Já ouviu falar de síndrome do impostor?

Cérebro e saúde mental
9 mins leitura

Quem lida com síndrome do impostor não acredita no seu valor, mesmo quando confrontado com provas de que é capaz de executar as diferentes tarefas com sucesso.

Sentir que não se está à altura do trabalho para o qual se foi contratado - e ter receio de que tal possa ser "descoberto" a qualquer momento - ou até que se está apenas "a fingir" que se consegue ser um adulto, com tudo aquilo que isso pode implicar, como comprar uma casa ou cuidar de um filho. Estas duas situações podem estar associadas à síndrome do impostor: o sentimento de que não somos competentes em determinadas áreas ou situações (seja a nível pessoal ou profissional), enquanto as outras pessoas, pelo contrário, têm tudo sob controlo e sabem exatamente o que devem fazer.

Quem lida com a síndrome do impostor não acredita no seu valor, mesmo quando confrontado com provas que demonstram que é capaz de executar as diferentes tarefas com sucesso.

 

O que é a síndrome do impostor?

Documentada pela primeira vez nos anos 1970, a síndrome do impostor não é uma doença, mas sim um padrão de pensamento que nos pode levar a duvidar de nós próprios e a achar que é apenas uma questão de tempo até que os outros descubram que somos uma fraude.

Quem sofre de síndrome do impostor considera-se inferior aos outros e sente que não merece reconhecimento ou elogio por algo que tenha feito por mérito próprio, pois quando se alcança sucesso, isso deve-se apenas à sorte.

Quando as pessoas dão por si presas neste ciclo, podem surgir consequências negativas. Contudo, saber reconhecer o problema e ter as ferramentas para ultrapassá-lo pode ajudá-lo a duvidar menos das suas capacidades.

 

Quem tem síndrome do impostor pode...

  • Acreditar que "enganou" outras pessoas levando-as a pensar que tem mais competências do que aquelas que na realidade tem
  • Achar que o seu sucesso se deve a mera sorte, charme ou outras razões superficiais
  • Pensar que trabalhar de forma excessiva é a única forma de atingir as expectativas
  • Ter medo de ser considerado um falhado
  • Sentir que não merece atenção ou afeto
  • Desvalorizar as suas conquistas

 

Apesar da vontade de prosperar, o medo de ser "descoberto" (por ter muita responsabilidade, cometer um erro, receio da incerteza) pode ser paralisante.

 

Sabia que...

Estudos demonstram que pessoas que são diferentes dos seus pares / semelhantes - como mulheres que seguem carreiras profissionais na área da tecnologia ou até pessoas que são a primeira geração da sua família a estudar na universidade - apresentam maior probabilidade de síndrome do impostor.

 

Em que momentos se pode manifestar

A síndrome do impostor pode manifestar-se em vários momentos e áreas da nossa vida, tais como:

  • No trabalho: a pessoa atribui o seu sucesso à sorte e não às suas competências ou mérito profissional. Isto pode impedi-la de pedir um aumento de ordenado ou uma promoção. Pode também sentir que tem de trabalhar muito mais para conseguir atingir objetivos irrealistas a que ela própria se impôs. Estudos demonstram que quem tem síndrome do impostor tem também maior risco de sofrer de burnout, de ter um desempenho profissional mais baixo e de sentir menor satisfação no trabalho.
  • Na escola: estudantes com síndrome do impostor podem evitar falar ou esclarecer dúvidas durante as aulas com receio de que o professor e os colegas fiquem com a ideia de que eles não conhecem a matéria.
  • Em casa: a dado momento da sua vida os pais sentem-se sem saber o que fazer, incapazes ou até pouco preparados para lidar com a responsabilidade de cuidar de uma criança.
  • Em relacionamentos: algumas pessoas sentem que não merecem o afeto que recebem e têm receio de que os seus companheiros descubram que elas não são assim tão boas quanto eles pensam. Este pensamento leva até algumas pessoas a terminarem uma relação antes que a outra pessoa o possa fazer ("autossabotagem"). Este comportamento pode prejudicar relações, pois a pessoa cria várias barreiras à sua volta por ter medo de ser "desmascarada".

 

Sabia que...

Duvidar de si mesmo pode provocar medo e stress, desencadeando ansiedade e depressão.

 

A síndrome do impostor pode começar na infância

Muitas pessoas com síndrome do impostor cresceram em famílias que valorizam excessivamente o sucesso. Em situações em que os pais tanto elogiavam excessivamente como criticavam, há maior probabilidade de a pessoa se sentir "uma fraude" mais tarde.

Existem dois tipos de comportamentos que as pessoas podem ter para com as crianças e que as pode levar a desenvolver síndrome do impostor. Um consiste em criticar constantemente a criança, levando-a a sentir que não é boa o suficiente nem nunca vai ser. No lado oposto, elogiá-la / louvá-la de forma persistente e generalizada (dizendo, por exemplo, que é a criança mais inteligente do mundo) pode fazer com que a criança sinta que as expectativas em relação a ela são muito elevadas e sentir-se demasiado pressionada para poder corresponder.

 

Que outras causas existem?

Outros fatores que podem contribuir para a síndrome do impostor são a pressão feita em ambientes competitivos, mas os traços de personalidade, como o perfecionismo, também têm um papel relevante.

Além disso, ainda que pareça contraditório, um fracasso após vários eventos de sucesso também pode levar alguém a questionar a sua competência de um modo geral.

