O-arm: um "GPS" que capta imagens da coluna

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Numa cirurgia, o O-arm permite visualizar um modelo 3D da coluna vertebral. Os neurocirurgiões CUF Paulo Pereira e Rui Vaz explicam as vantagens do equipamento.

Nas cirurgias mais complexas, mesmo que sejam muito bem programadas e planeadas, visualizar bem o local da intervenção é fundamental e crítico para o sucesso da operação, para minimizar riscos. É o caso das cirurgias da coluna vertebral, cerebrais vasculares ou de neuro-oncologia. O O-arm, um sistema de captação de imagem avançado - que pode ser usado durante as intervenções cirúrgicas - permite passar de uma imagem 2D para 3D e ser acoplado a um equipamento de navegação para uma melhor certeza nos movimentos cirúrgicos. Os neurocirurgiões Paulo Pereira e Rui Vaz explicam a importância do O-arm tanto para a colocação de parafusos ou outros implantes vertebrais - uma das intervenções mais comuns com o equipamento - como para a verificação em tempo real da precisão conseguida.



O que é o O-arm?

Rui Vaz descreve O-arm como “um sistema de neuronavegação que funciona como um GPS, como um localizador exato”. Ao receber uma imagem 3D com este equipamento, “temos uma visão direta daquilo que estamos a fazer”. O especialista em Neurocirurgia dá como exemplo a colocação de um parafuso na coluna: “Temos uma visão rigorosa do parafuso e do sítio onde deve estar. E a taxa que estava descrita na cirurgia clássica de parafusos mal colocados, com o O-arm fica praticamente anulada”. Paulo Pereira também destaca as vantagens de verificação intraoperatória, uma vez que, no final da cirurgia, o equipamento “permite fazer uma reconstrução tridimensional da coluna com os implantes lá colocados”. Caso seja necessário, a correção é feita de imediato, “evitando uma cirurgia adicional”.

O neurocirurgião lembra que tradicionalmente se usa raio-X, fluoroscopia, “a coluna vista de frente, vista de lado, ou num ângulo específico”, e isso obriga a obter várias imagens para “controlar a posição de um implante e, mesmo assim, há um grau de incerteza nesta avaliação”. O O-arm evita isso, “é um sistema de aquisição de imagem que nos faz uma reconstrução tridimensional a partir de muitas imagens, cada uma no seu ângulo. Portanto, permite-nos ao mesmo tempo ver a colocação do nosso implante em todos os ângulos ou em todas as direções”.

 

Sabia que...

O O-arm permite fazer uma aquisição tridimensional da coluna em 13 segundos.

 

Em que operações é usado o O-arm?

“Com o O-arm realizamos essencialmente a cirurgia instrumentada da coluna”, descreve Rui Vaz, “quando temos que fixar a coluna porque há um segmento ou dois segmentos que necessitam de ser fixados, quando fazemos aquilo que tecnicamente chamamos uma artrodese”. O neurocirurgião dá como exemplos a instabilidade das articulações da coluna e a escoliose.

Como o equipamento “tem também indicações em cirurgia cerebral”, outra utilização comum acontece na doença de Parkinson, quando se coloca um elétrodo cerebral para tratar a doença, “porque o resultado da cirurgia depende de uma localização exata do elétrodo. Ou seja, um desvio de um a dois milímetros faz variar completamente o resultado”.

A técnica do O-arm pode ser usada por várias especialidades, “principalmente aquelas que lidam com o osso”, destaca Paulo Pereira, lembrando que “a coluna vertebral é operada pela Neurocirurgia e pela Ortopedia”, sendo estas as principais. “De qualquer forma, este equipamento pode também ser usado noutras áreas que não a coluna vertebral, como por exemplo a Otorrinolaringologia, na cirurgia endonasal, do ouvido e de outras estruturas”, lembra o neurocirurgião, e também noutros campos da Ortopedia, como as intervenções no pé.

Profissionais de saúde posicionam O-arm durante cirurgia

Que outras vantagens tem o O-arm para o doente?

O grande benefício deste equipamento para os doentes “é a precisão, é a segurança, a certeza de que temos implantes bem colocados”, afirma Paulo Pereira, lembrando a “verificação dentro da própria cirurgia”, o que permite que o doente “saia da sala e seja acordado da anestesia com a garantia de que os implantes estão na posição certa”.

Rui Vaz destaca que em termos de tempo das intervenções cirúrgicas não há grandes alterações, pelo que “a grande diferença é a vantagem da segurança”. Graças à minimização do erro e da menor necessidade de novas intervenções, “estamos a falar de reduzir a taxa de infeção, de um possível regresso mais rápido à atividade normal e de um possível menor consumo de fármacos para a dor”.

Publicado a 07/07/2023