Cegueira facial ou prosopagnosia:

A cegueira facial ou prosopagnosia é, de forma simplificada, um distúrbio neurológico que perturba a capacidade de reconhecer rostos, incluindo de pessoas que são próximas, como familiares, colegas de trabalho e amigos. Por vezes, impossibilita até que a pessoa se reconheça a si mesma (ao espelho ou em fotografias) ou que consiga interpretar expressões faciais. Esta alteração neurológica afeta o cérebro, não havendo qualquer problema com a visão em si nem com a memória ou capacidade de aprendizagem.

Sendo assim, como é que quem sofre deste problema reconhece outras pessoas? Através de "pistas" e outras informações como a voz e forma de andar. Contudo, estas estratégias não são tão eficazes quanto o reconhecimento dos rostos em si.

Do grupo das agnosias (em que ocorrem distúrbios na forma como o nosso cérebro processa informação obtida através dos diferentes sentidos), a cegueira facial é frequentemente um problema detetado ao nascer, mas também pode ser adquirida ao longo da vida (por exemplo, em casos de lesões cerebrais). Fique a conhecer melhor este distúrbio que pode ter um grande impacto na qualidade de vida e causar outros problemas como ansiedade.

Tipos de prosopagnosia

Existem dois tipos de prosopagnosia:

• Congénita: quando a pessoa já nasce com o problema, sem que tenha sido causado por alguma lesão cerebral. A maioria das pessoas com prosopagnosia congénita não desenvolveu a capacidade / mecanismos para identificar rostos e, como sempre lidou com esse problema, pode não se aperceber da sua existência. Este tipo de prosopagnosia pode ser genética, uma vez que parecem existir vários casos em algumas famílias. Muitas pessoas com prosopagnosia congénita têm pelo menos um familiar direto (como pais ou irmãos) que também tem dificuldade no reconhecimento de rostos.
• Adquirida: quando a pessoa desenvolve este problema num dado momento da sua vida devido a lesão no cérebro, por exemplo, causada por um acidente vascular cerebral (AVC), demência ou tumor cerebral.

Sabia que...

A prosopagnosia pode associar-se a outros distúrbios do desenvolvimento, entre os quais perturbação do espectro do autismo, síndrome de Williams e síndrome de Turner.

Quais são os sintomas da cegueira facial?

Muitas pessoas já tiveram dificuldade em reconhecer rostos de outros indivíduos, contudo, para quem sofre de prosopagnosia este problema é mais severo e os sintomas em concreto podem variar consoante a forma de prosopagnosia.

De um modo geral, quem tem este distúrbio pode ter dificuldade em perceber se já viu determinado rosto anteriormente e em reconhecer caras de pessoas com quem já se encontrou várias vezes. Em formas mais severas da doença, pode mesmo haver dificuldade em reconhecer o rosto de pessoas com quem passam muito tempo, como o cônjuge ou outros familiares próximos.

Dando um exemplo concreto, quem tem prosopagnosia pode encontrar um amigo próximo no supermercado, perceber que esse amigo o conhece, mas depois não ser capaz de identificar que essa pessoa é o seu amigo.

Uma queixa comum em quem tem cegueira facial é a dificuldade em seguir o enredo de programas de televisão e de filmes, pois não conseguem reconhecer de forma contínua a identidade das personagens.

Outro possível sintoma de prosopagnosia é a dificuldade em imaginar ou recordar o rosto de pessoas conhecidas.

Sabia que...

As pessoas que sofrem de prosopagnosia têm dificuldade em reconhecer rostos, mas reconhecem os nomes das pessoas.

Diagnóstico de prosopagnosia

Podem ser feitos vários testes para avaliar, entre outras, a capacidade de reconhecimento de rostos. Segundo o NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido), estes incluem:

• Observar vários rostos e identificar semelhanças e diferenças entre eles
• Reconhecer rostos de famosos
• Identificar a idade, género e expressões emocionais de vários rostos
• Memorizar um rosto que nunca se tenha visto e, mais tarde, reconhecê-lo

Dentro do mesmo género, podem também ser feitos:

• Testes cognitivos e mentais, que têm como objetivo avaliar se existe algum problema a nível de capacidades mentais, incluindo de raciocínio, concentração e resolução de problemas.
• Testes de memória, para garantir que a dificuldade em reconhecer caras não está relacionada com algum problema de memória.
• Testes de reconhecimento de objetos, para perceber se a pessoa tem mais do que um tipo de agnosia.

