Cumprir o papel de cuidador de forma saudável

+65
Bebés e crianças
Prevenção e bem-estar
7 mins leitura

A função de cuidador informal é exigente tanto física como mentalmente. Há princípios que devem ser seguidos para evitar stress, depressão e ansiedade.

Muitos cuidadores não pensam em si próprios enquanto tal porque consideram um dever tratar dos seus familiares e entes mais próximos quando estes envelhecem ou quando algum incidente - como um acidente, ou um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo - os deixa incapacitados. No entanto, reconhecer-se como cuidador ajuda aqueles que desempenham esse papel e deixa-os mais atentos aos sinais de que são eles próprios que precisam de ajuda ou de algum tipo de cuidados.

 

Papel do cuidador

O papel do cuidador é imprescindível tanto na vida de idosos ativos, como de pessoas acamadas, de mobilidade condicionada, doentes oncológicos, pessoas com doença mental ou a recuperar de situações incapacitantes como um AVC. O nível de envolvimento do cuidador no dia a dia das pessoas a quem prestam cuidados varia, portanto, com o nível de dependência e com a condição dessa pessoa.

O quotidiano não será portanto igual para todos os cuidadores, embora haja tarefas em que previsivelmente vão estar envolvidos:

  • Necessidades físicas: tarefas do dia a dia, como levantar e deitar na cama, ir à casa de banho, completar a higiene diária e vestir-se, e organizar a casa, preparar refeições, fazer limpezas e tratar da roupa.
  • Necessidades médicas: marcar consultas e acompanhar o paciente, garantir a administração correta dos medicamentos, comunicar à equipa médica que acompanha o paciente eventuais alterações no seu estado físico ou mental e, no caso do paciente ser incapaz de o fazer, tomar decisões sobre o tratamento.
  • Necessidades emocionais e psicológicas: garantir que a pessoa que necessita de cuidados se sente acompanhada, protegida e ligada aos seus familiares e amigos próximos. Além disto, é importante estar atento a sinais que indiquem a necessidade de acompanhamento psicológico, notando sinais de tristeza e alterações do humor.

 

O trabalho de cuidador é física e emocionalmente exigente e há algumas práticas indicadas para desempenhar estas tarefas, mantendo-se saudável não só aquele que precisa dos cuidados, mas também quem cuida. Em todos os momentos e decisões é importante que a pessoa dependente se sinta ouvida e envolvida na tomada de decisões.

 

O ponto de partida: relação próxima com a equipa médica

Mesmo quando a condição da pessoa em causa não requer cuidados médicos ou de enfermagem diários, deve haver uma equipa médica que acompanha o doente ou idoso. A proximidade entre o cuidador e a equipa médica é importante, não só para alertar e questionar sobre eventuais alterações no estado físico ou no comportamento, mas também para estar preparado para desempenhar algumas tarefas e perceber quais são as exigências médicas de cada situação.

 

Conhecer a condição do doente

Se o familiar que necessita de cuidados tem uma doença crónica, oncológica ou rara, é importante manter-se informado sobre as investigações, inovações e conclusões a que a comunidade médica vai chegando. Conhecer a condição de quem se trata é a melhor forma de perceber as suas reações e sintomas, tal como quais são as possibilidades de tratamento.

 

O cuidador também precisa de cuidados

O trabalho diário de cuidador é física e emocionalmente esgotante e é comum que os cuidadores se sintam exaustos, frustrados e sozinhos. Um cuidador pode experienciar sintomas de depressão e ansiedade, de que fazem parte também os sentimentos permanentes de tristeza, flutuações no peso, dormir muitas horas ou não dormir o suficiente, sentir-se facilmente irritado, perder o interesse naquilo que antes o divertia, abusar de álcool, drogas e medicamentos ou ter frequentes dores de cabeça ou musculares.

