tenham sido diagnosticadas com esta infeção. Dentro deste grupo, apresenta risco acrescido nomeadamente quem cumprir pelo menos um dos seguintes critérios:
    • Homens que têm sexo com outros homens, mulheres e pessoas trans, em profilaxia pré-exposição para o vírus da imunodeficiência humana (VIH) e diagnóstico de, pelo menos, uma infeção sexualmente transmissível nos últimos 12 meses.
    • Homens que têm sexo com outros homens e diagnóstico de pelo menos uma infeção sexualmente transmissível nos últimos 12 meses.
    • Homens que têm sexo com outros homens e pessoas trans envolvidas em sexo comercial.
    • Homens que têm sexo com outros homens com imunossupressão grave.
  • Profissionais de saúde, com elevado risco de exposição, envolvidos na colheita e processamento de produtos biológicos de casos de infeção humana por vírus Monkeypox.
Fontes:

Centers for Disease Control and Prevention, maio de 2022

Direção-Geral da Saúde, maio e setembro de 2022

European Centre for Disease Prevention and Control, maio de 2022

National Health Service, maio de 2022

Publicado a 20/05/2022