Além disso, existem alguns exames que podem ajudar a identificar este distúrbio, como, por exemplo, testes à visão (para excluir problemas visuais), tomografia computorizada (TAC), eletroencefalograma e ressonância magnética.

Quando consultar um médico

Em situações em que a prosopagnosia surge de forma rápida, é importante que a pessoa seja avaliada pelo seu médico assistente, pois esta pode estar associada a problemas como um tumor cerebral. Outro motivo que deve levar à marcação de uma consulta é quando a doença interfere na qualidade de vida da pessoa.

Por outro lado, há situações em que é necessária uma observação mais imediata e que devem motivar a pessoa a dirigir-se a um serviço médico de urgência, como a dificuldade súbita de reconhecer rostos, sobretudo quando está associada a outros sintomas de AVC ou de lesões cerebrais, como:

• Fraqueza, dormência ou paralisia num dos lados do corpo
• Fala arrastada
• Rosto descaído de um dos lados ou perda de visão num dos olhos
• Dificuldade de concentração, de raciocínio e de memória
• Irritabilidade, confusão ou agitação
• Dificuldade em engolir
• Dor de cabeça de surgimento súbito, forte ou que impede a normal realização de tarefas do dia a dia

Impacto da cegueira facial na vida do doente

A prosopagnosia não é perigosa para a saúde, mas pode implicar grande impacto na qualidade de vida, afetando, inclusivamente, a saúde mental.

É comum a cegueira facial dar origem a ansiedade. Isto acontece porque muitas pessoas que sofrem deste distúrbio neurológico sentem tristeza, frustração e vergonha por não conseguirem recordar-se de rostos; podem inclusivamente, sentir receio de parecerem rudes ou desinteressadas quando não conseguem reconhecer os outros, refere o NHS. Além disso, para quem sofre de prosopagnosia pode ser mais difícil iniciar e manter relações e podem também surgir problemas a nível profissional. Este estado de ansiedade pode levá-las a evitar várias situações sociais, a desenvolver ansiedade social e, em alguns casos, pode surgir depressão.

Como tratar a prosopagnosia

Embora não exista ainda um tratamento específico para a cegueira facial, a investigação progride no desenvolvimento de programas que contribuem para que o doente consiga reconhecer melhor os rostos, diminuindo o impacto negativo na qualidade de vida.

Nem todas as pessoas respondem ao tratamento da mesma forma, sendo que há fatores - por exemplo, a idade quando se dá a lesão cerebral (em situações de prosopagnosia adquirida), assim como a sua gravidade e tipo de dano - que podem determinar o quão eficaz este é.

Algumas estratégias de compensação podem contribuir para reconhecer as pessoas - através do som da sua voz, da forma como caminham e do estilo de vestuário - assim como técnicas que têm o intuito de restabelecer os normais mecanismos de reconhecimento facial podem ser úteis para algumas pessoas com prosopagnosia. Contudo, essas estratégias podem não ser eficazes em situações em que se encontram com uma determinada pessoa no contexto diferente do habitual ou quando essa pessoa faz alguma alteração em termos de aparência.

Apesar de não haver uma cura direta para a prosopagnosia, por vezes, o tratamento da sua causa (especificamente na prosopagnosia adquirida) pode ajudar neste problema. Esses tratamentos podem incluir, por exemplo, medicação - antibióticos no caso de infeções ou medicamentos para a demência - e cirurgia - em situações em que a prosopagnosia é causada por um tumor que exerce pressão em determinadas zonas do cérebro e a sua remoção pode melhorar o funcionamento cerebral.

Ainda assim, é importante ter em consideração que são casos pouco comuns e que habitualmente a prosopagnosia é permanente.

Estratégias para lidar com a prosopagnosia

Mesmo em situações em que é possível a recuperação, o médico assistente poderá recomendar a participação em programas de reabilitação que ajudem o doente a adaptar-se e a lidar com o seu problema. Estes podem incluir:

• Treino de perceção: ensina a procurar e memorizar os traços da cara de uma pessoa, assim como a identificá-la através de determinadas características faciais. Também pode ser útil para aprender a identificar expressões faciais.
• Estratégias para lidar com a doença: é um tipo de reabilitação cujo foco é ajudar a identificar a pessoa através da audição e de "pistas" contextuais. Por exemplo, melhorar a capacidade de reconhecer pessoas através da voz pode ajudar a compensar a dificuldade que se tem a reconhecê-las visualmente.