Stress crónico: síndrome de burnout

Cérebro e saúde mental
Prevenção e bem-estar
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"Não aguento mais!" ou "Atingi o meu limite!" podem ser os desabafos de quem sofre da chamada Síndrome de Burnout. Confira os sinais de alarme.

A Síndrome de Burnout é uma entidade que pode surgir como resposta à exposição a um stress laboral crónico, perante o qual a pessoa sente que não tem estratégias adaptativas para lidar.

A definição deste conceito tem vindo a sofrer transformações, sendo, no entanto, consensual que é "uma resposta prolongada a stressores físicos e emocionais crónicos que culminam em exaustão e sentimentos de ineficácia" (Maslach et al., 2001), ou "uma resposta à pressão emocional crónica resultante do envolvimento intenso com outras pessoas no meio laboral" (Teixeira, 2002).

Apesar de poder ser desencadeada em qualquer tipo de atividade profissional, verifica-se uma maior predisposição para esta síndrome em profissionais de ajuda ou que impliquem o contato diário com pessoas a quem prestem determinado serviço (profissionais de saúde, professores, serviço social, entre outros), dada a elevada responsabilidade e exigência profissional e o maior envolvimento emocional.

 

Quais os níveis de gravidade?

De acordo com alguns autores a síndrome de Burnout pode ter três etapas de evolução:

  1. Exaustão emocional - sensação de sobrecarga e desgaste, de exaustão física e emocional. Perceção de falta de energia para levar a cabo as atividades profissionais (e pessoais). O trabalho passa a ser visto como algo penoso e doloroso.
  2. Despersonalização/ desumanização - assumir de uma atitude mais distanciada na prestação de cuidados. Contactos mais impessoais e sem afetividade e pouco empáticos e humanizados com o outro. Barreiras cognitivas e emocionais em relação ao trabalho, àqueles a quem se presta serviços, aos colegas, aos superiores e à instituição.
  3. Baixa realização profissional - sensação de descontentamento e desmotivação com o trabalho, que conduzem à perceção de perda de sentido e interesse e consequente sensação de que o trabalho se tornou "um fardo". Como resultado, o investimento é cada vez menor, a sensação de realização profissional também e a eficácia fica muitas vezes comprometida.

 

7 tipos de sinais de stress crónico

  1. Problemas físicos: problemas gastrointestinais, taquicardia, sensação de falta de ar, tonturas, sudorese, tensão arterial elevada, problemas cardiovasculares, enxaquecas, fadiga profunda e crónica, dores e tensão muscular, alterações do sono (sobretudo insónia) e do apetite, fragilização da resposta imunitária.
  2. Problemas emocionais: tristeza, apatia, anedonia, alienação, frustração, raiva/ revolta, tédio, desesperança, perda do orgulho e do sentimento de pertença, sensação de injustiça e falta de recompensa, irritabilidade, ansiedade, depressão, baixa autoestima, despersonalização.
  3. Problemas cognitivos: problemas de concentração e atenção, queixas mnésicas, confusão, maior lentificação na realização de tarefas, menor criatividade, pensamentos persistentes acerca do trabalho (ruminações), hipervigilância e necessidade de controlo.
  4. Problemas comportamentais: comunicação impessoal, atitude crítica, evitamento, impulsividade, reatividade, agressividade, abuso ou aumento do consumo de substâncias (tabaco, álcool, drogas, medicação), automedicação.
  5. Problemas sociais: isolamento, relações distanciadas ou com menor envolvimento e empatia, maior sarcasmo ou cinismo nas relações, problemas de relacionamento familiar ou menor convívio com amigos.
  6. Problemas existenciais: conflitos de valores e crenças, necessidade de redefinir a vida e as prioridades pessoais, raiva e revolta dirigidas à vida, alteração da visão que se tinha do ser humano.
  7. Problemas laborais: atrasos, absentismo, baixas médicas, turnover, maior número de erros no trabalho, menor tempo na prestação de serviços e menos cuidada, baixa realização profissional, vontade de desistir do trabalho, menor produtividade e eficácia profissional.

 

Número de pessoas afetadas pela Síndrome de Burnout

Segundo dados de 2016 da Associação de Psicologia da Saúde Ocupacional, 17,3% dos trabalhadores portugueses estão em burnout. Este número tem vindo sempre a aumentar: em 2008 eram 9%; em 2013 eram 15%. 

  • Mais de 87% dos trabalhadores portugueses não se sentem recompensados na sua atividade profissional. Em 2013, eram 73%
  • Cerca de 86% relatam situações de stress no trabalho, muito mais do que em 2013 (62%)
  • Entre 2011 e 2013, 21,6% dos profissionais de saúde portugueses apresentaram burnout moderado e 47,8% burnout elevado
  • Metade dos professores sofre de burnout, revela um estudo realizado por investigadoras do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA)
Publicado a 28/05/2019