Cancro de Cabeça e Pescoço: a evolução

Da cirurgia convencional à cirurgia minimamente invasiva
Cancro
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A cirurgia é um dos tratamentos deste tipo de cancro e é adaptada ao local e ao tamanho do tumor. Pedro Montalvão, Otorrinolaringologista CUF, explica-lhe tudo.

O Cancro de Cabeça e Pescoço é uma designação utilizada pelos médicos para agrupar um conjunto de cancros que estão presentes na zona da cabeça e do pescoço, tais como, o cancro da laringe, os tumores da orofaringe, os tumores da boca, entre outros.

Mais de 90% destes tumores ocorrem em pessoas acima dos 40 anos, embora a sua incidência esteja a aumentar nos mais jovens.

Infelizmente muitos destes cancros são diagnosticados tardiamente, o que compromete muito o seu prognóstico. Por isso é tão importante o diagnóstico precoce de forma a permitir um tratamento eficaz, nomeadamente a cirurgia. Cirurgia LASER, Cirurgia TOUSS, Cirurgia Endoscópica, Cirurgia do Gânglio Sentinela: são várias as técnicas cirúrgicas que hoje estão disponíveis e que contribuem para um melhor prognóstico e melhor qualidade de vida dos doentes de Cancro de Cabeça e Pescoço.

 

Tumores da Laringe

Na laringe localizam-se as cordas vocais. Os tumores avançados da laringe são tratados através da excisão (remoção) de toda a laringe - laringectomia total -, o que faz com que o paciente tenha de ficar com um orifício no pescoço para conseguir respirar (traqueostoma).

No caso de tumores menos avançados, pode ser possível realizar uma laringectomia parcial, ou seja, retirar parte da laringe, reconstruir e manter as funções da laringe, tais como a respiração e a fala. Nestes casos não é necessário o paciente ficar com a traqueostomia para sempre.

No caso de tumores pequenos, em estádio inicial, é possível realizar cirurgia transoral com Laser CO2. Esta cirurgia é realizada sob anestesia geral. O tumor é retirado por Laser, aplicado através de um tubo que é introduzido até à laringe. É uma cirurgia que tem a vantagem de ser necessário apenas um dia de internamento, enquanto outro tipo de cirurgias, maiores, realizadas através de corte no pescoço, necessitam de um internamento de doze dias.

 

Sintomas

Os tumores pequenos têm uma alta percentagem de cura (95%), enquanto os tumores maiores têm uma percentagem de cura inferior (45-70%). Daí a importância do diagnóstico precoce.

Os sintomas mais frequentes a que deve estar atento podem ser:

  • rouquidão persistente
  • aparecimento de um "caroço" no pescoço
  • dificuldade ou dor a engolir

Se os sintomas não aliviarem em duas a três semanas, deve recorrer a um médico Otorrinolaringologista. Estes sintomas não significam que seja cancro, mas um exame mais cuidadoso pelo seu médico assistente pode ajudar a excluir esta hipótese.

 

Tumores da Orofaringe

A orofaringe é constituída pelas amígdalas palatinas e pela base da língua. Os tumores da orofaringe podem ser tratados por cirurgia. Habitualmente, os tumores maiores necessitam de cirurgias maiores, por incisões cervicais, com maior morbilidade. No caso de tumores mais pequenos surgiu, nos últimos anos, a cirurgia TOUSS (TransOral UltraSonic Surgery).

Esta cirurgia é realizada por via oral, sem necessidade de incisões no pescoço ou nos lábios. É utilizada uma pinça que corta e coagula, de forma a que não haja hemorragia.

O tempo de internamento dos pacientes submetidos a cirurgia TOUSS é cerca de 4 a 5 dias, enquanto os pacientes que realizam as cirurgias maiores podem necessitar de internamentos de 15 ou mais dias.

 

Tumores do nariz e dos seios perinasais

Estes tumores podem ter indicação para serem tratados com cirurgia. A cirurgia nos tumores maiores é realizada por via externa, necessitando de incisões na face, realizadas à volta do nariz, de forma a ficarem disfarçadas. Em certos casos, em tumores mais pequenos, é possível realizar a cirurgia por via das narinas, sob controlo endoscópico. Este tipo de cirurgia tem os mesmos resultados de cura do que a cirurgia convencional, com menos complicações para o doente, e menor tempo de internamento.

 

Sintomas

O diagnóstico precoce dos tumores do nariz e seios perinasais é muito importante, de forma a evitar a extensão do tumor às zonas envolventes: olhos, cérebro, pele. Esteja atento aos sintomas:

  • perdas de sangue
  • obstrução nasal unilateral (em apenas um dos lados)
  • dores

Se não sentir alívio dos sintomas em duas a três semanas, não hesite em recorrer ao seu médico Otorrinolaringologista. Detetar um eventual tumor pequeno pode fazer toda a diferença!

 

Tumores da boca

Os tumores da boca são muito frequentes. Os locais mais frequentes são a língua e o pavimento da boca. Se notar uma ferida na boca que não passa em duas a três semanas, deve recorrer a uma consulta de Otorrinolaringologia ou a uma consulta de Maxilo-Facial para ser observado.

Estes tumores têm indicação para cirurgia logo desde início. O tipo de cirurgia é adaptada ao tamanho do tumor: desde cirurgias por via oral, até outras que necessitam de incisões nos lábios e queixo. Conforme o tamanho do tumor, pode haver necessidade de reconstrução.

 

Cirurgia do Gânglio Sentinela

Os tumores que podem existir nos vários locais da cabeça e pescoço, podem metastizar (ou seja, espalhar-se) nos gânglios do pescoço.

A presença de gânglios metastáticos é o principal fator prognóstico no cancro de cabeça e pescoço. Existem 4 estádios deste tipo de cancro. Quanto maior o estádio, mais avançado está o cancro. Basta haver um gânglio atingido para o estádio passar a ser um estádio III. Se os gânglios forem atingidos, estes têm de ser retirados através de esvaziamentos ganglionares no pescoço.

Muitas vezes não se detetam nos exames (ecografia, tomografia, ressonância magnética) gânglios atingidos, mas o risco de haver metástases ocultas supera os 30%. Quando assim é, o paciente tem necessidade de retirar os gânglios através de um esvaziamento ganglionar do pescoço, que se denomina esvaziamento eletivo. Este procedimento é realizado através de uma incisão grande, o que contribui para a diminuição da qualidade de vida do doente.

Para evitar estas situações, há vários anos que se realiza a Biópsia do Gânglio Sentinela nos tumores da língua e do pavimento da boca. O doente realiza uma linfocintilografia (injeção de produto radioativo) no serviço de Medicina Nuclear, no dia da cirurgia. O objetivo é detetar o primeiro gânglio atingido por células do tumor. Se forem detetadas células malignas nesse gânglio, na cirurgia retira-se o tumor e apenas o primeiro gânglio (sentinela). No caso do gânglio sentinela ser negativo, ou seja, no caso de o exame não detetar células tumorais, evita-se a cirurgia ganglionar maior e retira-se apenas o tumor. Esta técnica só é possível realizar nos tumores da língua ou pavimento da boca mais pequenos - T1 ou T2, sem gânglios afetados (N0).

 

Lembre-se, o prognóstico é melhor nos tumores mais pequenos. Não adie a sua saúde!

Publicado a 27/07/2021