Há algumas estratégias que devem ser seguidas para lidar com o stress presente na função de cuidador:

  • Pedir ajuda: há tarefas que o cuidador pode pedir a amigos e familiares que completem, como fazer compras, fazer companhia à pessoa que precisa de cuidados por algumas horas ou levá-la a passear. São tarefas em que o cuidador não tem de estar envolvido e que o libertam por algumas horas. Manter-se ligado à família e amigos é ainda fundamental para o apoio emocional do cuidador.
  • Focar-se nos cuidados que é capaz de prestar: os cuidados prestados são sempre uma consequência das decisões que se conseguem fazer num dado momento, não existindo "o cuidador perfeito". É importante relativizar os momentos em que o cuidador não realiza algo como idealizou.
  • Delinear objetivos realistas: dividir as grandes tarefas em outras mais pequenas torna-as menos assoberbantes. É importante perceber as que são prioritárias e aquelas que são demasiado esgotantes.
  • Falar com outros cuidadores: encontrar grupos e associações de cuidadores será bom não só para o apoio em aspetos práticos quotidianos, mas também para partilhar experiências, estratégias e para que o cuidador não se sinta isolado.
  • Delinear objetivos de cuidado pessoal: alguns cuidadores têm dificuldade em estabelecer horários e momentos de descanso pessoais, como horas de sono adequadas. É importante manter um ritmo equilibrado, com momentos para exercício físico e uma alimentação adequada.
  • Consultar um médico: o apoio de um médico ou psicólogo não deve ser descurado. É importante que o cuidador informe os médicos de que é cuidador de alguém dependente para que a sua própria saúde possa ser vigiada.
  • Aceitar o descanso do cuidador: é positivo para o cuidador afastar-se por alguns tempos dos cuidados, para que possa descansar. Quando não existem outros cuidadores que possam assumir esta ocupação por um período pequeno de tempo, há alguns mecanismos da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados que asseguram os cuidados de quem precisa, por alguns dias, aliviando as funções do cuidador. Múltiplas entidades de solidariedade social e de saúde privadas recebem por períodos mais ou menos longos pessoas dependentes para permitir descanso dos cuidadores.

 

Uma rede de apoio é essencial

A pessoa responsável e capaz de prestar cuidados na ausência do cuidador tem de estar identificada para as situações em que o cuidador se terá de ausentar. É, além disto, imprescindível que a pessoa que necessita de cuidados se mantenha ligada ao seu núcleo de amigos e familiares, de forma a não se sentir isolada e sozinha.

 

O espaço doméstico pode ajudar a cuidar

Algumas doenças (como aquelas que condicionam a mobilidade) requerem uma alteração dos espaços domésticos, para que se tornem mais seguros. Fazer alterações em casa pode tornar o espaço doméstico um aliado na prestação de cuidados. Algumas mudanças deste tipo podem incluir remover tapetes, transformar degraus e desníveis em rampas, reduzir as barreiras (móveis, por exemplo) de algumas divisões, adaptar as casas de banho, garantir boa iluminação e uma luz de presença à noite, instalar corrimãos nas paredes e escadas, guardar objetos afiados e químicos.

 

É possível preparar as emergências

De modo simples, é possível reduzir o stress e as complicações que acidentes e emergências médicas podem causar:

  • O cuidador deve manter todos os números de assistência rapidamente acessíveis - quer estejam escritos em notas junto ao telefone fixo, ou em marcação rápida nos telemóveis, igualmente acessíveis à pessoa dependente.
  • O cuidador deve aprender com antecedência a utilizar aparelhos que possam ser usados em caso de emergência, como nebulizadores, inaladores, fornecedores de oxigénio. Os manuais de instruções destas máquinas também devem estar à mão, para resolver prontamente qualquer dúvida.
  • O suporte básico de vida (SBV) é uma competência útil a qualquer cidadão e é, em muitas situações, a diferença entre a vida e a morte.
Fontes:

Agency for Integrated Care, maio de 2022

Asian Women's Wellfare Association, maio de 2022

ePortugal, maio de 2022

Mayo Clinic, maio de 2022

Science Care, maio de 2022

Publicado a 20/09/2022