Cancro do pâncreas: porque é tão difícil diagnosticar?

Cancro
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A localização "escondida" deste órgão é provavelmente responsável pela ausência de sintomas. Saiba mais sobre esta doença, que é a 6ª causa de morte em Portugal

O cancro do pâncreas é atualmente a sétima causa de morte por cancro em todo o mundo e a quarta nos Estados Unidos e na Europa (a seguir aos cancros do pulmão, colorretal e mama). Em Portugal, no ano de 2020, surgiram 1792 novos casos. A mortalidade foi de 1770 casos (a sexta causa de morte em Portugal).

É um tumor raramente diagnosticado antes dos 55 anos. O pico de incidência nos homens situa-se entre os 65-69 anos de idade. Nas mulheres, tem uma incidência maior entre os 75-79 anos.

 

O cancro pancreático é essencialmente de dois subtipos:

  • Adenocarcinoma pancreático: mais comum (85% dos casos); surge nas glândulas exócrinas do pâncreas
  • Tumor neuroendócrino pancreático: menos de 5% dos casos

 

Fatores de risco do cancro do pâncreas

A causa do cancro do pâncreas é complexa e multifatorial, estando presentes fatores genéticos e não genéticos.

O tabagismo e a história familiar são dominantes, mas existem outros fatores de risco, como:

  • Obesidade
  • Consumo de álcool
  • Diabetes mellitus tipo 2
  • Pancreatite crónica
  • Fibrose quística
  • Neoplasia mucinosa papilar intraductal (IPMN) do pâncreas
  • Neoplasias quísticas mucosas
  • Neoplasias pancreáticas intraepiteliais
  • Alguns síndromes hereditários (como o síndrome hereditário do cancro da mama/ovário; síndrome de Peutz-Jeghers, polipose adenomatosa familiar, síndrome de Lynch, pancreatite hereditária, ataxia telangectasia e síndrome de Li-Fraumeni)

 

Diagnóstico e prevenção do cancro do pâncreas

O pâncreas é um órgão localizado no retroperitoneu - "atrás do estômago". A sua localização relativamente posterior e "escondida" no abdómen é provavelmente responsável pela ausência ou redução de sintomas até fases avançadas da doença.

 

Mais de 50% dos doentes são diagnosticados com doença avançada (estádio IV) já na presença de metástases. As possíveis formas de reverter o diagnóstico tardio e melhorar os resultados dos doentes com cancro do pâncreas será por meio da prevenção (mudança no estilo de vida), maior consciencialização da doença e seus sintomas e rastreio de populações-alvo.

 

O rastreio não é justificável entre a população geral devido à baixa incidência do cancro do pâncreas - o risco individual ao longo da vida é de aproximadamente 1,5%. No entanto, o rastreio pode ser benéfico para pessoas com:

  • História familiar de cancro do pâncreas
  • Doenças crónicas com predisposições genéticas
  • Síndromes hereditários

 

A estratégia de rastreio nos indivíduos de alto risco visa identificar lesões precursoras/lesões pré-invasivas e tumores invasivos precoces. Os exames de imagem aconselhados para o rastreio são:

  • Ressonância magnética colangio-pancreática
  • Ressonância magnética de difusão
  • Ultrassonografia endoscópica (EUS)
  • Tomografia computadorizada (nos casos de pancreatite hereditária)

 

Tratamento cirúrgico do cancro do pâncreas

O objetivo do estadiamento oncológico é delinear a extensão da doença e identificar quais os doentes elegíveis para tratamento cirúrgico com intenção curativa. Estatisticamente, menos de 20% dos novos diagnósticos têm doença com indicação para cirurgia de imediato.

As intervenções cirúrgicas são diferentes, dependendo da localização e extensão do tumor. Os tumores da cabeça do pâncreas requerem cirurgias mais complexas, que ainda apresentam uma alta morbilidade. A cirurgia standard é a cirurgia aberta, mas a laparoscopia ou a cirurgia robótica parecem oferecer resultados oncologicamente semelhantes, com as vantagens da minimização dos efeitos de uma cirurgia convencional.

 

A medicina do futuro, no imediato

O diagnóstico precoce da doença oncológica do pâncreas exigirá melhores biomarcadores que permitam diagnosticar lesões não detetáveis pela imagem. Serão essenciais biomarcadores genéticos, metabólicos e proteicos promissores, além do biomarcador convencional (CA 19-9), e protocolos de imagiologia mais robustos para evitar dois problemas:

  • Sobrediagnóstico de lesões clinicamente não significativas
  • Omissão de lesões precursoras ou cancros do pâncreas iniciais

 

As estratégias de triagem para indivíduos de alto risco apoiadas em novas modalidades de diagnóstico imagiológico, tais como a ressonância magnética específica para pâncreas, serão fundamentais para encontrar um consenso alargado no diagnóstico precoce.

O tratamento do cancro do pâncreas é multimodal e baseado em evidências científicas exercidas nos grupos multidisciplinares de decisão terapêutica. Nos últimos anos, as opções de quimioterapia sistémica, nomeadamente neoadjuvante (antes da cirurgia) têm resgatado muitos doentes considerados potencialmente não indicados para a terapêutica cirúrgica com intenção curativa.

 

A medicina e a ciência avançam todos os dias na procura de formas de diagnosticar e tratar que nos permitam encarar o cancro do pâncreas com maior otimismo.

Publicado a 18/11/2021