 

Perfecionismo e síndrome do impostor

A síndrome do impostor pode afetar toda a gente, homens e mulheres, mas há grupos com maior risco como pessoas que atingem grandes objetivos e que são perfecionistas. A síndrome do impostor e traços de personalidade perfecionistas podem estar fortemente associados, no sentido em que uma pessoa se pode sentir pressionada para dar sempre o seu melhor e, quando não o faz, pode sentir-se incompetente e ansiosa.

 

Como prevenir a síndrome do impostor nas crianças

Para prevenir a síndrome do impostor nos mais pequenos, os pais podem elogiar o seu esforço no desempenho das tarefas e não apenas os bons resultados obtidos e ajudar os filhos a compreender de forma realista quais são os seus pontos fortes e as suas fraquezas.

É importante ter em consideração que erros todos podemos cometer e aceitar que a imperfeição faz parte da vida e permite ultrapassar o medo de falhar e que nos impede de ser bem-sucedidos.

 

Estratégias para ultrapassar a síndrome do impostor

A síndrome do impostor pode prejudicar a nossa capacidade de crescimento, evitando que se busquem novas oportunidades profissionais, nas relações e até nas atividades de lazer. Algumas estratégias que podem ajudar a combater a síndrome do impostor são:

 

1. Informar-se sobre a síndrome do impostor

Deve procurar saber mais sobre a síndrome do impostor e procurar ajuda com profissionais de saúde especializados antes de fazer diagnósticos.

 

2. Aceitar os seus sentimentos, mas focar-se nos factos

Em dado momento da vida, é natural que duvidemos das nossas próprias capacidades. Mas a forma como encaramos este sentimento é importante para que o consigamos ultrapassar.

Só porque temos este tipo de pensamentos em que duvidamos de nós próprios, não significa que eles espelhem a realidade. Então, como pode colocar esta estratégia em prática? Quando a sua mente lhe "disser" que não sabe o que está a fazer, lembre-se de que não só sabe mais do que pensa como também é capaz de aprender.

À medida que for aprendendo a lidar da melhor forma com a síndrome do impostor, esta acabará por interferir cada vez menos no seu bem-estar. Isto não significa que não volte a surgir. A probabilidade de isso acontecer é maior, por exemplo, em momentos de mudança, como a passagem da escola para um estágio, de um estágio para um emprego, e por aí adiante.

 

3. Celebrar os sucessos

Quem sofre de síndrome do impostor tende a desvalorizar os seus sucessos, o que agrava ainda mais o problema. Para contrariar este comportamento, quando alguém lhe faz algum elogio, não "despache" o assunto. Preste atenção à forma como responde e tente falar de forma mais positiva acerca de si mesmo. Interiorize o seu sucesso.

 

4. Fazer uma lista dos seus feitos

É importante refletir e lembrar os nossos sucessos, sobretudo em momentos em que possamos não nos sentir tão capazes de fazer certas coisas. Tome nota e registe-os. Por exemplo, quando o seu chefe lhe enviar um e-mail em que reconhece o seu bom desempenho num determinado projeto ou tarefa, guarde-o. Pode também fazer uma lista de objetivos que alcançou e dos quais se orgulha.

 

5. Ser realista e aceitar que ninguém é perfeito

Não estabeleça objetivos irrealistas para si próprio e compreenda que o trabalho árduo conduz a bons resultados, ainda que estes possam não ser perfeitos. Foque-se nos progressos que vai fazendo e não tanto em atingir a perfeição. Quando não consegue alcançar aquilo que queria, resista ao desejo de o encarar como uma falha. Veja antes os falhanços como uma oportunidade de aprendizagem e de crescimento.

À semelhança dos perfecionistas, quem tem síndrome do impostor coloca frequentemente muita pressão em si mesmo para completar todas as tarefas de forma irrepreensível, receando que qualquer falha possa revelar que não estão à altura do desafio proposto.

Esta pressão excessiva é perpetuada porque quem tem síndrome do impostor acredita que sem disciplina não vai conseguir ter sucesso. Assim, em vez de se felicitarem, apenas se preocupam com a próxima tarefa que vão ter em mãos. Pode ser difícil interromper este ciclo, mas relembrar-se de que ninguém é perfeito e que apenas podemos fazer o nosso melhor pode ajudar.

 

6. Não fazer comparações

Foque-se em medir o valor dos seus próprios feitos pelo que eles são e não em comparação aos de outras pessoas. Por exemplo, nas redes sociais é importante ter em consideração que aquilo que vemos é apenas uma parte do dia dessa pessoa, habitualmente bons momentos, e que não resume toda a sua vida.

 

7. Falar sobre o que sente

Partilhar os nossos sentimentos com outras pessoas pode ajudar a perceber que aquilo que sentimos é normal. Fale com familiares e amigos ou então com um especialista em saúde mental, como um médico ou psicólogo, que o ajudará a reconhecer sentimentos associados à síndrome do impostor e a criar comportamentos que ajudem a ultrapassá-los, não ficando preso no pensamento de "Não consigo fazer isto".

Duvidar de nós mesmos pode ser paralisante, mas saber reconhecer e lidar com esses sentimentos pode ajudar a conseguir quebrar o ciclo da síndrome do impostor.

Fontes:

American Pshychological Association, junho de 2022

Cleveland Clinic, junho de 2022

Psychology Today, junho de 2022

WebMD, junho de 2022

Publicado a 08/07/2022