O que é?

A ciclotimia é um tipo de perturbação do humor rara, contudo, não é fácil estimar com certeza a sua prevalência, pois muitos doentes não são diagnosticados ou recebem um diagnóstico errado, por exemplo, de outro tipo de perturbações de humor, como depressão. É menos grave e com sintomas menos acentuados que a doença bipolar tipo I e tipo II, em que ocorrem oscilações nas emoções do doente, flutuando entre períodos de depressão e de hipomania há pelo menos dois anos (ou um ano no caso de crianças e adolescentes), intercalados ou não por períodos de comportamento normal e habitual (que podem durar mais de um mês). Na maior parte das pessoas, este padrão é irregular e até imprevisível.

Este distúrbio do humor pode ter um impacto negativo na vida do doente, nomeadamente nas relações e até no trabalho.

As pessoas com ciclotomia têm maior risco de vir a desenvolver doença bipolar.

Esta doença é tão comum no sexo feminino como no masculino e habitualmente surge durante a adolescência ou em jovens adultos - em média, aos 25 anos.

Sintomas

Na ciclotimia, o humor flutua entre estados de depressão e de hipomania (semelhante a um episódio de mania, mas de menor gravidade, ocorrendo uma alteração do comportamento, que se apresenta diferente do normal), o que significa que também os sintomas da doença vão variando.

 

Alguns dos sintomas dos estados depressivos incluem:

  • Tristeza
  • Sentir falta de esperança ou um vazio
  • Irritabilidade, sobretudo em crianças e adolescentes
  • Perda de interesse em atividades que outrora eram consideradas fonte de prazer
  • Choro
  • Sentir-se inútil ou culpado
  • Inquietação
  • Fadiga
  • Dificuldades de concentração
  • Pensamentos sobre a morte (no entanto, são mais comuns em quem sofre de distúrbio bipolar I ou II)
  • Alterações a nível de peso
  • Problemas de sono

 

Alguns dos possíveis sintomas de hipomania são:

  • Euforia (felicidade ou bem-estar exagerados)
  • Elevada autoestima
  • Atividade física excessiva
  • Otimismo extremo
  • Falar mais do que o normal
  • Tendência para se distrair facilmente
  • Dificuldade de concentração
  • Menor necessidade de dormir
  • Pensamentos descontrolados
  • Adoção de comportamentos de risco e decisões pouco prudentes
  • Irritabilidade ou agitação
  • Maior impulsividade para atingir objetivos

 

Tanto a depressão como a hipomania podem durar vários dias ou até semanas. Ainda assim, os sintomas depressivos são habitualmente mais frequentes e têm um impacto mais significativo no doente e, por isso, são o que o leva muitas vezes a procurar ajuda.
Perante sintomas de ciclotimia, é importante consultar o médico assistente o mais brevemente possível. Este problema pode não só interferir com o desempenho das normais atividades do dia a dia, como aumentar o risco de vir a sofrer de doença bipolar.

Causas

Não se conhecem ainda as causas específicas da ciclotimia, mas pensa-se que poderá haver alguma influência genética, pois pessoas com esta patologia têm maior probabilidade de ter familiares com doença bipolar e vice-versa. Além disso, pode também ser favorecida por diferenças na forma como o cérebro funciona ou até de fatores ambientais, como experiências traumáticas ou períodos prolongados de stress.

Diagnóstico

São frequentes os casos em que a ciclotimia não chega a ser diagnosticada, o que significa que o doente não recebe tratamento. Isto acontece porque muitas vezes os sintomas são ligeiros ou desvalorizados e muitas pessoas acabam por não recorrer a cuidados de saúde.

Para o diagnóstico de ciclotimia, na consulta, o médico assistente irá recolher a história clínica e familiar, fazer o exame objetivo e, eventualmente, requisitar alguns exames complementares de diagnóstico, sobretudo para excluir outra patologia de causa não psíquica.

A consulta com o médico especialista inclui uma avaliação psicológica sobre os pensamentos, sentimentos e até padrões comportamentais do doente. É também importante fazer um acompanhamento daquilo que o doente sente ao longo do tempo e, por isso, o médico assistente poderá pedir-lhe que faça um relatório diário de como se sente, padrões de sono e rotinas diárias. Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5), da American Psychiatric Association, para o diagnóstico de ciclotimia deve estar presente:

  • Períodos de hipomania e de depressão durante pelo menos dois anos ou um ano no caso de crianças e adolescentes, com estas oscilações de humor a ocorrer pelo menos em metade desse tempo.
  • Períodos de humor estável que habitualmente duram menos de dois meses.
  • Sintomas que têm um impacto significativo em várias áreas da vida da pessoa (social, profissional, entre outras).
  • Sintomas que não cumprem os critérios necessários para um diagnóstico de distúrbio bipolar, depressão major ou outro problema de saúde mental.
  • Sintomatologia não é causada pela toma de algum tipo de substância nem por outro problema de saúde.

Tratamento

O tratamento da ciclotimia pode envolver várias estratégias, como medicação (por exemplo, os medicamentos que são utilizados na doença bipolar, pois não existem fármacos específicos para a ciclotimia) e psicoterapia (como terapia cognitivo-comportamental), sempre com acompanhamento do médico assistente especialista em saúde mental. Estas medidas podem ajudar a evitar as flutuações de humor.

O objetivo do tratamento da ciclotimia inclui diminuir o risco de evolução para doença bipolar, reduzir a frequência e severidade dos sintomas, prevenir recaídas e, eventualmente, tratar problemas de consumo de álcool ou de outras substâncias que possam agravar os sintomas.

Além do tratamento prescrito pelo médico assistente, há estratégias que o doente deve adotar para o controlo da ciclotimia:

  • Manter a medicação prescrita com rigor de horários e doses, mesmo que se sinta bem.
  • Estar atento a sinais de alarme (a atuação precoce pode ajudar a evitar que os sintomas progridam).
  • Não consumir álcool nem drogas.
  • Aconselhar-se junto do médico assistente antes de iniciar a toma de outros medicamentos, que podem interferir com a medicação.
  • Manter um diário de registo de alterações de humor, rotinas e outros acontecimentos considerados significativos - esta medida vai permitir ao doente e ao médico assistente perceber os efeitos do tratamento, assim como identificar padrões de pensamentos e comportamentos associados aos sintomas.
  • Conhecer a doença e as suas possíveis complicações e partilhar essas informações com familiares e amigos.
  • Frequentar um grupo de apoio - o médico assistente poderá dar ao doente algumas sugestões.
  • Praticar exercício físico regularmente - ajuda a manter o humor estável e leva à libertação de neuroquímicos que promovem a sensação de bem-estar (endorfinas).
  • Dormir o número adequado de horas - o sono tem um impacto significativo no humor.
  • Implementar técnicas de relaxamento e de gestão do stress, como meditação ou ioga.

Prevenção

O tratamento precoce desta doença pode ajudar a evitar o seu agravamento.

Fontes:

American Psychiatric Association, outubro de 2021

Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, março de 2022

Mayo Clinic, outubro de 2021

National Health Service, outubro de 2022

WebMD, outubro de 2021

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